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GUERRA SEM LIMITES
Plano militar secreto inclui expansão do raio de ação e envio de tropas de elite para embaixadas, diz o "Post"
EUA ampliam conceito de guerra ao terror
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Os EUA ampliaram seu conceito de "guerra ao terror" em um
grande plano militar secreto recém-aprovado pelo secretário da
Defesa norte-americano, Donald
Rumsfeld. Os três pontos principais são um aumento substancial
do papel das Forças Armadas, especialmente das tropas de elite do
Comando de Operações Especiais
(Socom, na sigla em inglês), em
detrimento da CIA e do Departamento de Estado; a ampliação do
raio de ação do país para além dos
palcos atuais de guerra (Iraque e
Afeganistão); e um maior "aparelhamento" das embaixadas por
essas tropas de elite.
Os detalhes do plano foram revelados em reportagem de ontem
do jornal "Washington Post".
Uma das medidas já tomadas foi
enviar pequenos times do Socom,
às vezes em duplas, principalmente membros dos Boinas Verdes, da Força Delta e dos Seal, para embaixadas em cerca de 20 países do Oriente Médio, da África e
da América Latina. São chamados
internamente de "Military Liaison Element" (MLE).
Entre os locais de destino da
América Latina está incluído o
Brasil, segundo disse à Folha um
funcionário do Socom. Numa
troca de telefonemas, a região da
Tríplice Fronteira (Brasil, Argentina e Paraguai) foi citada como
uma zona "familiar" às ações, pela
suspeita de que a Al Qaeda e outros grupos terroristas radicais islâmicos lá operem, seja como esconderijo de pessoal, seja com lavagem de dinheiro.
Em seguida à conversa, Kenneth McGraw, porta-voz do comando, enviou um e-mail em que
afirma que "é política do Socom
não comentar operações eventuais, futuras ou em andamento".
Já o porta-voz de plantão do Departamento da Defesa, também
procurado pela Folha, preferiu
não comentar o plano nem a participação do Brasil. Em Brasília, a
Embaixada dos EUA não atendeu
aos telefonemas.
Antes, porém, por ocasião da
prisão de dois MLE acusados de
assassinato no Paraguai no começo do ano, o próprio McGraw havia dito: "Os MLE têm um papel
militar fundamental e na interação de coordenação e planejamento das agências americanas
com as nações estrangeiras".
"Modernização"
Entre as ações nas quais os pequenos times de tropas especiais
já estão engajados nos países, segundo revelou o "Post", está o
acúmulo de informações táticas e
o planejamento de eventuais
ações militares para aumentar a
habilidade de os EUA conduzirem operações em países com os
quais não está em guerra ou conflito direto.
O plano faz parte do objetivo
declarado de Donald Rumsfeld de
modernizar as Forças Armadas
norte-americanas e é um dos motivos, segundo o próprio secretário, da grita recente que fizeram
seis generais da reserva, que vieram a público criticar o desempenho de seu superior hierárquico e
civil no período pós-invasão do
Iraque. Os militares vêm negando
tal relação.
Além de alienar agências e órgãos tradicionalmente envolvidos
nesse tipo de operação, como a
CIA, a agência de inteligência
norte-americana, e o Departamento de Estado, cuja titular é
Condoleezza Rice, o plano vem
causando polêmica entre o corpo
diplomático. Enviar membros de
tropas especiais ao exterior não é
novidade na história dos EUA.
Antes, porém, os militares tinham
de obter a autorização do embaixador do país em que a ação seria
conduzida. Agora, devem apenas
informá-lo.
Com a publicação dos detalhes,
fica confirmado o papel fundamental do Socom na chamada
"guerra ao terror", conforme
imaginado por Rumsfeld. Liderada pelo general Doug Brown, a
agência teve seu orçamento aumentado em 60% desde 2003,
com previsão de US$ 8 bilhões em
2007, e o número de funcionários
pulou de 40 mil para 53 mil. Destes, 7.000 estão em algum lugar do
planeta que não os EUA.
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