São Paulo, quinta-feira, 24 de abril de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Chávez vê plano contra Brasil em Bolívia "desestabilizada"

Declaração foi feita em cúpula de emergência da Alba para apoiar Morales

Grupo denuncia "tentativa separatista" no país andino; ameaça ao Brasil seria crise gerada por falta de gás, que também atingiria Argentina

Juan Barreto/France Presse
Morales (à esq.) conversa com Chávez durante cúpula da Alba

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

Uma cúpula de emergência dos países da Alba (Alternativa Bolivariana para os Povos de Nossa América) e duras declarações do presidente venezuelano, Hugo Chávez, acirraram ainda mais a crise política entre o presidente Evo Morales e a oposição boliviana, que planeja realizar daqui a dez dias um referendo no departamento de Santa Cruz para obter autonomia do governo federal.
"[Decidimos] nos somar à denúncia internacional contra a tentativa separatista que se forja contra a Bolívia por meio de um suposto referendo convocado em franca violação da Constituição e das leis bolivianas", diz a nota lida pelo vice-presidente cubano, Carlos Lage, durante a cúpula, realizada pela manhã no Palácio Miraflores, em Caracas.
A reunião da Alba foi anunciada apenas anteontem à tarde e, além de Chávez, Morales e Lage, contou com o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega. Além do apoio à Bolívia, os quatro países aprovaram a criação de um fundo de US$ 100 milhões para combater a alta do preço dos alimentos.
Em sua intervenção, Chávez disse ter advertido o colega brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, de que, "se o império desestabiliza a Bolívia, é um plano contra o Brasil".
Segundo o venezuelano, caso a Bolívia seja desestabilizada, "o mais provável é que o [envio de] gás seja paralisado, e o Brasil entraria em crise. Crise econômica, energética, social e política. E o mesmo poderia acontecer com a Argentina", disse Chávez, sobre os dois países que importam o combustível boliviano. De acordo com fontes diplomáticas brasileiras, não houve telefonemas recentes entre os dois presidentes -a última conversa ocorreu durante a visita de Chávez a Recife, no fim do mês passado.
Chávez comparou ainda a situação da Bolívia à independência de Kosovo e disse que "atrás da máscara da autonomia está o plano separatista para criar um novo Estado".
Também ontem, o governo venezuelano divulgou abaixo-assinado com cerca 200 nomes da esquerda em apoio a Morales. Participaram o arquiteto Oscar Niemeyer, o líder sem-terra João Pedro Stédile e Frei Betto, entre outros brasileiros.
A reação da oposição cruzenha veio por meio do empresário Branko Marinkovic, presidente do Comitê Pró-Santa Cruz, que reúne a elite econômica do departamento mais rico da Bolívia. Ele classificou as declarações como "ingerência" e acusou Chávez de planejar uma intervenção militar.
"O referendo de 4 de maio é dos bolivianos, não é de Chávez, nem de Castro nem da OEA, nem da ONU", disse.
A consulta de 4 de maio foi uma resposta à Constituição aprovada pelas forças governistas no ano passado, que a oposição não reconhece.
O texto do estatuto autonômico foi redigido por membros da oposição local, escolhidos sem eleição. O pleito está sendo organizado pela Corte Departamental Eleitoral, cuja competência para organizar um referendo não é reconhecida pela Corte Nacional Eleitoral.


Texto Anterior: Uribe revela que é investigado por massacre
Próximo Texto: Recurso a aliado venezuelano mostra que Morales já não acredita em diálogo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.