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Chávez vê plano contra Brasil em Bolívia "desestabilizada"
Declaração foi feita em cúpula de emergência da Alba para apoiar Morales
Grupo denuncia "tentativa separatista" no país andino; ameaça ao Brasil seria crise gerada por falta de gás, que também atingiria Argentina
Juan Barreto/France Presse
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Morales (à esq.) conversa com Chávez durante cúpula da Alba
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
Uma cúpula de emergência
dos países da Alba (Alternativa
Bolivariana para os Povos de
Nossa América) e duras declarações do presidente venezuelano, Hugo Chávez, acirraram
ainda mais a crise política entre
o presidente Evo Morales e a
oposição boliviana, que planeja
realizar daqui a dez dias um referendo no departamento de
Santa Cruz para obter autonomia do governo federal.
"[Decidimos] nos somar à denúncia internacional contra a
tentativa separatista que se forja contra a Bolívia por meio de
um suposto referendo convocado em franca violação da
Constituição e das leis bolivianas", diz a nota lida pelo vice-presidente cubano, Carlos Lage, durante a cúpula, realizada
pela manhã no Palácio Miraflores, em Caracas.
A reunião da Alba foi anunciada apenas anteontem à tarde
e, além de Chávez, Morales e
Lage, contou com o presidente
da Nicarágua, Daniel Ortega.
Além do apoio à Bolívia, os quatro países aprovaram a criação
de um fundo de US$ 100 milhões para combater a alta do
preço dos alimentos.
Em sua intervenção, Chávez
disse ter advertido o colega brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, de que, "se o império desestabiliza a Bolívia, é um plano
contra o Brasil".
Segundo o venezuelano, caso
a Bolívia seja desestabilizada,
"o mais provável é que o [envio
de] gás seja paralisado, e o Brasil entraria em crise. Crise econômica, energética, social e política. E o mesmo poderia acontecer com a Argentina", disse
Chávez, sobre os dois países
que importam o combustível
boliviano. De acordo com fontes diplomáticas brasileiras,
não houve telefonemas recentes entre os dois presidentes
-a última conversa ocorreu
durante a visita de Chávez a Recife, no fim do mês passado.
Chávez comparou ainda a situação da Bolívia à independência de Kosovo e disse que
"atrás da máscara da autonomia está o plano separatista para criar um novo Estado".
Também ontem, o governo
venezuelano divulgou abaixo-assinado com cerca 200 nomes
da esquerda em apoio a Morales. Participaram o arquiteto
Oscar Niemeyer, o líder sem-terra João Pedro Stédile e Frei
Betto, entre outros brasileiros.
A reação da oposição cruzenha veio por meio do empresário Branko Marinkovic, presidente do Comitê Pró-Santa
Cruz, que reúne a elite econômica do departamento mais rico da Bolívia. Ele classificou as
declarações como "ingerência"
e acusou Chávez de planejar
uma intervenção militar.
"O referendo de 4 de maio é
dos bolivianos, não é de Chávez, nem de Castro nem da
OEA, nem da ONU", disse.
A consulta de 4 de maio foi
uma resposta à Constituição
aprovada pelas forças governistas no ano passado, que a oposição não reconhece.
O texto do estatuto autonômico foi redigido por membros
da oposição local, escolhidos
sem eleição. O pleito está sendo
organizado pela Corte Departamental Eleitoral, cuja competência para organizar um referendo não é reconhecida pela
Corte Nacional Eleitoral.
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