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Avanço do Taleban ameaça Paquistão
Radicais atacam militares e buscam apoio político após tomar área próxima a Islamabad; crescente presença do grupo alarma os EUA
Otan descarta ação contra insurgentes no Paquistão; extremistas promovem assembleia para tentar conquistar apoio de locais
Tariq Mohamood/France Presse
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Paquistanês abandona Buner, região vizinha a Islamabad, expulso pelo avanço do Taleban
DA REDAÇÃO
Forças paquistanesas foram
atacadas ao chegar a uma área
tomada pelo Taleban, a 100 km
da capital, Islamabad. Enviada
ontem ao distrito de Buner, a
tropa foi recebida a bala. Um
policial que escoltava o grupo
morreu. Com quatro batalhões,
cada um com 40 homens, a resposta militar paquistanesa foi
pífia para deter os radicais, antes restritos às regiões tribais
na fronteira com o Afeganistão.
"As notícias sobre os acontecimentos dos últimos dias são
muito preocupantes", disse a
secretária de Estado americana, Hillary Clinton. O Taleban
assumiu o domínio de Buner e
estabeleceu anteontem postos
de controle na área, importante
para o acesso às principais cidades do cinturão tribal paquistanês, por onde passam mais de
70% dos suprimentos das tropas ocidentais no Afeganistão.
A Otan (aliança militar ocidental) descartou ações contra
radicais em território paquistanês. "O mandado de nossos soldados termina na fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão", disse o secretário-geral da
Otan, Jaap de Hoop-Scheffer.
Ataques aéreos dos EUA ao
lado paquistanês da fronteira
são comuns -parte do contingente americano, que deve chegar a 60 mil homens até o final
do semestre, não atua sob a
bandeira da Otan. Impopulares, os bombardeios contribuem para desestabilizar o governo aliado em Islamabad.
Taleban no comando
O Taleban organizou ontem
uma assembleia com líderes
tribais em Buner, em busca de
apoio. Um dia após tomar o
controle das principais vilas do
distrito, dirigentes do Taleban
acenaram com perdão aos moradores que mataram membros do grupo em combates e
prometeram não interferir na
administração local.
A conquista de Buner, vizinho ao vale do Swat, consolida
o avanço dos extremistas em
direção à capital paquistanesa.
As colinas de Buner levam à
planície por onde passa a rodovia que liga Islamabad a Peshawar, maior cidade da volátil região fronteiriça.
A presença do Estado em Buner é mínima. Os soldados no
vale do Swat estão aquartelados desde o acordo entre chefes
tribais e o governo federal, que
permitiu a imposição da sharia
(lei islâmica) na região.
O cessar-fogo no Swat, em fevereiro, foi recebido com ressalvas pelos EUA, que temem
que a área seja usada como base
por insurgentes. A estratégia
conciliatória local não destoa,
porém, do plano de Barack
Obama para o Afeganistão.
A estratégia vê a presença de
radicais no Afeganistão e no
Paquistão como problema único e defende negociar com setores "moderados" do Taleban,
incorporar o grupo ao processo
político e dar incentivos a combatentes dispostos a desertar.
Prevê ainda aumentar a ajuda
não militar ao Paquistão.
Um dia após fustigar o governo paquistanês pelo acordo no
Swat, Hillary abrandou as críticas e disse que o país "está cada
vez mais ciente" do perigo representado pela insurgência.
Ela reiterou, porém, a preocupação com a deterioração da segurança e exortou Islamabad a
mover tropas da fronteira com
a Índia -rival histórica e, como
o Paquistão, detentora da bomba nuclear- para a zona tribal.
Entusiasta do plano de Obama, que prevê US$ 1,5 bilhão
anual em auxílio não militar ao
país, o governo paquistanês
reagiu com moderação às criticas. "O acordo de Swat é uma
solução local para um problema local. Sua implementação
trará paz àquela área", disse o
porta-voz da Chancelaria, negando que Islamabad tenha se
rendido a extremistas.
A chefe da diplomacia dos
EUA pediu ontem ao Congresso US$ 497 milhões adicionais
para ajuda ao Paquistão.
Com "New York Times" e agências internacionais
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