São Paulo, sexta-feira, 24 de abril de 2009

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Avanço do Taleban ameaça Paquistão

Radicais atacam militares e buscam apoio político após tomar área próxima a Islamabad; crescente presença do grupo alarma os EUA

Otan descarta ação contra insurgentes no Paquistão; extremistas promovem assembleia para tentar conquistar apoio de locais

Tariq Mohamood/France Presse
Paquistanês abandona Buner, região vizinha a Islamabad, expulso pelo avanço do Taleban

DA REDAÇÃO

Forças paquistanesas foram atacadas ao chegar a uma área tomada pelo Taleban, a 100 km da capital, Islamabad. Enviada ontem ao distrito de Buner, a tropa foi recebida a bala. Um policial que escoltava o grupo morreu. Com quatro batalhões, cada um com 40 homens, a resposta militar paquistanesa foi pífia para deter os radicais, antes restritos às regiões tribais na fronteira com o Afeganistão.
"As notícias sobre os acontecimentos dos últimos dias são muito preocupantes", disse a secretária de Estado americana, Hillary Clinton. O Taleban assumiu o domínio de Buner e estabeleceu anteontem postos de controle na área, importante para o acesso às principais cidades do cinturão tribal paquistanês, por onde passam mais de 70% dos suprimentos das tropas ocidentais no Afeganistão.
A Otan (aliança militar ocidental) descartou ações contra radicais em território paquistanês. "O mandado de nossos soldados termina na fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão", disse o secretário-geral da Otan, Jaap de Hoop-Scheffer.
Ataques aéreos dos EUA ao lado paquistanês da fronteira são comuns -parte do contingente americano, que deve chegar a 60 mil homens até o final do semestre, não atua sob a bandeira da Otan. Impopulares, os bombardeios contribuem para desestabilizar o governo aliado em Islamabad.

Taleban no comando
O Taleban organizou ontem uma assembleia com líderes tribais em Buner, em busca de apoio. Um dia após tomar o controle das principais vilas do distrito, dirigentes do Taleban acenaram com perdão aos moradores que mataram membros do grupo em combates e prometeram não interferir na administração local.
A conquista de Buner, vizinho ao vale do Swat, consolida o avanço dos extremistas em direção à capital paquistanesa. As colinas de Buner levam à planície por onde passa a rodovia que liga Islamabad a Peshawar, maior cidade da volátil região fronteiriça.
A presença do Estado em Buner é mínima. Os soldados no vale do Swat estão aquartelados desde o acordo entre chefes tribais e o governo federal, que permitiu a imposição da sharia (lei islâmica) na região.
O cessar-fogo no Swat, em fevereiro, foi recebido com ressalvas pelos EUA, que temem que a área seja usada como base por insurgentes. A estratégia conciliatória local não destoa, porém, do plano de Barack Obama para o Afeganistão.
A estratégia vê a presença de radicais no Afeganistão e no Paquistão como problema único e defende negociar com setores "moderados" do Taleban, incorporar o grupo ao processo político e dar incentivos a combatentes dispostos a desertar. Prevê ainda aumentar a ajuda não militar ao Paquistão.
Um dia após fustigar o governo paquistanês pelo acordo no Swat, Hillary abrandou as críticas e disse que o país "está cada vez mais ciente" do perigo representado pela insurgência. Ela reiterou, porém, a preocupação com a deterioração da segurança e exortou Islamabad a mover tropas da fronteira com a Índia -rival histórica e, como o Paquistão, detentora da bomba nuclear- para a zona tribal.
Entusiasta do plano de Obama, que prevê US$ 1,5 bilhão anual em auxílio não militar ao país, o governo paquistanês reagiu com moderação às criticas. "O acordo de Swat é uma solução local para um problema local. Sua implementação trará paz àquela área", disse o porta-voz da Chancelaria, negando que Islamabad tenha se rendido a extremistas.
A chefe da diplomacia dos EUA pediu ontem ao Congresso US$ 497 milhões adicionais para ajuda ao Paquistão.


Com "New York Times" e agências internacionais

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