São Paulo, sexta-feira, 24 de abril de 2009

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Crise por "complô" contra Morales se internacionaliza

Hungria diz que cidadão do país detido em La Paz apanhou da polícia e ameaça acionar tribunal de direitos humanos

Em entrevista meses antes de ser morto, suspeito disse que formaria milícia armada em Santa Cruz; fala joga pressão sobre opositores

DA REDAÇÃO

O enredo rocambolesco sobre a suposta conspiração de "mercenários" estrangeiros contra o presidente boliviano, Evo Morales, somou mais dois lances ontem. Por um lado, o governo húngaro ameaça processar La Paz por suposto maus tratos sofridos por cidadão do país, um dos dois estrangeiros detidos há oito dias sob acusação de integrar o complô.
Por outro lado, o governo conseguiu jogar alguma pressão sobre opositores do departamento de Santa Cruz, bastião rico no leste do país.
Os dirigentes cruzenhos, que exigem autonomia administrativa e ironizavam a investigação, foram constrangidos por uma entrevista dada em setembro pelo croata-húngaro-boliviano Eduardo Rózsa Flores, morto pela polícia no dia 16 de abril. Nela, Rózsa anunciava que havia sido "convocado" a organizar uma milícia separatista armada na região.
Segundo a polícia, além dele, morreram durante enfrentamento em um hotel da cidade de Santa Cruz um cidadão irlandês e um romeno, que estariam ligados à apreensão de explosivos e armas em uma empresa de telefonia cruzenha.
Ontem, o embaixador da Hungria em Buenos Aires, Matyas Jozsa, chegou a La Paz para prestar ajuda consular a Elöd Toaso, 29, e disse que o detido apanhou da polícia. Também questionou a versão de que houve tiroteio entre polícia e acusados -especialistas e a oposição falam que não há sinais de que houve confronto.
"Esse senhor está longe de ser terrorista. É um jovem que cometeu erros", disse o embaixador. "Creio que lhe ofereceram dinheiro, que ele não sabia o que ia se materializar. [...] Até os piores matadores têm direito de defesa", continuou.
A Hungria contratou um escritório de advocacia na Bolívia que promete levar o caso à Comissão Inter-Americana de Direitos Humanos, ligada à OEA (Organização dos Estados Americanos). Irlanda e Croácia também cobram explicações de La Paz.

Pressão e trapalhadas
Se antes o governador cruzenho, Rubén Costas, chamava o suposto complô de "montagem", agora ele e outros oposicionistas pedem investigação transparente e internacional.
Santa Cruz tem um histórico movimento por autonomia e fez vários locautes e bloqueios de vias contra o governo, numa tensão que chegou ao máximo em setembro, quando La Paz acusou os opositores de golpismo. São conhecidos os laços do movimento, tácitos ou não, com grupos separatistas.
"Passarei do Brasil à Bolívia e começarei a organizar uma milícia. Se o governo não permitir a autonomia de Santa Cruz, Santa Cruz está disposta a se separar da Bolívia. Os organizadores proverão financiamento e as armas, que serão obtidas à margem da lei. Virão do Brasil provavelmente", disse Rózsa Flores à TV estatal húngara.
Rózsa Flores, conhecido veterano da guerra de independência da Croácia, nos anos 90, mencionou que integraria as forças de segurança então recém-criadas pelos cruzenhos, à revelia de La Paz.
Um dos principais líderes oposicionistas de Santa Cruz, o empresário croata-boliviano Branko Marinkovic negou enfaticamente ter elo com o caso.
O aparecimento da entrevista deu algum apoio às teses da polícia boliviana e do governo, não raras vezes contraditórias entre si. Mas, em mais uma trapalhada, o governo divulgou uma foto de suspeitos em um treinamento militar. Os fotografados vierem a público dizer que participavam de um jogo que simula estratégia com armas falsas, o airsoft.


Com agências internacionais


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