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Crise por "complô" contra Morales se internacionaliza
Hungria diz que cidadão do país detido em La Paz apanhou da polícia e ameaça acionar tribunal de direitos humanos
Em entrevista meses antes de ser morto, suspeito disse
que formaria milícia armada em Santa Cruz; fala joga
pressão sobre opositores
DA REDAÇÃO
O enredo rocambolesco sobre a suposta conspiração de
"mercenários" estrangeiros
contra o presidente boliviano,
Evo Morales, somou mais dois
lances ontem. Por um lado, o
governo húngaro ameaça processar La Paz por suposto maus
tratos sofridos por cidadão do
país, um dos dois estrangeiros
detidos há oito dias sob acusação de integrar o complô.
Por outro lado, o governo
conseguiu jogar alguma pressão sobre opositores do departamento de Santa Cruz, bastião
rico no leste do país.
Os dirigentes cruzenhos, que
exigem autonomia administrativa e ironizavam a investigação, foram constrangidos por
uma entrevista dada em setembro pelo croata-húngaro-boliviano Eduardo Rózsa Flores,
morto pela polícia no dia 16 de
abril. Nela, Rózsa anunciava
que havia sido "convocado" a
organizar uma milícia separatista armada na região.
Segundo a polícia, além dele,
morreram durante enfrentamento em um hotel da cidade
de Santa Cruz um cidadão irlandês e um romeno, que estariam ligados à apreensão de explosivos e armas em uma empresa de telefonia cruzenha.
Ontem, o embaixador da
Hungria em Buenos Aires,
Matyas Jozsa, chegou a La Paz
para prestar ajuda consular a
Elöd Toaso, 29, e disse que o detido apanhou da polícia. Também questionou a versão de
que houve tiroteio entre polícia
e acusados -especialistas e a
oposição falam que não há sinais de que houve confronto.
"Esse senhor está longe de
ser terrorista. É um jovem que
cometeu erros", disse o embaixador. "Creio que lhe ofereceram dinheiro, que ele não sabia
o que ia se materializar. [...] Até
os piores matadores têm direito de defesa", continuou.
A Hungria contratou um escritório de advocacia na Bolívia
que promete levar o caso à Comissão Inter-Americana de Direitos Humanos, ligada à OEA
(Organização dos Estados
Americanos). Irlanda e Croácia
também cobram explicações de
La Paz.
Pressão e trapalhadas
Se antes o governador cruzenho, Rubén Costas, chamava o
suposto complô de "montagem", agora ele e outros oposicionistas pedem investigação
transparente e internacional.
Santa Cruz tem um histórico
movimento por autonomia e
fez vários locautes e bloqueios
de vias contra o governo, numa
tensão que chegou ao máximo
em setembro, quando La Paz
acusou os opositores de golpismo. São conhecidos os laços do
movimento, tácitos ou não,
com grupos separatistas.
"Passarei do Brasil à Bolívia e
começarei a organizar uma milícia. Se o governo não permitir
a autonomia de Santa Cruz,
Santa Cruz está disposta a se
separar da Bolívia. Os organizadores proverão financiamento
e as armas, que serão obtidas à
margem da lei. Virão do Brasil
provavelmente", disse Rózsa
Flores à TV estatal húngara.
Rózsa Flores, conhecido veterano da guerra de independência da Croácia, nos anos 90,
mencionou que integraria as
forças de segurança então recém-criadas pelos cruzenhos, à
revelia de La Paz.
Um dos principais líderes
oposicionistas de Santa Cruz, o
empresário croata-boliviano
Branko Marinkovic negou enfaticamente ter elo com o caso.
O aparecimento da entrevista deu algum apoio às teses da
polícia boliviana e do governo,
não raras vezes contraditórias
entre si. Mas, em mais uma trapalhada, o governo divulgou
uma foto de suspeitos em um
treinamento militar. Os fotografados vierem a público dizer
que participavam de um jogo
que simula estratégia com armas falsas, o airsoft.
Com agências internacionais
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