São Paulo, segunda-feira, 24 de maio de 2004

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IRAQUE OCUPADO

20 morrem em mesquita que, para americanos, é usada por milicianos; Chalabi nega ter revelado segredos ao Irã

EUA matam 34 em ação contra milícia xiita

DA REDAÇÃO

Militares americanos e soldados iraquianos lançaram ontem uma ofensiva contra o Exército Mehdi, a milícia fiel ao clérigo radical xiita Moqtada al Sadr, em Kufa, matando ao menos 34 pessoas, incluindo 20 numa ação em uma mesquita, e ferindo dezenas.
Eles também atacaram posições do Exército Mehdi na cidade sagrada de Najaf, próxima a Kufa. Segundo testemunhas, vários civis ficaram feridos na ofensiva, que pareceu ser uma resposta definitiva à trégua oferecida por um assessor de Al Sadr anteontem.
Poças de sangue e sobras de munição ficaram expostas por horas na mesquita de Sahla, uma das principais de Kufa e cuja porta foi derrubada por um tanque.
Segundo o Exército dos EUA, havia armas no seu interior, mas nenhum militar americano entrou na mesquita, que foi invadida por uma "força de contraterrorismo" iraquiana. "Não temos a intenção de entrar em locais de culto religioso", disse o general Martin Dempsey, comandante da força americana que combate a milícia de Al Sadr na região, num comunicado escrito.
Al Sadr, um jovem radical que pertence a uma família de clérigos respeitados, tem irritado líderes moderados da maioria xiita iraquiana por conta do uso de locais sagrados em sua luta.
Os xiitas também pediram aos EUA moderação em suas ações nas cidades sagradas. Os EUA dizem que respeitam esses os locais sagrados, mas salientaram que atacarão mesquitas usadas pelos milicianos xiitas.
O principal aliado militar dos EUA, o Reino Unido, expressou preocupação com a "mão pesada" dos americanos em locais sagrados, de acordo com um memorando do Ministério das Relações Exteriores britânico publicado no jornal "Sunday Times".
O jornal também publicou reclamações de autoridades britânicas sobre o escândalo gerado pelas fotos de tortura de presos iraquianos. Segundo o "Sunday Times", essas autoridades disseram que o caso "mina a autoridade moral" das forças de ocupação, que deverão entregar o controle político do país a um governo interino em 30 de junho.
O premiê britânico, Tony Blair, afirmou que não discorda da estratégia americana no Iraque.
Cerca de cem moradores de Kufa foram à mesquita de Sahla para observar os estragos. "Sinto uma forte humilhação. Nossa santidade foi violada. Resistirei aos invasores até a última gota de meu sangue", disse Ali Wasi.
A ofensiva ocorreu depois que um assessor de Al Sadr disse que os membros do Exército Mehdi deixariam Najaf e Karbala se as forças americanas também o fizessem. Um porta-voz da coalizão afirmou que o clérigo xiita tem de entregar-se e que sua milícia deve depor suas armas.
Perto de Fallujah (a oeste de Bagdá), uma bomba e uma granada mataram dois soldados americanos, segundo militares que testemunharam o ocorrido. Uma trégua frágil está em vigor em Fal- lujah desde que uma força de marines a deixou.

Chalabi e Irã
Ahmad Chalabi, um ex-exilado iraquiano que foi o maior informante dos EUA antes da invasão do Iraque e é membro do Conselho de Governo Iraquiano, negou ontem que tenha passado informações confidenciais americanas ao Irã e desafiou o diretor da CIA, George Tenet, a comparecer ao Congresso para falar do tema.
Hamid Reza Asefi, porta-voz da Chancelaria iraniana, classificou a acusação de "infundada", mas admitiu que Teerã tem contato com Chalabi. A revista "Time" publicou reportagem segundo a qual o FBI está investigando o caso. Congressistas americanos também prometeram investigá-lo.

Cenas de um casamento
A agência de notícias Associated Press obteve um vídeo que mostra a festa de casamento celebrada em uma casa a 8 km da fronteira com a Síria e que foi bombardeada pelos EUA na manhã da última quarta-feira sob a alegação de abrigar combatentes estrangeiros. O ataque causou 45 mortes.
O vídeo mostra o cortejo do casamento e a noiva, com um vestido branco, chegando à festa. A equipe da agência que entrevistou os sobreviventes afirma que consegue identificá-los nas imagens.


Com agências internacionais


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