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Líbano dá ultimato a radicais islâmicos
Ministro promete mais ataques, mas militantes entrincheirados desde domingo dizem que têm armas para resistir nove meses
Cruz Vermelha calcula que metade dos residentes em campo cercado pelo Exército já fugiram; número total de mortos pode passar de cem
TARIQ SALEH
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE
TRÍPOLI
O ministro da Defesa libanês,
Elias Murr, disse ontem aos militantes radicais do grupo Fatah
al Islam, entrincheirados desde
domingo num campo de refugiados palestinos, que se rendam ou enfrentarão mais bombardeios do Exército. O grupo
divulgou comunicado prometendo lutar até o fim e afirmando que possui armas para combater por mais nove meses.
"Seu destino é a prisão e, se
resistirem ao Exército, a morte", disse Murr em entrevista
ao canal de TV Al Arabiya.
Porém, o comandante do
grupo, Shaheen al Shami, falou
à TV Al Jazeera que seus homens poderiam levar a batalha
para fora do campo: "Vamos lutar até a morte contra eles."
Alheio aos discursos, militares libaneses continuaram o
cerco ao campo palestino de
Nahr al Bared, onde os radicais
encontram-se posicionados. Só
ambulâncias e ajuda humanitária podiam entrar.
Em Beddawi, a dez quilômetros de Nahr al Bared, jovens
das facções palestinas carregando fuzis faziam a "segurança", enquanto a Cruz Vermelha
descarregava alimentos numa
escola da ONU que abriga refugiados do campo.
No prédio de três andares,
crianças brincavam pelos corredores. A inocência dos pequenos contrastava com as
preocupações dos adultos. Numa das salas, Fatwa Ahmad, 31,
e seu marido, Mohamed Abdel
Rahim, 36, lamentavam, com
lágrimas nos olhos, a perda de
sua casa. Os tanques libaneses a
destruíram depois que fugiram,
na terça-feira.
"Não trouxemos nada. Viemos com as roupas do corpo e
sem dinheiro", disse Fatwa, rodeada por seus cinco filhos.
Não longe dali, Abir Shade
Abdel Rahim, 39, esperava sentada num colchão com seus
dois filhos pequenos Rawad, 2,
e Yasmin, 5 meses. "Tudo que
posso fazer é esperar. O bebê
precisa de remédio para febre,
mas me deram um para crianças maiores", disse. Ela, como
muitos palestinos, fugiu aproveitando o cessar-fogo de terça-feira. Seu marido continua no
campo. Não há notícias.
Segundo a Cruz Vermelha,
no fim do dia de ontem, o quarto seguido de confrontos, metade dos cerca de 30 mil refugiados do campo de Nahr al Bared
tinha deixado o local. Não há
ainda uma contagem oficial de
vítimas, mas a estimativa é de
que pelo menos 86 pessoas tenham morrido até a noite de
terça -entre elas 27 civis.
Ontem o Ministério da Defesa libanês falava em até 60 militantes mortos, contando os últimos confrontos.
Tentando organizar o cadastro dos que chegavam, o diretor
da escola pertencente à ONU,
Ali Issa, 54, explicava que 17 mil
palestinos chegaram ao campo
de Beddawi desde segunda-feira. "As aulas estão canceladas
indefinidamente. Não há salas
para as aulas". Enquanto isso,
nos corredores quentes e sujos
refugiados brigavam por água e
pacotes de comida.
Do alto de sua sacada, ao lado
da escola, o militante do partido da Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP)
Nasser Sarhan, 43, observava o
desespero dos refugiados balançando a cabeça negativamente. "Esse povo está agora
na sua segunda diáspora", sentenciou, se referindo à fuga dos
palestinos depois da criação de
Israel, em 1948. "É difícil para
estas pessoas deixarem suas casas. Eles vivem agora sua segunda tragédia".
No início da noite de ontem,
mais um atentado sacudiu o Líbano. Desta vez a explosão
aconteceu na cidade de Aley, de
maioria drusa, nas montanhas
ao redor de Beirute. Ao menos
cinco pessoas ficaram feridas.
O Conselho de Segurança da
ONU condenou os ataques do
Fatah al Islam ao Exército libanês "nos termos mais fortes
possíveis", afirmando que eles
constituem um desafio "inaceitável" à soberania do país.
Hoje o recém-nomeado
chanceler da França, Bernard
Kouchner, chega a Beirute, onde se reunirá com o premiê,
Fuad Siniora.
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