São Paulo, quinta-feira, 24 de maio de 2007

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Pop, Gore volta a atacar Bush após seis anos

Pela primeira vez sem negar que é candidato à Casa Branca, democrata critica em livro administração do oponente

Para o adversário derrotado por Bush no pleito de 2000, o governo do republicano isolou os EUA e deixou o mundo mais perigoso

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Depois de seis anos e meio de silêncio em relação ao desempenho do atual ocupante da Casa Branca, Al Gore, o candidato democrata derrotado nas eleições de 2000, partiu para um ataque furioso contra o governo de George W. Bush. Para o ex-senador e ex-vice-presidente de Bill Clinton, a administração do republicano isolou os EUA, deixou o mundo mais perigoso e minou o sistema constitucional que dá base ao país.
Além disso, para invadir o Iraque Bush usou "uma combinação fabricada de vingança mal direcionada e dogma desorientado para dominar a discussão nacional, sobrepor-se à razão, silenciar a oposição e intimidar aqueles que questionassem sua lógica tanto de dentro quanto de fora da administração". Ainda, o governo atual "perdeu o contato com a realidade" e "usou a linguagem e a política do medo para direcionar a discussão pública sem levar em conta provas, fatos ou o interesse público".
As afirmações estão no livro "The Assault on Reason" (o ataque à razão), escrito por Al Gore, que chegou às livrarias dos EUA anteontem e teve trechos amplamente divulgados pela imprensa nos últimos dias. As acusações foram confirmadas em uma série de entrevistas com o democrata.
Os ataques eram esperados desde dezembro de 2000, quando Gore ganhou as eleições presidenciais no voto popular mas viu a Presidência escapar-lhe em decisão da Suprema Corte do país, que ordenou que a recontagem dos votos fosse interrompida no Estado da Flórida, dando assim a vitória no Colégio Eleitoral para o ex-governador do Texas, o republicano George W. Bush.

Artilharia dupla
Al Gore vem se juntar a outra figura pública que parte para o ataque frontal ao governo Bush: o ex-presidente democrata Jimmy Carter (leia texto ao lado). No período, viu sua popularidade crescer por conta do ativismo ecológico que lhe valeu um Oscar (pelo documentário "Uma Verdade Inconveniente") e rumores de uma indicação ao Nobel.
A ferocidade e o ineditismo das declarações levaram a Casa Branca a reagir. Indagado anteontem sobre o trecho em que Gore diz que Saddam Hussein não era ameaça real aos EUA e que o presidente Bush "forjou as provas" de que o iraquiano estava atrás de armas atômicas, o porta-voz da Casa Branca foi seco: "Bem, a segunda declaração é falsa", disse Tony Snow.
Já a primeira, afirmaria, "contradiz declarações anteriores do senador Gore -então vice-presidente Gore. Assim, vou deixar para que ele retifique essas diferenças". Mais adiante, instado a comentar outro trecho do livro, em que o democrata escreve que "o presidente enganou o público ao sugerir que o Iraque estava envolvido no 11 de Setembro", Snow foi eloqüente.
"Infelizmente", disse o porta-voz, "o vice-presidente provavelmente tem prestado atenção às mesmas pessoas que deliberadamente o enganaram. O presidente deixou claro várias vezes que não havia relação entre Saddam Hussein e o 11 de Setembro". Tony Snow disse ainda não saber "se eles vão reimprimir o livro depois de corrigir os fatos".
A esgrima verbal levou Washington a se questionar: por que Al Gore parte para o ataque apenas agora, quando a campanha para a sucessão de Bush em 2008 começa a esquentar? Ele é pré-candidato, afinal? Sempre peremptório em sua negativa, o democrata relativizou pela primeira vez em entrevista na última edição da revista "Time": "Não descartei [concorrer à Presidência]. Mas não acho provável que isso aconteça".
De qualquer forma, mesmo dizendo seguidamente nos últimos seis meses que não concorrerá, vê seu nome aparecer nas pesquisas de opinião pública em terceiro, com 12%, ao lado de John Edwards e atrás de Hillary Clinton e Barack Obama -todos democratas.
Em entrevista anteontem à noite ao apresentador da CNN Larry King, Gore diminui ainda mais o tom assertivo com que confirmava que não concorrerá. "Não vejo necessidade (de negar a candidatura"), disse.
Em "Assault on Reason", porém, Gore não menciona as eleições de 2000. Ele chega a criticar a Justiça em geral, mas sem citar o caso que lhe valeu a perda da Presidência.


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