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Pop, Gore volta a atacar Bush após seis anos
Pela primeira vez sem negar que é candidato à Casa Branca, democrata critica em livro administração do oponente
Para o adversário derrotado por Bush no pleito de 2000, o governo do republicano isolou os EUA e deixou o mundo mais perigoso
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Depois de seis anos e meio de
silêncio em relação ao desempenho do atual ocupante da Casa Branca, Al Gore, o candidato
democrata derrotado nas eleições de 2000, partiu para um
ataque furioso contra o governo de George W. Bush. Para o
ex-senador e ex-vice-presidente de Bill Clinton, a administração do republicano isolou os
EUA, deixou o mundo mais perigoso e minou o sistema constitucional que dá base ao país.
Além disso, para invadir o
Iraque Bush usou "uma combinação fabricada de vingança
mal direcionada e dogma desorientado para dominar a discussão nacional, sobrepor-se à
razão, silenciar a oposição e intimidar aqueles que questionassem sua lógica tanto de dentro quanto de fora da administração". Ainda, o governo atual
"perdeu o contato com a realidade" e "usou a linguagem e a
política do medo para direcionar a discussão pública sem levar em conta provas, fatos ou o
interesse público".
As afirmações estão no livro
"The Assault on Reason" (o ataque à razão), escrito por Al Gore, que chegou às livrarias dos
EUA anteontem e teve trechos
amplamente divulgados pela
imprensa nos últimos dias. As
acusações foram confirmadas
em uma série de entrevistas
com o democrata.
Os ataques eram esperados
desde dezembro de 2000,
quando Gore ganhou as eleições presidenciais no voto popular mas viu a Presidência escapar-lhe em decisão da Suprema Corte do país, que ordenou
que a recontagem dos votos
fosse interrompida no Estado
da Flórida, dando assim a vitória no Colégio Eleitoral para o
ex-governador do Texas, o republicano George W. Bush.
Artilharia dupla
Al Gore vem se juntar a outra
figura pública que parte para o
ataque frontal ao governo
Bush: o ex-presidente democrata Jimmy Carter (leia texto
ao lado). No período, viu sua
popularidade crescer por conta
do ativismo ecológico que lhe
valeu um Oscar (pelo documentário "Uma Verdade Inconveniente") e rumores de
uma indicação ao Nobel.
A ferocidade e o ineditismo
das declarações levaram a Casa
Branca a reagir. Indagado anteontem sobre o trecho em que
Gore diz que Saddam Hussein
não era ameaça real aos EUA e
que o presidente Bush "forjou
as provas" de que o iraquiano
estava atrás de armas atômicas,
o porta-voz da Casa Branca foi
seco: "Bem, a segunda declaração é falsa", disse Tony Snow.
Já a primeira, afirmaria,
"contradiz declarações anteriores do senador Gore -então
vice-presidente Gore. Assim,
vou deixar para que ele retifique essas diferenças". Mais
adiante, instado a comentar
outro trecho do livro, em que o
democrata escreve que "o presidente enganou o público ao
sugerir que o Iraque estava envolvido no 11 de Setembro",
Snow foi eloqüente.
"Infelizmente", disse o porta-voz, "o vice-presidente provavelmente tem prestado atenção às mesmas pessoas que deliberadamente o enganaram. O
presidente deixou claro várias
vezes que não havia relação entre Saddam Hussein e o 11 de
Setembro". Tony Snow disse
ainda não saber "se eles vão
reimprimir o livro depois de
corrigir os fatos".
A esgrima verbal levou Washington a se questionar: por
que Al Gore parte para o ataque
apenas agora, quando a campanha para a sucessão de Bush em
2008 começa a esquentar? Ele
é pré-candidato, afinal? Sempre peremptório em sua negativa, o democrata relativizou
pela primeira vez em entrevista
na última edição da revista "Time": "Não descartei [concorrer
à Presidência]. Mas não acho
provável que isso aconteça".
De qualquer forma, mesmo
dizendo seguidamente nos últimos seis meses que não concorrerá, vê seu nome aparecer
nas pesquisas de opinião pública em terceiro, com 12%, ao lado de John Edwards e atrás de
Hillary Clinton e Barack Obama -todos democratas.
Em entrevista anteontem à
noite ao apresentador da CNN
Larry King, Gore diminui ainda
mais o tom assertivo com que
confirmava que não concorrerá. "Não vejo necessidade (de
negar a candidatura"), disse.
Em "Assault on Reason", porém, Gore não menciona as
eleições de 2000. Ele chega a
criticar a Justiça em geral, mas
sem citar o caso que lhe valeu a
perda da Presidência.
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