São Paulo, segunda-feira, 24 de junho de 2002

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TERRORISMO

Para funcionários do governo americano, substância pode voltar a ser fabricada e usada em novos atentados

Antraz usado em ações nos EUA era recente

DAVID JOHNSTON
WILLIAM J. BROAD

DO "THE NEW YORK TIMES"

Cientistas determinaram que o antraz utilizado em "atentados postais" depois de 11 de setembro nos EUA foi fabricado não mais de dois anos antes de ser enviado, afirmaram altos funcionários do governo americano. A descoberta preocupou investigadores, segundo os quais isso indica que quem enviou o antraz em pó pode fabricar mais e atacar de novo.
O estabelecimento da idade do antraz que matou cinco pessoas fortaleceu a teoria de que a pessoa por trás dos atentados tem uma conexão direta e atual com um laboratório de microbiologia e pode ter usado equipamentos relativamente novos. "Ainda estamos procurando alguém que se encaixe nos critérios de treinamento, conhecimento, educação, experiência e habilidade", disse um funcionário do governo.
A nova descoberta também enfraquece seriamente outra teoria que estava complicando a investigação que, até agora, não produziu frutos: a de que o culpado teria roubado ou obtido de alguma forma uma antiga amostra de laboratório de antraz em pó, de uma modalidade identificada pela primeira vez em 1981.
O fato de o antraz ter sido fabricado recentemente sugere que a pessoa que o enviou por correio preparou os germes sozinho e tem a capacidade de fazer mais sem ter de usar material antigo, possivelmente tirado das amostras de antraz que o governo mantém para testar novos tipos de defesas contra micróbios perigosos.
"[O antraz] foi fabricado, e portanto pode ser fabricado de novo, e de novo", afirmou outro alto funcionário do governo dos EUA.
Ainda segundo funcionários do governo, o FBI determinou que o antraz era novo utilizando a datação por radiocarbono, um método muito utilizado para determinar a idade de amostras biológicas. Ele mede quanto carbono radioativo um ser vivo perdeu desde que morreu ou, no caso de esporos de antraz, desde que entrou em estado de latência.
Investigadores afirmam acreditar que, se o autor dos atentados por correio for pego, deve se encaixar no perfil traçado por psicólogos comportamentais do FBI, cuja teoria é a de que ele é um homem solitário, com uma inclinação para a ciência e um rancor contra a sociedade, que se sente confortável na área de Trenton, onde as cartas foram postadas. Os investigadores não sabem se ele é americano ou estrangeiro.
Especialistas e investigadores devem se reunir nesta semana com o diretor do FBI, Robert Mueller, para discutir os novos indícios. Entre os assuntos da reunião devem estar os resultados de meses de estudos sofisticados conduzidos com o antraz contido na carta enviada em 9 de outubro de 2001 ao senador democrata Patrick J. Leahy, de Vermont.
A carta a Leahy, presidente do Comitê Judiciário, era a única das quatro recuperadas no caso que continha antraz suficiente para permitir exames científicos extensos. A amostra tirada do envelope endereçado a Leahy continha tanto material quanto um saquinho de adoçante e pesava cerca de 1 g.
Investigadores falharam várias vezes em encontrar indícios de envolvimento de estrangeiros nos atentados por carta. No início, o Iraque era um dos principais suspeitos. Mas investigadores não acharam nenhuma evidência de que Bagdá tenha obtido a modalidade americana de antraz encontrada na carta, conhecida como Ames, e nenhum sinal de "assinaturas químicas" iraquianas.



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