São Paulo, segunda-feira, 24 de junho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ORIENTE MÉDIO

Exército já ocupa todas grandes cidades da Cisjordânia; líder palestino assume ter errado em Camp David

Israel cerca QG de Arafat em Ramallah

DA REDAÇÃO

Tanques israelenses entraram ontem na cidade de Ramallah (Cisjordânia) e cercaram mais uma vez o quartel-general do presidente da Autoridade Nacional Palestina, Iasser Arafat.
Não houve confronto durante a invasão israelense. O governo de Israel não informou se manterá o líder palestino cercado. Arafat estava dentro do local reunido com assessores.
O Exército de Israel, que convocou ontem mais 4.000 reservistas para ampliar suas ações na Cisjordânia, afirmou apenas que estava realizando uma operação militar em Ramallah.
Desde dezembro, Arafat foi mantido várias vezes sob cerco de forças israelenses no seu QG. Somente em poucas oportunidades ele pôde deixar a cidade.
Agora, todas a maioria das grandes cidades palestinas da Cisjordânia estão sob ocupação militar de Israel. Cerca de 1.200 reservistas já haviam sido convocados anteriormente. As ações são uma resposta aos três atentados na semana passada, que deixaram 31 mortos.
Para Arafat, o governo do premiê de Israel, Ariel Sharon, pretende controlar "todos os aspectos da vida palestina". Os israelenses negam estar dispostos a serem responsáveis pela administração civil das cidades.
Por outro lado, segundo o secretário de gabinete de Israel, Gideon Saar, o governo de Sharon está analisando a possibilidade de deportar famílias de palestinos que tenham cometido atentados suicidas, desde que haja respaldo jurídico para uma ação desse porte.
Os residentes de Qalqilya e das cidades palestinas de Nablus, Jenin, Tulkarem, Belém e Beitunia (nos arredores de Ramallah), todas na Cisjordânia, estão sob toque de recolher e têm apenas algumas horas por dia para poderem sair às ruas e comprar mantimentos.
Em Nablus, dois policiais palestinos foram mortos por forças israelenses. Outro palestino foi morto em Tulkarem.
De acordo com Sharon, "as forças israelenses estão nos territórios palestinos com a seguinte missão: defender a segurança dos cidadãos de Israel".
Para Arafat, "está claro que os israelenses querem permanecer indefinidamente nas áreas palestinas". Israel diz que não há intenção de retomar a administração política das áreas palestinas.
A operação que está sendo realizada agora tem escala menor do que a "Muro Protetor", que ocorreu entre o fim de março e o início de maio. Desta vez, porém, Israel ameaça permanecer nas "áreas palestinas enquanto o terror persistir". Effi Eitam, um dos ministro mais radicais do gabinete de Sharon, afirmou que a ocupação deve "durar muitos meses".
O ministro das Relações Exteriores de Israel, Shimon Peres, divergiu de Sharon sobre o traçado da cerca que separará a Cisjordânia e Israel e chegou a ameaçar renunciar ao cargo.

Arafat arrependido
Arafat, reconheceu pela primeira vez ter cometido erros na cúpula de Camp David (julho de 2000), patrocinada pelo ex-presidente dos EUA Bill Clinton, que visava um acordo de paz entre israelenses e palestinos.
"Nós cometemos erros, mas continuamos as negociações [com o então premiê israelense, Ehud Barak", em Sharm el Sheik e Taba (Egito) e Paris. Em Taba, estivemos muito perto [da paz"", disse Arafat ao diário israelense "Haaretz". O líder palestino já havia admitido ao mesmo jornal que hoje aceitaria o plano de paz proposto por Clinton.
Para Arafat, a visita de Ariel Sharon -que viria a se eleger premiê após o fracasso das negociações- à Esplanada das Mesquitas em Jerusalém, desencadeando a Intifada palestina (levante contra a ocupação israelense), alterou todo o cenário.
Israel, por sua vez, sempre argumentou que Arafat era o responsável pela eclosão da Intifada por não ter aceito as ofertas de paz de Camp David e de Taba.


Com agências internacionais


Texto Anterior: Tríplice fronteira: Libanês preso no Brasil nega elo com terror
Próximo Texto: Bush deve anunciar plano hoje
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.