São Paulo, segunda-feira, 24 de junho de 2002

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Israel convoca 4.000 reservistas; ações matam três palestinos

Arafat admite erro em Camp David

DA REDAÇÃO

O presidente da Autoridade Nacional Palestina, Iasser Arafat, reconheceu pela primeira vez ter cometido erros na cúpula de Camp David (julho de 2000), patrocinada pelo ex-presidente dos EUA Bill Clinton, que visava um acordo de paz israelo-palestino.
"Nós cometemos erros, mas continuamos as negociações [com o então premiê israelense, Ehud Barak", em Sharm el Sheik e Taba (Egito) e Paris. Em Taba, estivemos muito perto [da paz"", disse Arafat ao diário israelense "Haaretz". O líder palestino já havia admitido ao mesmo jornal que hoje aceitaria o plano de paz proposto por Clinton.
Para Arafat, a visita de Ariel Sharon -que viria a se eleger premiê após o fracasso das negociações- à Esplanada das Mesquitas em Jerusalém, desencadeando a Intifada palestina (levante contra a ocupação israelense), alterou todo o cenário.
Israel, por sua vez, sempre argumentou que Arafat era o responsável pela eclosão da Intifada por não ter aceito as ofertas de paz de Camp David e de Taba.

Reservistas
O Exército de Israel convocou mais 4.000 reservistas ontem para a operação militar que está sendo realizada na Cisjordânia. Para Arafat, o governo de Sharon pretende controlar "todos os aspectos da vida palestina".
Os israelenses negam estar dispostos a serem responsáveis pelos serviços municipais, educação, emissão de certidões, coleta de lixo entre outras tarefas a cargo da ANP desde 1994, quando começaram a ser implementados os acordos de paz de Oslo.
Por outro lado, segundo o secretário de gabinete de Israel, Gideon Saar, o governo de Sharon está analisando a possibilidade de deportar famílias de palestinos que tenham cometido atentados suicidas, desde que haja respaldo jurídico para uma ação desse porte.
Ontem Israel entrou novamente em Qalqilya e justificou a convocação de reservistas afirmando que a operação nos territórios palestinos deve ser ampliada. Cerca de 1.200 reservistas já haviam sido convocados anteriormente. As ações são uma resposta aos três atentados palestinos na semana passada, que deixaram 31 mortos.
Os residentes de Qalqilya e das cidades palestinas de Nablus, Jenin, Tulkarem, Belém e Beitunia (nos arredores de Ramallah), todas na Cisjordânia, estão sob toque de recolher e têm apenas algumas horas por dia para sair às ruas e comprar mantimentos.
Em Nablus, dois policiais palestinos foram mortos por forças israelenses. Outro palestino foi morto em Tulkarem por disparos de um tanque.
De acordo com Sharon, "as forças israelenses estão nos territórios palestinos com a seguinte missão: defender a segurança dos cidadãos de Israel".
Para Arafat, "está claro que os israelenses querem permanecer indefinidamente nas áreas palestinas". Raanan Gissin, porta-voz de Sharon, diz que não há intenção de retomar a administração política das áreas palestinas.
A operação que está sendo realizada agora tem escala menor do que a "Muro Protetor", que ocorreu entre o fim de março e o início de maio. Desta vez, porém, Israel ameaça permanecer nas "áreas palestinas enquanto o terror persistir". Effi Eitam, um dos ministro mais radicais do gabinete de Sharon, afirmou que a ocupação deve "durar muitos meses".
O ministro das Relações Exteriores de Israel, Shimon Peres, ameaçou renunciar ao seu cargo em reunião do gabinete ministerial de Israel, que aprovou ontem a construção de uma cerca que separa parte da Cisjordânia de Israel e visa impedir a entrada de suicidas que queiram cometer atentados em território israelense. As obras já haviam iniciado na semana passada.
Peres disse que parte dos territórios palestinos seriam anexadas, segundo mapa apresentado por Sharon, causando danos diplomáticos a Israel.


Com agências internacionais


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