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ARTIGO
O premiê Gordon Brown
Apesar da figura nebulosa e do pouco carisma, homem que liderará britânicos a partir de quarta busca estilo próprio e tenta contornar impopularidade de Blair
JAMES BLITZ
DO "FINANCIAL TIMES"
Nesta quarta-feira, dia 27,
Gordon Brown assumirá o posto de premiê do Reino Unido.
Para muitos observadores internacionais da situação do
país nos últimos anos, a transição do poder, de Tony Blair para o seu ministro das Finanças,
é difícil de compreender.
Blair, apesar de seu envolvimento no fiasco iraquiano, é
considerado por muitos líderes
ocidentais um dos mais experientes estadistas do mundo,
responsável durante seus dez
anos no poder por liderar a luta
contra as alterações climáticas.
Seu sucessor no número 10 da
Downing Street, ainda que respeitado na arena das finanças
internacionais, parece uma figura menos definida e menos
carismática.
No país, igualmente, Brown é
visto como líder menos convincente do que Blair. A oposição
conservadora considera sua
chegada ao poder como o fim
do projeto do Novo Trabalhismo, que conduziu a centro-esquerda ao governo em 1997. Para seus muitos críticos, falta a
Brown a aura vitoriosa de que o
atual primeiro-ministro desfruta. Eles consideram que
Brown não tem a conexão natural de Blair com os britânicos
médios, o segredo do sucesso
eleitoral dos trabalhistas.
Mesmo assim, a chegada de
Brown ao posto não será um
momento tão sombrio para os
trabalhistas quanto os conservadores gostam de imaginar.
Depois dos fracassos dos anos
Blair, em especial quanto ao
Iraque, a confiança do público
no primeiro-ministro caiu
drasticamente.
Outro estilo
Nas cinco semanas desde que
foi eleito, sem oposição, para a
liderança do Partido Trabalhista, Brown vem tentando se distinguir do estilo de liderança
visto como arrogante que caracterizou os anos Blair. Ele
prometeu jamais usar informações de serviços de inteligência
de forma tão descuidada quanto Blair fez ao tentar provar que
o Iraque estava equipado com
armas de destruição em massa
-algo nunca comprovado.
O futuro primeiro-ministro
também começou a defender
uma abordagem mais humilde,
prometendo consultar a opinião pública. Os primeiros sinais são de que os eleitores
apreciaram a idéia. Além disso,
mudanças de liderança em
meio de mandato, como a que
está acontecendo, podem servir para galvanizar governos fatigados.
Em 1991, o conservador John
Major substituiu Margaret
(agora baronesa) Thatcher como líder do partido e primeiro-ministro, depois que a popularidade dela despencou e levou
os líderes conservadores a derrubá-la em um golpe interno.
Major terminou por vencer a
eleição subseqüente, em 1992.
Muitos parlamentares trabalhistas esperam que Brown
possa obter sucesso eleitoral
semelhante. De fato, nas últimas cinco semanas, três acontecimentos serviram para provar aos parlamentares trabalhistas que isso é possível.
Em primeiro lugar, o partido
em larga medida cerrou fileiras
em torno do novo líder. Por
anos, muita gente achava que a
queda de Blair causaria guerra
civil entre os trabalhistas,
opondo os partidários do primeiro-ministro aos do ministro das Finanças. Nada disso
ocorreu.
Segundo, a revolução conduzida por David Cameron, o dinâmico novo líder dos conservadores, está começando a enfrentar seus mais sérios desafios internos nos 18 meses desde que ele assumiu o posto.
A recente promessa de Cameron de não elevar o número
de escolas públicas que matriculam alunos com base em critérios acadêmicos de seleção
causou grande reação interna.
Uma pesquisa do "Times" e do
instituto Populus, na semana
passada, revelou que Cameron
não vem conseguindo fazer
com que muitos membros da
base parlamentar conservadora aceitem sua visão liberal sobre moralidade e raça.
Terceiro, enquanto Brown se
prepara para o governo, existem sinais de que a percepção
do público começa uma vez
mais a se inclinar em favor dos
trabalhistas.
Os conservadores apresentaram desempenho positivo nas
eleições locais de maio. Mas a
maioria das pesquisas de opinião realizadas desde então demonstrou declínio na vantagem antes decisiva que os conservadores ostentavam.
Os números da YouGov, por
exemplo, que atribuíam oito
pontos percentuais de vantagem aos conservadores em
abril, na última semana estimavam a vantagem do partido em
apenas 2 pontos. Aparentemente, aquilo que os especialistas em pesquisas gostam de denominar "o salto de Brown" está de fato acontecendo. Quanto
maior for esse salto, mais séria
se tornará a reação dos conservadores à sua ascensão.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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