São Paulo, quarta-feira, 24 de junho de 2009

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Governo iraniano descarta nova eleição

Máxima instância constitucional rejeita denúncias de fraude maciça e diz que votos viciados não mudariam vitória de Ahmadinejad

Em decisão simbólica, Teerã dá mais cinco dias para que candidatos derrotados apresentem novas queixas; ontem não houve protestos


Fars News/France Presse
Simpatizante do presidente reeleito Mahmoud Ahmadinejad agita bandeira durante manifestação ocorrida diante da Embaixada do Reino Unido em Teerã

DA REDAÇÃO

Em meio aos primeiros sinais de desgaste dos protestos oposicionistas, o governo iraniano rejeitou ontem as denúncias de fraude apresentadas pelo reformista Mir Hossein Mousavi contra a reeleição do ultraconservador Mahmoud Ahmadinejad. A decisão enterrou formalmente as chances de um novo pleito.
"Felizmente, nestas eleições presidenciais não encontramos traços de fraude maciça. Não houve violações graves. Portanto, não há possibilidade de se anular o pleito", disse um porta-voz do Conselho dos Guardiães, máxima instância constitucional iraniana.
O porta-voz disse que o resultado da recontagem aleatória de 10% das urnas, exigida por Mousavi e pelo também reformista Mehdi Karubi, será anunciado hoje.
Pressionado pelas acusações de fraude, o conselho admitira a existência de irregularidades em alguns distritos.
O órgão disse que o número de votos afetados poderia chegar a 3 milhões (cerca de 10% do total), o que não seria, segundo ele, suficiente para alterar o resultado final da votação. A apuração oficial indicou diferença de mais de 11 milhões de votos a favor de Ahmadinejad.
Segundo o Parlamento, a posse do novo governo ocorrerá entre 26 de julho e 19 de agosto.
Num gesto tido como simbólico, o conselho obteve aval do líder supremo, Ali Khamenei, para dar mais cinco dias aos três candidatos derrotados para que apresentem novas queixas contra o pleito -até agora houve 646 denúncias.
Mousavi, que ficou com 33% -contra 62,7% de Ahmadinejad-, contesta a apuração e promete divulgar nos próximos dias um relatório completo sobre supostas irregularidades.
A insistência de Mousavi ameaça irritar ainda mais o governo, que ontem instou novamente o reformista a "respeitar os votos e a lei".
Autoridades iranianas também anunciaram ontem que ensinarão "uma lição exemplar" aos manifestantes presos pelos distúrbios dos últimos dias. O aviso sinaliza que as centenas de detidos -o número preciso é desconhecido- serão julgadas de maneira implacável pelo tribunal especial recém-criado pelo governo.
Não estava claro se os dois jornalistas estrangeiros detidos -um grego e um canadense- serão julgados pelo tribunal.
Após dez dias de manifestações que deixaram ao menos 17 mortos e dezenas de feridos, as ruas das principais cidades iranianas ontem permaneceram calmas. Os últimos protestos em Teerã já sinalizavam um arrefecimento. Anteontem, mil pessoas atenderam à convocação de Mousavi. No sábado calcula-se que dezenas de milhares tenham se manifestado.
O relato de iranianos anônimos às agências de notícias é praticamente o único meio de se saber o que acontece no país, depois que o governo expulsou dezenas de jornalistas estrangeiros do Irã e proibiu os que ficaram de fazer reportagens fora de seus escritórios.
A calmaria interna coincide com o acirramento das tensões diplomáticas. Acusado de fomentar os protestos, o Reino Unido se manteve ontem como linha de frente do Ocidente com Teerã. Londres expulsou dois diplomatas iranianos depois que Teerã mandou embora dois funcionários britânicos.
Com agências internacionais



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