São Paulo, quarta-feira, 24 de junho de 2009

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Calmaria aparente não oculta tensão na população de Teerã

DO "FINANCIAL TIMES", EM TEERÃ

Ande pela via expressa que cruza Teerã de norte a sul, e você pode imaginar que a cidade vive um dia como outro qualquer. O trânsito não é tão pesado quanto de costume, mas vem aumentando nos últimos dias. Muitos moradores estão fazendo suas atividades normais, indo ao trabalho de carro e abrindo suas lojas. Mas percorra a Vali Asr, a rua que atravessa a cidade, que os iranianos descrevem como a mais longa no Oriente Médio, e qualquer ilusão de normalidade some. A via foi palco de movimentados comícios da campanha do oposicionista Mir Hossein Mousavi.
Agora, multidões de policiais estão posicionados em volta dos principais cruzamentos e praças, e multidões de integrantes da milícia pró-governamental dos basiji andam de um lado a outro, mexendo com seus cassetetes. Em um momento você pode estar parado no trânsito, e a seguir, cercado por basiji de motocicletas, correndo para reprimir um protesto.
Há outro indício que, para os moradores de Teerã, assinala problemas: se você está perto de um lugar onde ocorre um protesto, o sinal de seu celular desaparece. É um dos muitos truques tecnológicos que o governo vem empregando para atrapalhar as manifestações.
Os moradores da cidade estão imersos num clima surreal, ansiosos por um pouco de normalidade em meio à insegurança e à incerteza crescentes. Muitas universidades adiaram seus exames, e algumas foram alvos de ataques brutais dos basiji. Mas a maioria das lojas e empresas permaneceu aberta, embora os dias de trabalho tenham ficado mais curtos -as pessoas correm para voltar para casa antes do início previsto das manifestações oposicionistas, receosas da repressão que virá a seguir.
"A vida não está normal. Tenho medo de sair após 18h", diz a engenheira Atousa, 38. "Não levo minha filha para passear como antes. Não quero que veja tantos policiais na rua."
Com o regime deixando claro que vai reprimir todas as formas de dissensão, o clima da cidade está mais calmo, ao menos na superfície, desde domingo. Mas ninguém sabe o que virá a seguir -protestos menores, mas mais desafiadores, ou outros tipos de atos de desobediência civil. Vários moradores descreveram um senso crescente de medo, somado a uma depressão coletiva na capital -e é Teerã a cidade que criou a onda de apoio a Mousavi.
Tradução de CLARA ALLAIN



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