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Calmaria aparente não oculta tensão na população de Teerã
DO "FINANCIAL TIMES", EM TEERÃ
Ande pela via expressa que
cruza Teerã de norte a sul, e você pode imaginar que a cidade
vive um dia como outro qualquer. O trânsito não é tão pesado quanto de costume, mas
vem aumentando nos últimos
dias. Muitos moradores estão
fazendo suas atividades normais, indo ao trabalho de carro
e abrindo suas lojas.
Mas percorra a Vali Asr, a rua
que atravessa a cidade, que os
iranianos descrevem como a
mais longa no Oriente Médio, e
qualquer ilusão de normalidade some. A via foi palco de movimentados comícios da campanha do oposicionista Mir
Hossein Mousavi.
Agora, multidões de policiais
estão posicionados em volta
dos principais cruzamentos e
praças, e multidões de integrantes da milícia pró-governamental dos basiji andam de um
lado a outro, mexendo com
seus cassetetes.
Em um momento você pode
estar parado no trânsito, e a seguir, cercado por basiji de motocicletas, correndo para reprimir um protesto.
Há outro indício que, para os
moradores de Teerã, assinala
problemas: se você está perto
de um lugar onde ocorre um
protesto, o sinal de seu celular
desaparece. É um dos muitos
truques tecnológicos que o governo vem empregando para
atrapalhar as manifestações.
Os moradores da cidade estão imersos num clima surreal,
ansiosos por um pouco de normalidade em meio à insegurança e à incerteza crescentes.
Muitas universidades adiaram seus exames, e algumas foram alvos de ataques brutais
dos basiji. Mas a maioria das lojas e empresas permaneceu
aberta, embora os dias de trabalho tenham ficado mais curtos -as pessoas correm para
voltar para casa antes do início
previsto das manifestações
oposicionistas, receosas da repressão que virá a seguir.
"A vida não está normal. Tenho medo de sair após 18h", diz
a engenheira Atousa, 38. "Não
levo minha filha para passear
como antes. Não quero que veja
tantos policiais na rua."
Com o regime deixando claro
que vai reprimir todas as formas de dissensão, o clima da cidade está mais calmo, ao menos
na superfície, desde domingo.
Mas ninguém sabe o que virá
a seguir -protestos menores,
mas mais desafiadores, ou outros tipos de atos de desobediência civil. Vários moradores
descreveram um senso crescente de medo, somado a uma
depressão coletiva na capital
-e é Teerã a cidade que criou a
onda de apoio a Mousavi.
Tradução de CLARA ALLAIN
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