São Paulo, sexta-feira, 24 de junho de 2011 |
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'Situação é semelhante a dias após Praça Celestial' Artista Wu Yuren, solto em abril, afirma que China está longe da livre expressão Ele faz crítica a silêncio da presidente Dilma Rousseff a respeito de violações dos direitos humanos em seu país
FABIANO MAISONNAVE DE PEQUIM Após dez meses preso, o artista Wu Yuren deixou a prisão no último 3 de abril, mesmo dia em que o amigo Ai Weiwei perdeu a liberdade. Em entrevista à Folha ontem, Wu, 40, disse que a pressão internacional ajudou a liberação de ambos e criticou o silêncio da presidente Dilma Rousseff sobre a China. Assim como Ai Weiwei, que deixou a prisão sob a condição de não falar com a imprensa e está proibido de sair de Pequim, Wu também teve a sua liberdade restringida. Folha - Fala-se de aumento na repressão a partir de fevereiro, mas o senhor foi preso bem antes. Como está a liberdade de expressão na China hoje? Wu Yuren - Ainda longe de ser livre, embora haja formas de comunicação, como os microblogs. A situação é muito rígida e semelhante aos dias após 1989 [ano do massacre na Praça da Paz Celestial]. Estamos às vésperas do 18º Congresso Nacional do Partido Comunista e do 90º. aniversário do Partido Comunista, razões para o regime estar neurótico. Estamos incertos sobre se o país nos dará espaço. A arte moderna chinesa está andando pra trás. Por que o governo decidiu soltar Ai Weiwei? A comunidade internacional pressiona. Governos estão prestando atenção a como os artistas são tratados na China. Além disso, o premiê Wen Jiabao vai à Europa, e a liberação de Ai Weiwei fará a viagem mais fácil. A liberação pode ser também consequência de disputas entre diferentes facções do Partido Comunista. O sr. é casado com uma cidadã canadense, que trabalhou ativamente pela sua liberação. Qual foi o peso da comunidade internacional para a sua liberação e a de Ai Weiwei? A arte é um área muito internacionalizada. É óbvio que a simpatia da comunidade internacional é útil, sobretudo o apoio vindo de meios de comunicação estrangeiros e de governos que defendem a Justiça. Aprecio a persistência da Karen [Patterson, sua mulher] em se esforçar tanto. A presidente brasileira, Dilma Rousseff não criticou publicamente a China com relação aos direitos humanos. O seu governo acha que manifestações públicas são contraprodutivas. O sr. concorda? Não. Conheço muito bem a história de Dilma na guerrilha. Ela esquece o que sofreu no passado depois de ter melhorado a sua situação. Qualquer indivíduo precisa defender os direitos humanos, desnecessário dizer que um presidente também. Mas eu não tenho o direito de criticar. A América do Sul tem tradição ditatorial, e alguns países não estão completamente fora da sombra da ditadura. Qual é a sua situação legal? Desde que fui solto, a polícia e o Departamento de Segurança Nacional me perturbam por qualquer coisa. Acabo de desligar o telefone, a polícia me advertiu de que teria problemas se tentasse visitar Ai Weiwei. Mas ele é um dos meus bons amigos, me ajudou durante o meu período na cadeia, vou visitá-lo não importa como. Estou a ponto de ficar sem casa por causa de métodos rasteiros, como ameaçar o meu senhorio para me despejar e furar pneus do meu carro com faca. Mas nunca vou deixá-los ter o que querem. Texto Anterior: Líbia: Gaddafi diz estar "entre a cruz e a espada" Próximo Texto: Retirada de reservas faz cair o preço do petróleo Índice | Comunicar Erros |
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