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GUERRA NO ORIENTE MÉDIO
Israel se abre a força da Otan no Líbano
Para enviado da ONU, ação israelense viola direito humanitário internacional; Condoleezza Rice chega hoje à região
Em dia de troca intensa de fogo entre israelenses e o Hizbollah, diplomacia caminha sem que haja a garantia de um cessar-fogo
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A BEIRUTE
MICHEL GAWENDO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE HAIFA
O premiê de Israel, Ehud Olmert, disse ontem que pode
aceitar a presença de uma força
armada internacional no sul do
Líbano como parte de um plano para encerrar o conflito com
o Hizbollah, que já dura 13 dias
e matou mais de 400 pessoas
-cerca de 90% do lado libanês.
Mas a intensa movimentação
diplomática de ontem não arrefeceu a ação militar, iniciada no
último dia 12 em retaliação ao
seqüestro de dois soldados israelenses pelo Hizbollah. Além
de voltar a atingir o sul de Beirute, Israel continuou a bombardear o que diz serem alvos
do grupo islâmico em Tiro e Sidon, no sul do país. Ao menos
oito pessoas morreram, incluindo quatro em um comboio
de refugiados. Já o Hizbollah
disparou 93 foguetes Katyusha
contra Israel, matando duas
pessoas em Haifa. Os feridos
tanto de um lado como de outro
chegaram a mais de cem.
Israel vê com desconfiança a
atuação de tropas internacionais, por considerar que estas
não podem garantir que o Hizbollah pare de ameaçar o país.
Por isso, Olmert aceita apenas
uma força militar ativa, e não só
tropas de manutenção da paz.
O Exército de Israel, que convocou reservistas e concentrou
tropas na fronteira, admitiu
que começou a preparar sua
unidade de administração civil
para atuar em partes capturadas do território libanês, mesmo afirmando que as operações
terrestres serão limitadas.
Os militares israelenses, que
estão recebendo munição americana, avançaram em direção à
aldeia de Bint Jibeil, considerada a "capital" do Hizbollah no
sul do Líbano.
Os moradores de mais sete
aldeias, além das 13 de anteontem, receberam advertências
para deixar suas casas sob risco
de novos ataques. Israel já tomou Maroun al Ras.
O coordenador de operações
de emergência da ONU, Jan
Egeland, chegou ontem a Beirute horas depois de mais uma
noite de bombardeios israelenses à capital.
Devastação
Em visita ao distrito xiita da
cidade, praticamente pulverizado pelos ataques, Egeland
condenou a devastação causada pela ofensiva israelense contra o reduto do Hizbollah e indicou que a ação pode ser considerada uma "violação do direito humanitário internacional". Visivelmente perturbado
pelo cenário, enquanto tentava
caminhar por entre os destroços, Egeland se manifestou
chocado com a "resposta desproporcional" de Israel e apelou aos dois lados que suspendam os ataques. Egeland disse
que pediria US$ 100 milhões
em ajuda e que suprimentos
humanitários da organização
começariam a chegar dentro de
alguns dias. Mas fez uma ressalva: "Precisamos de acesso
seguro. Até agora Israel não está dando esse acesso".
Olmert anunciou há poucos
dias a abertura de um "corredor humanitário" no acesso
marítimo a Beirute, o que tem
permitido a retirada pelo porto
da capital de cidadãos estrangeiros. Mas com os acessos por
terra bombardeados, o transporte de mercadorias tornou-se uma missão perigosa. Em estradas próximas à capital a reportagem da Folha cruzou
com dezenas de caminhões que
usavam panos brancos para indicar que eram civis.
Abertura diplomática
O formato das próximas negociações começará a ser debatido hoje, com a chegada da secretária de Estado dos EUA,
Condoleezza Rice, a Jerusalém.
Ela já afirmou que não pressionará por um cessar-fogo, e a
avaliação atual em Israel é que
o país terá até o próximo domingo, quando Rice volta ao
Oriente Médio, para continuar
atacando o Hizbollah.
Olmert disse cogitar o envio
de uma força militar ativa, liderada por países europeus, que
criaria uma zona-tampão no
Líbano entre Israel e o Hizbollah. Os EUA rejeitaram de
imediato enviar soldados. Em
caso de presença de tropas, é
provável que países árabes, como o Egito, participem.
O ministro da Defesa de Israel, Amir Peretz, afirmou que
o país também pode aceitar tropas da Otan -idéia que tem
apoio do embaixador dos EUA
na ONU, John Bolton.
Apesar de o premiê israelense ter afirmado que considera o
governo libanês um parceiro
para um futuro diálogo, Israel
diz que a ofensiva militar continuará durante as negociações.
O Hizbollah também deu sinais de abertura diplomática. O
presidente do Parlamento libanês, Nabih Beri, disse ontem
que o grupo concordou, pela
primeira vez, que o governo de
Beirute lidere as negociações
sobre uma troca de prisioneiros com Israel. "O governo do
Líbano, por meio de uma terceira parte, vai assumir as negociações. Isso é aceito por nossos irmãos do Hizbollah e por
nós", disse Beri à CNN.
Segundo o chanceler libanês,
Fauzi Saluj, os dois soldados israelenses seqüestrados "gozam
de boa saúde e se encontram
em um lugar seguro".
Síria
A Síria -acusada de, ao lado
do Irã, patrocinar o Hizbollah-
disse estar disposta a dialogar
com os EUA para ajudar a encerrar o conflito, desde que a
iniciativa envolva negociações
para a devolução das colinas de
Golã, que os israelenses capturaram em 1967.
Mas, ao mesmo tempo, Damasco advertiu que vai responder militarmente se tropas israelenses aproximarem-se de
suas fronteiras. É improvável
que Israel aceite dialogar com a
Síria, a qual acusa de envolvimento direto no conflito, e envolver Golã, que foi anexado.
Os EUA também rejeitam
negociar com Damasco.
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