São Paulo, segunda-feira, 24 de julho de 2006

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GUERRA NO ORIENTE MÉDIO

Parques e escolas acolhem refugiados em Beirute

Nabil Mounze/Efe
Refugiados no sul do Líbano acampam em parque de Beirute


Cifra dos que deixam suas casas não pára de crescer; abrigos estão sem comunicação

ONU estima que 900 mil estejam desabrigados por causa de bombardeios na capital e no sul do país; começam a faltar remédios

KAREN MARÓN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM BEIRUTE


Enquanto este artigo era escrito às 17h45 do domingo em um cybercafé a duas quadras do lendário Hotel Commodore de Beirute, localizado na rua Hamra do bairro de mesmo nome, duas fortes explosões interromperam o trabalho. Duas crianças que estavam diante do janelão da loja pararam seu jogo virtual e levantaram seu rosto, olhando para o céu.
Seu temor refletia o de todos os adultos que continuaram a trabalhar em silêncio. A angústia cresceu depois de uma madrugada em que cinco explosões sacudiram Beirute, como conseqüência de novos ataques de aviões F-16 que sobrevoaram a capital durante o dia.
"Haram, Haram (isso é errado, proibido)", diz Ali, um vendedor de café e revistas. Enquanto abre uma publicação libanesa, se pergunta "Limada (por quê?)" e mostra as fotos de crianças carbonizadas e adultos mutilados no sul do Líbano.
"Limada", também se pergunta Betul Fawez, que junto a seus dois filhos, de 6 e 9 anos, chegou a esta capital desde Alchoria, uma das áreas atacadas, transformando-se em mais uma dos mais de 900 mil refugiados atuais. "Esta situação é terrível. Gente inocente está morrendo, crianças como meus filhos. Não temos remédios, não há eletricidade, e com minha mãe, que está doente, tivemos que correr para salvar nossa vida", relata, Betul, 32. O marido está na Nigéria.
"Por que os aviões israelenses nos estão matando? Esta é uma guerra planejada. Por dois soldados israelenses não se ataca todo um país, o motivo é o Hizbollah. É um plano dos Estados Unidos e de Israel para nos destruir", diz.
"Eu amo o povo dos Estados Unidos, mas não gosto do seu governo e dos seus meios de comunicação, que não dizem a verdade e ocultam o que acontece aqui", afirma. "Libaneses cristãos e muçulmanos temos dignidade e estamos juntos. Hoje me sinto forte, mas minha vida mudou porque conheci a guerra. Só tinha visto bombas nos filmes americanos que ensinam a fazer a guerra".
Enquanto Beitul lamenta, nas ruas de Beirute os comboios de camionetes das Nações Unidas estão presentes permanentemente.
Jan Egeland, o principal representante humanitário do organismo, viu os prejuízos produzidos no sul da cidade causados pelos bombardeios israelenses. Depois, anunciou o início de uma missão de ajuda para as regiões devastadas no Líbano, declarando que é necessário colocar fim às hostilidades, pois esta situação provocará mais vítimas civis.

Situação catastrófica
Estimativas da ONU indicam que 900 mil abandonaram seus lares, e a cifra cresce. Enquanto os habitantes de Beirute fogem pela fronteira em direção à Síria ou às montanhas, os libaneses do sul arrasado dormem em praças e escolas onde são atendidos sem uma coordenação governamental. Já se pode chamar a situação de catastrófica.
A ajuda começa a se consolidar na cidade através de organizações políticas. O Movimento Patriótico Livre, do general Michel Aoun, habilitou uma escola no bairro de Antelias para dar assistência aos refugiados que dormem nas classes, distribuídos irregularmente.
As instalações situadas nas montanhas do norte de Beirute se transformaram no refúgio obrigatório de cerca de 400 refugiados. Entre eles Fadia. Proveniente de Saida, tenta fugir da morte junto a seu marido e quatro filhos.
"É o momento mais terrível de nossas vidas. Perdemos nossa casa, não sabemos nada de nossa família e vizinhos, e não podemos nos comunicar", diz.
As comunicações se complicam cada vez mais porque F-16 israelenses destruíram anteontem também retransmissores de comunicações situados no norte e no centro do Líbano, deixando sem sinal a principal rede de televisão do país, outras emissoras de rádio e tevê e afetando várias antenas de telefonia celular.
"Agradecemos a ajuda destes cristãos. Isso demonstra que estamos todos juntos, que são nossos irmãos e não podemos esquecer estes dias de destruição", diz, abraçando Nuha, sua filha de dois anos, quando as lágrimas começam a penetrar seu rosto envolto em um branco hijab. "Não há motivo para matar o povo e destruir todo o Líbano. Isto é similar à Segunda Guerra Mundial", conclui Fadia.


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