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GUERRA NO ORIENTE MÉDIO
Parques e escolas acolhem refugiados em Beirute
Nabil Mounze/Efe
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Refugiados no sul do Líbano acampam em parque de Beirute |
Cifra dos que deixam suas casas não pára de crescer; abrigos estão sem comunicação
ONU estima que 900 mil estejam desabrigados por causa de bombardeios na capital e no sul do país; começam a faltar remédios
KAREN MARÓN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM BEIRUTE
Enquanto este artigo era escrito às 17h45 do domingo em
um cybercafé a duas quadras do
lendário Hotel Commodore de
Beirute, localizado na rua
Hamra do bairro de mesmo nome, duas fortes explosões interromperam o trabalho. Duas
crianças que estavam diante do
janelão da loja pararam seu jogo virtual e levantaram seu rosto, olhando para o céu.
Seu temor refletia o de todos
os adultos que continuaram a
trabalhar em silêncio. A angústia cresceu depois de uma madrugada em que cinco explosões sacudiram Beirute, como
conseqüência de novos ataques
de aviões F-16 que sobrevoaram a capital durante o dia.
"Haram, Haram (isso é errado, proibido)", diz Ali, um vendedor de café e revistas. Enquanto abre uma publicação libanesa, se pergunta "Limada
(por quê?)" e mostra as fotos de
crianças carbonizadas e adultos mutilados no sul do Líbano.
"Limada", também se pergunta Betul Fawez, que junto a
seus dois filhos, de 6 e 9 anos,
chegou a esta capital desde Alchoria, uma das áreas atacadas,
transformando-se em mais
uma dos mais de 900 mil refugiados atuais. "Esta situação é
terrível. Gente inocente está
morrendo, crianças como meus
filhos. Não temos remédios,
não há eletricidade, e com minha mãe, que está doente, tivemos que correr para salvar nossa vida", relata, Betul, 32. O marido está na Nigéria.
"Por que os aviões israelenses nos estão matando? Esta é
uma guerra planejada. Por dois
soldados israelenses não se ataca todo um país, o motivo é o
Hizbollah. É um plano dos Estados Unidos e de Israel para
nos destruir", diz.
"Eu amo o povo dos Estados
Unidos, mas não gosto do seu
governo e dos seus meios de comunicação, que não dizem a
verdade e ocultam o que acontece aqui", afirma. "Libaneses
cristãos e muçulmanos temos
dignidade e estamos juntos.
Hoje me sinto forte, mas minha
vida mudou porque conheci a
guerra. Só tinha visto bombas
nos filmes americanos que ensinam a fazer a guerra".
Enquanto Beitul lamenta,
nas ruas de Beirute os comboios de camionetes das Nações Unidas estão presentes
permanentemente.
Jan Egeland, o principal representante humanitário do
organismo, viu os prejuízos
produzidos no sul da cidade
causados pelos bombardeios israelenses. Depois, anunciou o
início de uma missão de ajuda
para as regiões devastadas no
Líbano, declarando que é necessário colocar fim às hostilidades, pois esta situação provocará mais vítimas civis.
Situação catastrófica
Estimativas da ONU indicam
que 900 mil abandonaram seus
lares, e a cifra cresce. Enquanto
os habitantes de Beirute fogem
pela fronteira em direção à Síria ou às montanhas, os libaneses do sul arrasado dormem em
praças e escolas onde são atendidos sem uma coordenação
governamental. Já se pode chamar a situação de catastrófica.
A ajuda começa a se consolidar na cidade através de organizações políticas. O Movimento
Patriótico Livre, do general Michel Aoun, habilitou uma escola no bairro de Antelias para
dar assistência aos refugiados
que dormem nas classes, distribuídos irregularmente.
As instalações situadas nas
montanhas do norte de Beirute
se transformaram no refúgio
obrigatório de cerca de 400 refugiados. Entre eles Fadia. Proveniente de Saida, tenta fugir
da morte junto a seu marido e
quatro filhos.
"É o momento mais terrível
de nossas vidas. Perdemos nossa casa, não sabemos nada de
nossa família e vizinhos, e não
podemos nos comunicar", diz.
As comunicações se complicam cada vez mais porque F-16
israelenses destruíram anteontem também retransmissores
de comunicações situados no
norte e no centro do Líbano,
deixando sem sinal a principal
rede de televisão do país, outras
emissoras de rádio e tevê e afetando várias antenas de telefonia celular.
"Agradecemos a ajuda destes
cristãos. Isso demonstra que
estamos todos juntos, que são
nossos irmãos e não podemos
esquecer estes dias de destruição", diz, abraçando Nuha, sua
filha de dois anos, quando as lágrimas começam a penetrar
seu rosto envolto em um branco hijab. "Não há motivo para
matar o povo e destruir todo o
Líbano. Isto é similar à Segunda Guerra Mundial", conclui
Fadia.
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