São Paulo, sexta-feira, 24 de julho de 2009

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Ao volante, Zelaya parte rumo a Honduras

Presidente deposto planeja cruzar amanhã fronteira com a Nicarágua; comitiva inclui o chanceler venezuelano, Nicolás Maduro

Ideia é atravessar a fronteira acompanhado de milhares de simpatizantes, que começaram ontem a se mobilizar rumo à divisa

Mayerling Garcia/France Presse
Zelaya inicia marcha rumo a Honduras ao volante de jipe;
ao lado dele, o chanceler venezuelano


FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL À NICARÁGUA

Acompanhado do "Che Guevara nicaraguense" e do chanceler venezuelano, Nicolás Maduro, o presidente deposto Manuel Zelaya completou ontem a primeira etapa de sua segunda tentativa de voltar a Honduras depois que foi expulso do país, há quase quatro semanas.
A comitiva de Zelaya deixou a Embaixada de Honduras na Nicarágua por volta das 16h50 locais (19h50 em Brasília). Pouco mais de três horas depois da saída de Manágua, chegou a Estelí (160 km ao norte), cerca de metade do caminho até a linha fronteiriça.
Zelaya disse que hoje pretende chegar até Ocotal e Somoto, cidades nicaraguenses fronteiriças. Ele prometeu atravessar a fronteira com Honduras amanhã e exortou seus seguidores a dirigir-se à região. A ideia é atravessar a fronteira a pé acompanhado de milhares de simpatizantes. "Defender seus direitos não é provocação ou violência, é um ato de dignidade", disse Zelaya na partida.
Ao seu lado, estava sentado o legendário Éden Pastora, o "comandante zero", ex-guerrilheiro sandinista que sequestrou todo o Congresso, em agosto de 1978, durante a ditadura da família Somoza, derrubada no ano seguinte após mais de quatro décadas no poder.
"O presidente Zelaya está fazendo uma revolução civilizada, enquanto a direita está violando todas as leis de Honduras", disse Pastora, que prometeu acompanhá-lo "até onde seja possível fisicamente".
Já o chanceler Maduro ficou longe de Zelaya e das câmeras. Questionado pela Folha até onde acompanharia a comitiva, disse: "até a vitória, sempre".
Para a viagem, o presidente deposto escolheu um rústico jipe Wrangler branco, comprado ontem de manhã. Foi o próprio Zelaya que saiu dirigindo o carro, com Maduro ao lado.
Além de cerca de 20 automóveis, participavam da caravana carros de escolta policial, picapes hondurenhas carregando simpatizantes e vários jornalistas, entre os quais a reportagem da Folha. Não havia sinal de pessoas armadas.
No percurso até Estelí, ao passar pela localidade de Vale de Sebaco, o grupo foi recebido com fogos de artifício. Cerca de cem militantes sandinistas saudaram Zelaya com músicas da época da guerrilha (1979).
No último dia 5, Zelaya, que foi deposto em 28 de junho, tentou aterrissar na capital hondurenha, Tegucigalpa, mas a pista foi bloqueada por militares. Confrontos com as forças de segurança deixaram dois manifestantes mortos.
A nova tentativa de voltar ao país acontece um dia após Zelaya ter considerado "fracassada" a tentativa de mediação entre ele e o governo golpista conduzida pelo presidente costa-riquenho, Óscar Arias.
O governo golpista liderado por Roberto Micheletti promete deter Zelaya caso ele entre no país. O líder deposto é acusado de 18 crimes vinculados à sua tentativa de promover uma consulta sobre uma Assembleia Constituinte que Justiça e Congresso consideram ilegal.

Apoio interno
O chamado de Zelaya teve eco em Honduras. Centenas de apoiadores rumaram à fronteira em ônibus e carros, na altura da cidade de Las Manos. A caravana parou em barreira militar a 10 km da divisa. Só alguns manifestantes seguiram a pé.
A Polícia de Trânsito informou que há bloqueios em ao menos seis estradas do país. De acordo com Juan Barahona, um dos dirigentes da Frente Nacional de Resistência contra o Golpe, que apoia Zelaya, são 11 os pontos interrompidos.
Em todo o país as escolas não funcionaram ontem por ordem do sindicato nacional dos professores, pró-Zelaya. Servidores públicos também conseguiram bloquear alguns hospitais, que estão sob escolta militar.
Ontem, uma missão integrada por 15 observadores de ONGs defensoras de direitos humanos da Europa e América Latina acusou o governo golpista de realizar prisões arbitrárias, inclusive de estrangeiros, e relacionou o regime a cinco execuções extrajudiciais.
O relatório cita como vítimas o jornalista Gabriel Fino Noriega, o político Ramón García e o sindicalista Roger Iván Bados.


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