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Ao volante, Zelaya parte rumo a Honduras
Presidente deposto planeja cruzar amanhã fronteira com a Nicarágua; comitiva inclui o chanceler venezuelano, Nicolás Maduro
Ideia é atravessar a fronteira acompanhado de milhares de simpatizantes, que começaram ontem a se mobilizar rumo à divisa
Mayerling Garcia/France Presse
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Zelaya inicia marcha rumo a Honduras ao volante de jipe;
ao lado dele, o chanceler venezuelano
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL À NICARÁGUA
Acompanhado do "Che Guevara nicaraguense" e do chanceler venezuelano, Nicolás Maduro, o presidente deposto Manuel Zelaya completou ontem a
primeira etapa de sua segunda
tentativa de voltar a Honduras
depois que foi expulso do país,
há quase quatro semanas.
A comitiva de Zelaya deixou a
Embaixada de Honduras na Nicarágua por volta das 16h50 locais (19h50 em Brasília). Pouco
mais de três horas depois da
saída de Manágua, chegou a Estelí (160 km ao norte), cerca de
metade do caminho até a linha
fronteiriça.
Zelaya disse que hoje pretende chegar até Ocotal e Somoto,
cidades nicaraguenses fronteiriças. Ele prometeu atravessar
a fronteira com Honduras amanhã e exortou seus seguidores a
dirigir-se à região. A ideia é
atravessar a fronteira a pé
acompanhado de milhares de
simpatizantes. "Defender seus
direitos não é provocação ou
violência, é um ato de dignidade", disse Zelaya na partida.
Ao seu lado, estava sentado o
legendário Éden Pastora, o "comandante zero", ex-guerrilheiro sandinista que sequestrou
todo o Congresso, em agosto de
1978, durante a ditadura da família Somoza, derrubada no
ano seguinte após mais de quatro décadas no poder.
"O presidente Zelaya está fazendo uma revolução civilizada, enquanto a direita está violando todas as leis de Honduras", disse Pastora, que prometeu acompanhá-lo "até onde seja possível fisicamente".
Já o chanceler Maduro ficou
longe de Zelaya e das câmeras.
Questionado pela Folha até
onde acompanharia a comitiva,
disse: "até a vitória, sempre".
Para a viagem, o presidente
deposto escolheu um rústico jipe Wrangler branco, comprado
ontem de manhã. Foi o próprio
Zelaya que saiu dirigindo o carro, com Maduro ao lado.
Além de cerca de 20 automóveis, participavam da caravana
carros de escolta policial, picapes hondurenhas carregando
simpatizantes e vários jornalistas, entre os quais a reportagem da Folha. Não havia sinal
de pessoas armadas.
No percurso até Estelí, ao
passar pela localidade de Vale
de Sebaco, o grupo foi recebido
com fogos de artifício. Cerca de
cem militantes sandinistas
saudaram Zelaya com músicas
da época da guerrilha (1979).
No último dia 5, Zelaya, que
foi deposto em 28 de junho,
tentou aterrissar na capital
hondurenha, Tegucigalpa, mas
a pista foi bloqueada por militares. Confrontos com as forças de segurança deixaram dois
manifestantes mortos.
A nova tentativa de voltar ao
país acontece um dia após Zelaya ter considerado "fracassada" a tentativa de mediação entre ele e o governo golpista conduzida pelo presidente costa-riquenho, Óscar Arias.
O governo golpista liderado
por Roberto Micheletti promete deter Zelaya caso ele entre
no país. O líder deposto é acusado de 18 crimes vinculados à
sua tentativa de promover uma
consulta sobre uma Assembleia Constituinte que Justiça
e Congresso consideram ilegal.
Apoio interno
O chamado de Zelaya teve
eco em Honduras. Centenas de
apoiadores rumaram à fronteira em ônibus e carros, na altura
da cidade de Las Manos. A caravana parou em barreira militar
a 10 km da divisa. Só alguns manifestantes seguiram a pé.
A Polícia de Trânsito informou que há bloqueios em ao
menos seis estradas do país. De
acordo com Juan Barahona,
um dos dirigentes da Frente
Nacional de Resistência contra
o Golpe, que apoia Zelaya, são
11 os pontos interrompidos.
Em todo o país as escolas não
funcionaram ontem por ordem
do sindicato nacional dos professores, pró-Zelaya. Servidores públicos também conseguiram bloquear alguns hospitais,
que estão sob escolta militar.
Ontem, uma missão integrada por 15 observadores de
ONGs defensoras de direitos
humanos da Europa e América
Latina acusou o governo golpista de realizar prisões arbitrárias, inclusive de estrangeiros, e relacionou o regime a cinco execuções extrajudiciais.
O relatório cita como vítimas
o jornalista Gabriel Fino Noriega, o político Ramón García e o
sindicalista Roger Iván Bados.
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