São Paulo, sexta-feira, 24 de julho de 2009

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Israel quer que Brasil decida de que lado está

Membro de delegação de Liberman diz que Itamaraty precisa optar se é aliado de Estado judaico ou de seu rival Irã

Depois de receber chanceler israelense, Brasília aguarda visita do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad, que nega o Holocausto

SAMY ADGHIRNI
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

Chegará o dia em que o Brasil deverá escolher de que lado está entre Israel e Irã. O alerta é de um dos mais altos membros da delegação do chanceler Avigdor Liberman, que ontem continuou pela Argentina seu giro sul-americano iniciado em São Paulo na terça-feira.
A advertência foi feita à Folha, sob condição de anonimato, durante jantar oferecido anteontem pelo embaixador de Israel no Brasil, Giora Becher, à comitiva ministerial e a alguns convidados brasileiros.
O evento, ocorrido no salão de um hotel de Brasília, propiciou conversas informais que traduziram as impressões da delegação israelense após os encontros com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o chanceler Celso Amorim.
Liberman entendeu que o Brasil não vê o programa nuclear do Irã -que Teerã diz ser pacífico- como uma ameaça global e que o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, será bem recebido quando vier neste ano a Brasília.
Questionado duas vezes pela Folha, o ministro não respondeu se a visita de Ahmadinejad afetaria a viagem ao Brasil do presidente israelense, Shimon Peres, prevista para novembro.
Liberman repassou para o Brasil a saia justa diplomática.
"Cabe [aos brasileiros] decidirem se querem mesmo receber um líder que ameaça o mundo e promove todo ano um evento de pessoas que negam o Holocausto", disse o ministro aos convidados do jantar.
Segundo um assessor de Liberman, a estratégia de "ser amigo de todo mundo" atrapalha planos da diplomacia brasileira de transformar o Brasil numa potência geopolítica e de conquistar um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU.
O mesmo colaborador ressaltou que a viagem ao Brasil não buscava "revolucionar" a política externa do governo Lula, mas apresentar a visão israelense e lançar as bases para um diálogo mais próximo.
Vários membros da delegação pediram aos brasileiros presentes no jantar informações sobre a Venezuela, principal aliada do Irã na região.

Concessões
Liberman também aproveitou o jantar para expor em detalhes algumas de suas ideias controversas para pôr fim à violência no Oriente Médio.
O ministro fustigou acordos de paz firmados por governos israelenses anteriores, culpou os palestinos pelo impasse nas conversas e minimizou o conflito israelo-árabe, dizendo que ele é responsável por uma parte irrelevante das mortes em guerras na região.
O chanceler só sorriu duas vezes ao longo do jantar. Uma ao falar da admiração pelo futebol brasileiro, outra ao ironizar as pretensões pacíficas do programa nuclear iraniano -"o Irã quer mísseis de longo alcance para espalhar a paz de suas centrais atômicas".
Colaboradores confirmaram a fama de durão de Liberman, mas disseram que o premiê Binyamin Netanyahu é ainda mais linha-dura em relação aos palestinos.
Segundo assessores, o chanceler, que prega um contrato de lealdade ao Estado judaico para cidadãos árabes israelenses, tem consciência da imagem de racista -o secretário de Relações Internacionais do PT, Valter Pomar, inclusive o definiu assim em entrevista à imprensa israelense-, mas também é visto como íntegro e sincero.
Liberman foi nomeado chanceler depois que seu partido, o ultranacionalista Israel Beitenu, foi o terceiro mais votado nas eleições de fevereiro, tornando-se peça central da coalizão governista de Netanyahu.
"A diferença é que nós não temos medo de falar alto aquilo que no fundo todos os israelenses pensam", disse à Folha Faina Kirschenbaum, diretora-geral do Israel Beitenu.


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