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São Paulo, domingo, 24 de agosto de 2003

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COLÔMBIA

Guerrilha tenta retomar contatos, rompidos desde o recrudescimento de suas ações terroristas, com o fim das negociações

Isoladas, Farc lançam ofensiva diplomática

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL À COLÔMBIA

Isoladas desde o fim das negociações com o governo colombiano, em 2002, e sob intensa ofensiva militar, as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) retomaram neste mês uma política de propor negociações com intermediação da ONU e da Igreja Católica, além de contatos com a imprensa internacional.
A convite da guerrilha terrorista marxista, a reportagem da Folha esteve nesta semana em área do território colombiano controlado pelas Farc, onde foi recebida por Raúl Reyes, 52, ex-negociador e um dos sete membros do Estado-Maior do grupo, subordinado apenas ao septuagenário líder Manuel "Tirofijo" Marulanda.
Dias antes, Reyes já havia sido entrevistado por dois jornalistas, interrompendo um período de silêncio iniciado após o fim das negociações, encerradas pelo então presidente Andrés Pastrana em 20 de fevereiro de 2002. Naquele dia, as Farc desviaram um avião e sequestraram o senador Jorge Eduardo Gechem Tubay.
A nova estratégia das Farc ocorre no mês em que o presidente Álvaro Uribe completa seu primeiro ano de governo. O sucessor de Pastrana se elegeu sobretudo pelo discurso de combate aos grupos armados colombianos, que, além das Farc, incluem narcotraficantes e os grupos paramilitares.
Uribe intensificou as ações militares contra as Farc e, recentemente, obteve dos EUA a promessa de intensificação da ajuda militar ao país, dentro do Plano Colômbia, que assegurou mais de US$ 2 bilhões ao país para o combate ao narcotráfico -fonte de financiamento dos grupos ilegais, incluindo as Farc. Num claro sinal de apoio, Uribe recebeu nesta semana a visita do secretário da Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld.
O presidente ironizou a nova ofensiva de comunicação das Farc, ao pedir que os líderes do grupo "falem como mulheres firmes ou varões definidos". Para ele os guerrilheiros buscam enganar o país "com essas vozinhas melífluas, efeminadas, que cansaram o país, umas vozinhas que mandam ordens para sequestrar aviões e executar atos terroristas".
A política ofensiva, no entanto, tem produzidos resultados discutíveis. O governo afirma ter conseguido anular o avanço das Farc. Para o analista Alfredo Rangel, ex-assessor de Segurança Nacional de Pastrana, as Farc, a um ano de seu 40º aniversário e com uma força estimada em 17 mil homens, estão longe de ser derrotadas.
"A guerrilha não está em covas. Fez uma retirada calculada e planejada", disse Rangel, em fórum realizado nesta semana, segundo o jornal "El Tiempo".
As Farc, naturalmente, também negam que estejam perdendo a guerra. Questionado sobre a diminuição de ações da guerrilha, Reyes disse à Folha: "Não estamos competindo para ver quantas ações fazemos. As Farc realizam suas ações quando consideram necessárias".
Cerca de 3.500 colombianos morrem a cada a ano em decorrência do conflito armado que atinge o país há décadas.
Depois de passar três anos e meio recebendo jornalistas na zona desmilitarizada criada pelo governo e enviando missões ao exterior, o grupo guerrilheiro está cada vez mais isolado após ter aumentado ataques contra alvos civis, como pontes e redes elétricas.
As Farc também se recusam a libertar os diversos "sequestrados ilustres", entre eles a ex-senadora e ex-candidata a presidente, Ingrid Betancourt. A guerrilha de esquerda também é acusada de se associar a grupos de narcotraficantes, entre eles o do brasileiro Fernandinho Beira-Mar, ligação que Reyes negou.
A ONU confirma atuar como intermediária nos contatos entre as Farc e o governo colombiano, mas não divulga informações para não atrapalhar as negociações.


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