São Paulo, quarta-feira, 24 de agosto de 2005

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TERROR EM LONDRES

Para enviados, polícia não omite informações sobre o caso Jean Charles; prazo do inquérito vai até dezembro

Missão brasileira descarta má-fé britânica

GABRIELA BOEING
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE LONDRES

Os representantes enviados pelo governo brasileiro ao Reino Unido para acompanhar as investigações sobre a morte do eletricista Jean Charles de Menezes afirmaram ontem que não há motivos para acreditar que a polícia britânica teria tentado esconder informações ou atrasar a investigação sobre o caso. Eles negaram também que a viagem a Londres tenha sido motivada pelo vazamento de informações do relatório de investigação da Comissão Independente de Queixas sobre a Polícia (IPCC).
"Ficamos perplexos com as informações divulgadas, mas não temos motivos para prejulgar o trabalho da polícia e não viemos para tentar interferir no trabalho da IPCC, mas apenas para entender o que está sendo feito", afirmou Manoel Gomes Pereira, embaixador para comunidades brasileiras no exterior.
A IPCC afirmou que o relatório de investigação sobre a morte de Menezes será concluído em dezembro, mas só será divulgado após a Procuradoria britânica decidir se haverá processo criminal ou disciplinar. Até lá, a comissão afirmou em nota que não fornecerá detalhes da investigação.
O prazo foi tido como apropriado por Harriet Wistrich, um dos advogados da família de Menezes.
A missão formada por Manoel Pereira, por Márcio Pereira Pinto Garcia, do Ministério da Justiça, e pelo subprocurador-geral da República Wagner Gonçalves esteve reunida anteontem com diretores da polícia britânica.
"John Yates [vice-comissário-assistente] disse que, uma hora após Jean ter sido morto na estação de Stockwell, a polícia enviou uma carta à IPCC. É o procedimento normal. Ele disse que a IPCC só assumiu a investigação 72 horas depois por causa das suspeitas da polícia", afirmou Garcia.
O comissário da polícia, Ian Blair, participou de parte da reunião com os brasileiros, mas fez "apenas alguns comentários".
A reunião também tratou da compensação de 15 mil libras (cerca de R$ 75 mil) oferecida pela polícia à família de Menezes. "Ficou claro que o dinheiro não foi oferecido com intenção de interferir em um futuro processo e indenização", afirmou Garcia.
Gonçalves disse que um dos principais objetivos da missão brasileira é entender como a IPCC trabalha. Segundo ele, a visita vinha sendo negociada desde o dia 25 de julho, quando o chanceler Celso Amorim esteve com seu colega britânico, Jack Straw.
"Houve um atraso na agenda e foi coincidência termos chegado agora", afirmou o subprocurador-geral. "Acreditamos que eles estejam realizando um trabalho independente da polícia. E, se for independente mesmo, o trabalho trará resultados", acrescentou.
Os enviados brasileiros ficam em Londres até sexta-feira. Até lá, ainda pretendem se encontrar com os advogados da família do eletricista morto.
Hoje à tarde, o grupo se reunirá com o diretor da IPCC, Nick Hardwick. "Vamos pedir acesso ao vídeo", disse Gonçalves, referindo-se às imagens gravadas pelas câmeras de segurança da estação de Stockwell no dia da morte de Menezes.
Segundo reportagens publicadas por jornais britânicos anteontem, as fitas do circuito interno teriam sido deliberadamente apagadas. Ontem, funcionários do metrô negaram a um jornal londrino a versão da polícia de que as câmeras não estavam funcionando no dia 22 de julho e, por isso, não havia imagens do incidente.


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