|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
opinião
Proposta é vitória de moderados
ABBAS MALEKI
KAVEH L. AFRASIABI
Depois de adiar por meses
sua resposta ao pacote de incentivos oferecido pelos cinco membros permanentes
do Conselho de Segurança
mais a Alemanha (P5+1), o
Irã enviou uma resposta detalhada que coloca a bola do
jogo diplomático de volta no
campo do P5+1.
Ao mesmo tempo em que
rejeita a exigência de suspensão imediata de suas atividades de enriquecimento de
urânio, a resposta do Irã deixa aberta a porta para negociações sérias e, possivelmente, uma solução do impasse nuclear que seja aceitável para todas as partes.
Ao concordar em colocar
sobre a mesa a questão da
suspensão das atividades de
enriquecimento e em iniciar
as conversações imediatamente, o Irã enviou um sinal
forte de que o debate interno
entre os diferentes centros
de poder da liderança iraniana terminou em favor das vozes moderadas, buscando
uma solução mutuamente
satisfatória do impasse nuclear com o Ocidente. Será
uma pena se Washington
desprezar esta oportunidade
de uma negociação justa, especialmente quando se consideram os detalhes da resposta iraniana.
O Irã buscou esclarecimentos sobre uma série de
questões, incluindo as seguintes:
1) O pacote de incentivos
menciona que os direitos do
Irã sob os termos do Tratado
de Não-Proliferação Nuclear
(TNP) serão respeitados,
mas os artigos do TNP mencionados são os 1 e 2, relativos à não-proliferação, e não
o artigo 4, relativo ao "direito
inalienável" dos países de adquirir tecnologia nuclear.
2) O Irã quer garantias de
cumprimento das propostas
de assistência nuclear, tais
como a venda de reatores de
água leve e fornecimento seguro de combustível nuclear.
3) O Irã quer esclarecimentos sobre a situação das
sanções dos EUA que, no
momento, impedem a concretização dessas ofertas de
assistência: os EUA estão
dispostos a levantar algumas
sanções ou mesmo todas?
4) A promessa de um acordo de cooperação entre o Irã
e a Euratom (Comunidade
Européia de Energia Atômica) precisa ser detalhada.
5) A referência breve à segurança e a menção que o pacote de incentivos faz à participação do Irã em um esquema de "segurança regional"
precisam ser esclarecidas.
6) O cronograma de concretização dos incentivos
precisa ser especificado, inclusive os incentivos econômicos e comerciais.
Ademais, a resposta do Irã
indica que o país está disposto a voltar a adotar o Protocolo Adicional da Agência Internacional de Energia Atômica [que prevê inspeções-surpresa] e a incorporá-lo à
sua legislação, como parte de
um acordo final.
Está claro, em vista da relação estreita entre a questão
nuclear e a identidade política iraniana, que ninguém deve se surpreender pelo fato
de os líderes iranianos terem
optado por não cometer suicídio político, suspendendo
sob pressão o ciclo de combustível nuclear. Mas, longe
de rejeitar essa exigência, a
resposta iraniana deixa clara
sua viabilidade, especialmente se seus direitos abstratos, conforme o previsto
no artigo 4 do TNP, forem
explicitamente reconhecidos pelo P5+1.
Diante de um público interno sensível aos seus direitos, Teerã vai considerar a
possibilidade de suspender o
ciclo de combustível nuclear
se e quando se sentir honrada em uma questão de princípio, de uma maneira que
crie soluções propícias à
idéia da suspensão.
Agora o Conselho de Segurança da ONU tem um papel
único a desempenhar, para
inviabilizar ou catalisar a
oportunidade aberta pela
resposta do Irã -para colocar o gênio da crise nuclear
iraniano de volta na garrafa.
Kofi Annan já está diretamente envolvido em negociações com Teerã e resolver
a disputa nuclear pode acabar sendo um dos legados
duradouros do secretário-geral da ONU em final de
mandato.
Se os EUA optarem por ignorar esta oportunidade e
propor a adoção de sanções
da ONU contra o Irã, será
preparado o palco para uma
crise internacional de grandes dimensões.
ABBAS MALEKI é diretor do Instituto Internacional de Estudos Cáspios, em Teerã, e atualmente pesquisador sênior na Escola
Kennedy de Governo da Universidade Harvard
KEVAH AFRASIABI é cientista político e autor de "Iran's Nuclear Program: Debating Facts vs. Fiction"
Tradução de Clara Allain
Texto Anterior: Resposta do Irã não satisfaz pedido da ONU, dizem EUA Próximo Texto: Argentina retoma plano de enriquecimento de urânio Índice
|