São Paulo, sexta-feira, 24 de agosto de 2007

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Funerárias de Caracas criam regras contra violência em velórios

Proliferação de gangues e mortes em ajuste de contas levam a medidas extremas; cadáveres com muitos tiros são recusados

"Quem leva 40 tiros num roubo?", pergunta gerente de funerária; corpos só são velados até 22h para evitar invasão de criminosos

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

O aumento da violência e a proliferação de gangues na capital venezuelana levaram as funerárias locais a estabelecerem regras para tentar conter atos violentos e festas barulhentas durante os velórios. As restrições incluem recusar cadáveres com mais de três tiros e corpos de "motorizados", variação local do motoboy.
"Trabalhamos com os baleados de acordo com os tiros que têm", explica Magaly Figuera, gerente da funerária San Pedro, que tenta evitar funerais de "malandros", mortos geralmente em ajustes de contas. "Podemos aceitar até três tiros, mas o que tiver oito, 40, nunca. Quem leva tantos tiros num roubo?"
Há cinco anos na função, Figuera, 43, já teve uma pistola apontada para a cabeça e perdeu a conta das vezes em que o carro funerário foi seqüestrado no trajeto até cemitério. Em geral, o corpo é levado ao "barrio" onde a vítima morava ou a prostíbulos para uma última homenagem. Outra "homenagem" comum é abrir o caixão no velório para jogar rum, maconha e outros objetos dos quais o defunto gostava.
Para tentar coibir esses excessos, os sócios da Câmara Nacional de Empresas Funerárias e Cemitérios (Canadefu) aprovaram duras normas de segurança, como fechar as portas depois das 22h.

Gangue pikachu
Segundo o diretor da Canadefu Justo Bonilla, algumas funerárias já limitaram a apenas duas horas os velórios de mortos por morte violenta, embora essa proposta não seja da entidade. Outras já deixaram de aceitar pessoas assassinadas.
Figuera diz que as regras não são suficientes para impedir velórios indesejados. Ela conta que, no sábado passado, recebeu Zenobia Mendoza, cujo filho de criação, Jeison Mendoza, 25, havia sido assassinado com um tiro no mesmo dia.
A gerente diz que aceitou o velório por causa da "boa impressão" da mãe, mas ela não tinha dinheiro o suficiente para pagar o serviço na funerária. O velório acabou sendo realizado na violenta região do Petare. No domingo à noite, quatro homens identificados como a "gangue pikachu" invadiram a capela e começaram a disparar. Três pessoas morreram e pelo menos 11 ficaram feridas, entre elas a mãe, na mão.
Os tiros atingiram até mesmo o cadáver, que teve de passar por uma segunda autópsia para novamente retirar projéteis. Os quatro assassinatos se somaram a outros 47 homicídios ocorridos na grande Caracas (5 milhões de habitantes) no último fim de semana.
Pesquisas de opinião mostram que há dois anos a violência se transformou na principal preocupação nacional. Segundo levantamento divulgado nesta semana pela instituto Hinterlaces, 80% dos entrevistados consideram a insegurança o maior problema do país.
O aumento da violência é negado pelo governo. O ministro do Interior (Justiça), Pedro Carreño, disse que a imprensa é a responsável pela sensação de insegurança e que age para derrubar o presidente venezuelano, Hugo Chávez.

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