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Funerárias de Caracas criam regras contra violência em velórios
Proliferação de gangues e mortes em ajuste de contas levam a medidas extremas; cadáveres com muitos tiros são recusados
"Quem leva 40 tiros num roubo?", pergunta gerente de funerária; corpos só são velados até 22h para evitar invasão de criminosos
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
O aumento da violência e a
proliferação de gangues na capital venezuelana levaram as
funerárias locais a estabelecerem regras para tentar conter
atos violentos e festas barulhentas durante os velórios. As
restrições incluem recusar cadáveres com mais de três tiros e
corpos de "motorizados", variação local do motoboy.
"Trabalhamos com os baleados de acordo com os tiros que
têm", explica Magaly Figuera,
gerente da funerária San Pedro,
que tenta evitar funerais de
"malandros", mortos geralmente em ajustes de contas.
"Podemos aceitar até três tiros,
mas o que tiver oito, 40, nunca.
Quem leva tantos tiros num
roubo?"
Há cinco anos na função, Figuera, 43, já teve uma pistola
apontada para a cabeça e perdeu a conta das vezes em que o
carro funerário foi seqüestrado
no trajeto até cemitério. Em geral, o corpo é levado ao "barrio"
onde a vítima morava ou a
prostíbulos para uma última
homenagem. Outra "homenagem" comum é abrir o caixão
no velório para jogar rum, maconha e outros objetos dos
quais o defunto gostava.
Para tentar coibir esses excessos, os sócios da Câmara Nacional de Empresas Funerárias
e Cemitérios (Canadefu) aprovaram duras normas de segurança, como fechar as portas
depois das 22h.
Gangue pikachu
Segundo o diretor da Canadefu Justo Bonilla, algumas funerárias já limitaram a apenas
duas horas os velórios de mortos por morte violenta, embora
essa proposta não seja da entidade. Outras já deixaram de
aceitar pessoas assassinadas.
Figuera diz que as regras não
são suficientes para impedir
velórios indesejados. Ela conta
que, no sábado passado, recebeu Zenobia Mendoza, cujo filho de criação, Jeison Mendoza, 25, havia sido assassinado
com um tiro no mesmo dia.
A gerente diz que aceitou o
velório por causa da "boa impressão" da mãe, mas ela não tinha dinheiro o suficiente para
pagar o serviço na funerária. O
velório acabou sendo realizado
na violenta região do Petare.
No domingo à noite, quatro homens identificados como a
"gangue pikachu" invadiram a
capela e começaram a disparar.
Três pessoas morreram e pelo
menos 11 ficaram feridas, entre
elas a mãe, na mão.
Os tiros atingiram até mesmo o cadáver, que teve de passar por uma segunda autópsia
para novamente retirar projéteis. Os quatro assassinatos se
somaram a outros 47 homicídios ocorridos na grande Caracas (5 milhões de habitantes)
no último fim de semana.
Pesquisas de opinião mostram que há dois anos a violência se transformou na principal
preocupação nacional. Segundo levantamento divulgado
nesta semana pela instituto
Hinterlaces, 80% dos entrevistados consideram a insegurança o maior problema do país.
O aumento da violência é negado pelo governo. O ministro
do Interior (Justiça), Pedro
Carreño, disse que a imprensa é
a responsável pela sensação de
insegurança e que age para derrubar o presidente venezuelano, Hugo Chávez.
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