São Paulo, domingo, 24 de agosto de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / CHAPA COMPLETA

Obama escolhe vice branco e experiente como seu contrapeso

Senador Joe Biden, 65, é ainda especialista em política externa e tem penetração na classe operária, setores onde Obama vai mal

Escolhido, no entanto, é conhecido como "máquina de gafes" e já fez críticas à inexperiência do candidato para comandar Casa Branca

John Gress/Reuters
Barack Obama cumprimenta Joe Biden no primeiro ato após sua confirmação como vice na chapa


SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Depois de dois meses de suspense e em meio à crise por que passa sua campanha, o democrata Barack Obama anunciou ontem seu companheiro de chapa na corrida pela sucessão presidencial norte-americana. Será o senador Joseph Biden, do Estado de Delaware, que ajuda o candidato do partido da oposição em quase todos os pontos em que é vulnerável.
Aos 65 anos e em Washington desde 1972, tem mais experiência em política externa, é quase duas décadas mais velho que o companheiro de 47 anos, conhece mais as entranhas da capital do país, tem credenciais patriotas, é católico e é branco. A ausência dessas características em Obama tem sido apontada como ponto fraco nas pesquisas de intenção de voto.
Membro do importante Comitê de Relações Exteriores do Senado desde 1975 e seu atual presidente, Biden viajou à Geórgia nos últimos dias, a pedido do presidente Mikhail Saakashvili, no auge da crise com a Rússia. Apesar de ter votado a favor da invasão do Iraque, que visitou diversas vezes, o político virou um dos principais críticos de George W. Bush na condução da guerra. Seu filho, capitão Beau Biden, da Guarda Nacional, deve ser enviado àquele front em outubro.
Por fim, pesaram na escolha as origens do político, nascido na Pensilvânia -um dos Estados sem favorito definido destas eleições e onde Obama saiu-se mal nas primárias- e criado em família de trabalhadores de baixa renda, outra fatia do eleitorado em que Obama patina.
A decisão chega nas vésperas do início da Convenção Democrata, amanhã, e num momento em que a campanha do democrata reavalia suas táticas, depois de ver o republicano John McCain encostar e, segundo alguns levantamentos recentes, ultrapassar Obama em pesquisas nacionais.
"Joe Biden traz uma extensa experiência em política externa", diz comunicado no site oficial do democrata, que elogia ainda seu trabalho bipartidário e sua capacidade de resolver problemas. O nome foi primeiro noticiado pela CNN, à 0h52 local (1h52 de Brasília), e confirmado em e-mail enviado pela campanha às 5h23 de ontem.
Obama havia prometido anunciar a escolha primeiro para os que apoiavam sua candidatura por mensagem de texto via celular, mas até às 13h de ontem nem todos os 2 milhões de cadastrados haviam recebido o aviso. Com a decisão, findam as especulações sobre a chamada "chapa dos sonhos", que levaria a ex-primeira-dama Hillary Clinton ao cargo.
Apesar da grande expectativa pelo anúncio, o candidato a vice não é garantia de vitória ou derrota. Em 2000, Joe Lieberman atrapalhou o democrata Al Gore ao ser tíbio em relação à batalha judicial pelos votos da Flórida contra George Bush; em 2004, no final da corrida, John Edwards se desentendeu com John Kerry. As duas chapas perderam as eleições.
Ainda assim, na era Bush, o cargo ganhou importância, muito por conta de seu atual titular, o falcão Dick Cheney, um dos artífices da Guerra do Iraque e, mais amplamente, da polêmica estratégia da Casa Branca na "guerra ao terror".

"Articulado e limpo"
A escolha de Biden (pronuncia-se Báiden) não chega sem polêmica. Definido por mais de um articulista político como "máquina de gafes", o senador foi acusado de plágio em sua primeira tentativa de ser indicado a candidato democrata à presidência, em 1987, e causou constrangimento em 2007 ao dizer que Obama era o "primeiro afro-americano" que "é articulado, brilhante, limpo e bem-apessoado".
Depois, ligaria ao agora colega de chapa para se desculpar, dizendo que se referia ao fato de Obama ser o primeiro candidato negro com chances reais de chegar à Casa Branca. Obama respondeu que não era preciso pedir desculpas.
Já na manhã de ontem, a campanha de John McCain colocou no ar anúncio em que Biden critica o agora companheiro de chapa em 2007, quando ambos disputavam a vaga democrata, ao dizer que a Casa Branca não era lugar para pessoas inexperientes.
Três senadores republicanos, porém, vieram a público elogiar a escolha do companheiro de Casa. "Ele é o parceiro certo para Obama, e sua escolha é uma boa notícia para os EUA", disse Chuck Hagel, ecoado por Richard Lugar e Arlen Specter.


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