São Paulo, domingo, 24 de agosto de 2008

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DISPUTA VOTO A VOTO

Divididos por fé, cor e geração

Capacidade de garantir voto dos independentes, dos jovens e das minorias definirá o 44º presidente

Andrea Murta, da Redação

Se há quatro anos o vo- to conservador carregou George W. Bush de volta à Casa Branca, hoje políticos e analistas esmiúçam o eleitorado americano para tentar antecipar quem fará pender a balança na escolha de seu 44º presidente. E descobrem que, em um país onde 60% dos eleitores não votam, a chave do Salão Oval será daquele que tirar negros, religiosos ou independentes de casa em 4 de novembro.
Pode ser cedo para fazer previsões: segundo estudo do Centro de Pesquisas Pew neste mês, um terço dos eleitores ainda não se decidiu entre o democrata Barack Obama e o republicano John McCain. Mas, com base em resultados de 2004 e pesquisas, é possível identificar algumas tendências que merecem observação.
Alexander Keyssar, especialista em política americana da Universidade Harvard, destaca o papel emergente do eleitorado negro neste ano. Mas não pelo apoio maciço a Obama (de 88%, diz o Pew). Em 2004, o candidato democrata John Kerry conquistou cerca de 82% dos votos dos negros. E perdeu.
"A diferença", afirma Keyssar, "é que neste ano ano devemos ter um volume muito maior de negros indo às urnas". Ele aponta também eleitores brancos da classe trabalhadora como grupo-chave. Obama tem tido dificuldade em conquistar esses eleitores, que, apesar da tendência democrata por razões econômicas, preferiram Hillary Clinton nas prévias.
"Pode haver certa relutância em votar em um negro", diz o analista. "E eles tendem a ser nacionalistas em política externa", o que não favorece o senador de tom multilateralista. Observando apenas o critério de raça, os brancos têm preferido os republicanos. Em 2004, 58% votaram em Bush, e 41% em Kerry, de acordo com a boca-de-urna da rede CNN feita à época. Neste mês, o Pew encontrou 51% de preferência para McCain e 39% para Obama.
Outro grupo importante é a comunidade latina, que para Keyssar deve votar mais no Partido Democrata do que em 2004 (quando 40% apoiaram Bush). Mas a previsão é perigosa: no começo da temporada de primárias, só 15% dos latinos apoiavam Obama, contra 59% que preferiam Hillary.
De novo, o foco é o aumento da participação. De 2000 a 2004, houve um crescimento de 27% no comparecimento do grupo, o que significou 7,6 milhões de latinos votando para presidente. Agora, está previsto 1 milhão de eleitores a mais.
A inclinação das diversas faixas etárias também é alvo de minuciosa análise. Um dos motivos é o aparente entusiasmo do eleitorado jovem, que apóia fortemente Obama. O Pew diz que 58% dos eleitores de 18 a 29 anos favorecem o democrata, ante 34% que preferem McCain. Especialistas, porém, concordam que essa é uma faixa incerta. "São os jovens com diploma universitário que estão fazendo barulho.
Os com baixa escolaridade não são nada engajados em política", diz Curtis Gans, diretor do Comitê para o Estudo do Eleitorado Americano. E a alta escolaridade não é determinante apenas entre os jovens. Pesquisa do Gallup de 12 de agosto aponta que, usando o critério grau de educação, é o eleitorado com pós-graduação que mais apóia Obama (56%, ante 36% de McCain).
Entre eleitores mais velhos, a situação muda de figura. McCain está vencendo por 46% a 42%. O padrão é parecido com o de 2004, quando Bush ganhou de Kerry por 54% a 46% entre os maiores de 60.
A s mulheres mais velhas têm índices ainda mais favoráveis aos republicanos. Eleitoras com mais de 65 anos escolhem McCain por 42% a 35%, de acordo com pesquisa do Pew de julho. Mulheres de 40 a 45 anos também preferem o veterano do Vietnã (45% a 41%), segundo a Fox News.
Os resultados de Obama com as mulheres acima dos 40 surpreenderam analistas, pois o grupo costuma ser fiel ao Partido Democrata. Parte do problema, estimam, vem da insatisfação após a derrota de Hillary.
Mas as mais jovens conseguem pesar na balança e, entre mulheres em geral, Obama vence McCain por 51% a 38% em agosto (dados do Pew).
E a religião? "Parte do que foi extraordinário em 2004 foi o alto comparecimento dos evangélicos, fator crucial para a vitória de Bush", diz Keyssar.
Há quatro anos, os valores morais foram o principal fator para escolha do candidato (22%), segundo a CNN. Agora, o primordial é a economia.
McCain está sete pontos à frente entre protestantes -49% a 42%. A margem é pequena frente a 2004, quando Bush venceu por 59% a 40%.
"A situação de McCain é complicada, pois ele não tem a confiança dos conservadores religiosos", afirma Gans. "Conservadores, religiosos ou não, não irão votar nos mesmos contingentes que em 2004. Para compensar, McCain terá que conquistar os independentes."
Esse é outro desafio, já que, em 2004 e agora, republicanos e democratas praticamente empatam nessa faixa.
Além de nível de apoio e volume de comparecimento às urnas, um terceiro critério é fundamental na hora de avaliar o peso de grupos nas eleições: sua distribuição geográfica.
São quantidades parecidas de esquerdistas e conservadores que fazem Estados como Ohio, Michigan, Pensilvânia e Flórida serem chamados de "swing states" -aqueles sem preferência partidária definida.
A maioria, porém, tem tradições firmes. De acordo com a média calculada pelo site Real Clear Politics, só três Estados têm preferência atual diferente da de 2004: Novo México, Iowa e Indiana votaram em Bush e hoje se inclinam para Obama.
Mas, se Novo México e Iowa votaram em Al Gore em 2000 -e portanto não é grande surpresa a tendência democrata atual-, em Indiana o páreo será duro para Obama: o Estado não elege um presidente democrata desde 1964. "Obama pode ter um grupo de eleitores mais entusiasmados, mas isso ainda não é suficiente para que ele vença", resume Gans.


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