São Paulo, domingo, 24 de agosto de 2008

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JOHN MCCAIN

ELE QUER SER "LÍDER DO MUNDO LIVRE"

Perseverante, republicano põe em xeque prognóstico de vitória fácil para oposição ao governo Bush

Fernando Rodrigues, da Sucursal de Brasília

Poucos levariam a sé- rio se há um ano alguém ousasse prever John McCain como o candidato republicano a presidente da República. Ele era apenas um fracassado da campanha de 2000 (quando perdeu a nomeação para George W. Bush), tinha fama de falastrão e sua idade (71 anos) não ajudava numa disputa contra opositores democratas mais jovens e cheios de energia como Hillary Clinton e Barack Obama.
Para complicar, George W. Bush amargava em 2007 um de seus piores momentos, por causa do fracasso da guerra no Iraque. Um ex-militar como McCain sendo eleito presidente parecia improvável.
Completava o quadro desalentador a disputa interna no partido. Estavam no páreo contra McCain pesos-pesados, como o ex-prefeito de Nova York Rudolph "Tolerância Zero" Giuliani e o milionário ex-governador de Massachusetts Mitt Romney -este exalando a imagem de bem-sucedido, com família fotogênica típica de séries de TV americanas.
Contra quase todas as previsões, o senador republicano pelo Arizona superou uma a uma as dificuldades. Apresentou-se de maneira simples, como o mais confiável num país onde é comum ouvir os eleitores dizendo que elegem não o presidente da República, mas "o líder do mundo livre". Quem entrava no seu ônibus de campanha surpreendia-se.
O republicano sentava-se com os jornalistas e começava a responder perguntas sem parar, a ponto de os repórteres ficarem sem assunto.
Nessa toada, McCain assegurou a nomeação republicana já no dia 4 de março passado, ao conquistar o número de delegados suficiente para a convenção do seu partido, na primeira semana de setembro. Superar obstáculos parece ser a marca desse político que terá 72 anos quando assumir o cargo se vencer a disputa pela Casa Branca. Logo depois de sua vitória interna no partido, começaram as análises pessimistas na mídia dos EUA sobre as dificuldades de McCain contra a avalanche democrata.
A idade avançada, seu câncer de pele na região do pescoço curado há alguns anos, o passado militar associado ao apoio à Guerra do Iraque, a péssima imagem de Bush e o suposto desejo de mudança por parte dos eleitores eram listados como fatores mortais.
Completavam a cesta de itens negativos a incapacidade de o senador de quatro mandatos pelo Arizona (eleito pela primeira vez em 1986) de conectar-se com o eleitorado mais jovem, sobretudo pela internet. No final de março, quando McCain estabeleceu-se de vez para os republicanos, seus vídeos no YouTube tinham sido assistidos meras 2,86 milhões vezes. Os clipes de Obama já registravam 35,6 milhões de cliques.
O republicano foi se ajeitando, enquanto os democratas se digladiavam para escolher entre Obama e Hillary. De maio até a metade de agosto, teve 5,8 milhões de acessos para seus vídeos no YouTube, contra 2,6 milhões de seu adversário democrata. A escalada de McCain fez o que seria uma lavada a favor dos democratas passar a ser uma disputa apertada. Nas pesquisas mais recentes, McCain nunca está, na média, mais do que cinco pontos percentuais atrás de Obama. Em várias, aparecem empatados.
No espectro ideológico clássico, McCain está à esquerda dos últimos três presidentes eleitos pelo seu partido (Ronald Reagan e os dois Bush). Ele é, em alguns aspectos, quase o que os americanos chamam de "liberal", alguém a favor de amplas liberdades civis.
McCain se posiciona contra a prática de tortura, tática usada nos últimos anos pelos militares dos EUA. Ele também considera razoável legalizar de maneira progressiva imigrantes que estejam há muitos anos no país sem documentação. Casamento entre homossexuais não é algo que defenda, mas o republicano acha correta a união civil entre duas pessoas do mesmo sexo. Em relação ao ambiente, McCain se declara a favor de meta para redução dos gases do efeito estufa.
McCain agora toma todos os cuidados com declarações que possam ofender o eleitorado religioso. "Ele está muito comprometido com as posições do eleitorado religioso conservador e não comete os mesmos deslizes de 2000", diz o professor de ciência política especializado em religião Richard Parker, da Universidade Harvard, sobre a indicação que perdeu para Bush, entre outros motivos por ser "liberal demais".
Na sua área prioritária, a defesa do país, faz questão de que não confundam seu parcial liberalismo com uma posição relaxada. McCain apoiou as duas guerras do Iraque e chegou a dizer que tanto fazia se as tropas americanas permanecessem "até cem anos" em Bagdá.
Quando estourou o recente conflito entre Rússia e Geórgia, ele se apressou em faturar o voto dos eleitores simpáticos ao pensamento reducionista do "bem contra o mal". Obama curtia férias no Havaí. N ascido em 29 de agosto de 1936 em Coco Solo, na zona do Canal do Panamá, McCain tem cidadania americana porque seus pais estavam fora em missão oficial. Filho e neto de almirantes, ele ingressou na mesma carreira militar. Já como piloto da Marinha, lutou na Guerra do Vietnã e teve seu avião abatido em 26 de outubro de 1967.
Capturado, virou troféu nas mãos dos vietnamitas. Seu pai era almirante e, à época, comandante das forças dos EUA no Pacífico. Passou cinco anos preso. Torturado, teve costelas e pernas quebradas e dentes arrancados. Tem seqüelas até hoje, como dificuldade para levantar um dos braços acima da altura do ombro. Já no fim da guerra, foi solto em 15 de março de 1973. Voltou como herói.
Em 1976, McCain foi designado pela Marinha para ser assessor responsável pelas relações com o Senado. Em 1981, deu baixa no serviço militar e instalou-se com sua segunda mulher no Arizona. Em 1982, foi eleito deputado federal por esse Estado. Quatro anos depois, chegou ao Senado.
Teve dois casamentos e muitas namoradas -conta que teria namorado uma modelo brasileira em 1957, história nunca comprovada. McCain ficou casado com sua primeira mulher, Carol, de 1965 a 1980. Divorciou-se e casou-se com Cindy Hensley -18 anos mais jovem que ele e herdeira da Hensley & Co., uma das maiores distribuidoras de bebidas dos EUA.


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