São Paulo, segunda-feira, 24 de agosto de 2009

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Fraudes podem comprometer pleito afegão

Avaliação é de chefe de comissão independente encarregada de analisar denúncias, para quem 35 queixas são "substanciais"

Desde a votação, na quinta, ocorreram 225 reclamações; metade partiu de Abdullah Abdullah, principal rival do atual presidente-candidato

Shah Marai/France Presse
Afegãos organizam urnas na sede da Comissão Eleitoral Independente,
em Cabul; candidatos e observadores apontam fraudes no pleito


DA REDAÇÃO

A comissão independente responsável por receber denúncias de fraude nas eleições presidenciais do Afeganistão afirmou ontem que, se confirmadas, as queixas recebidas até agora são sérias o suficiente para influenciar o resultado da votação.
Desde o pleito, realizado na última quinta-feira, a comissão recebeu 225 reclamações de observadores e candidatos, que apontaram principalmente a manipulação de urnas.
Queixas sobre intimidação de eleitores e suspeitas sobre a qualidade da tinta que marcava o dedo de quem já havia votado, servindo como mecanismo de controle oficial, também são abundantes, segundo o órgão.
Dessas, ao menos 35 reclamações são consideradas "substanciais para os resultados", de acordo com o chefe da comissão apoiada pela ONU, o canadense Grant Kippen.
Anteontem, órgãos observadores como a Fundação Eleições Livres e Justas do Afeganistão, o IND (Instituto Nacional Democrático, EUA) e a Comissão Europeia já haviam divulgado problemas como a falsificação em massa de registros eleitorais e casos de violência.
Quase metade das denúncias de fraude partiram do candidato Abdullah Abdullah, principal opositor ao presidente-candidato Hamid Karzai, apontado como favorito e com chances de se reeleger ainda no primeiro turno, segundo as pesquisas.
Abdullah argumenta que algumas urnas na região sul do país, com menor presença do Estado e maior atuação dos insurgentes do Taleban, tiveram índice de comparecimento de apenas 10%, mas os relatórios apresentados dizem que 40% dos eleitores votaram.
Segundo Abdullah, o comandante das forças de segurança no distrito de Spin Boldak, general Abdul Raziq, usou a própria casa para colher votos de uma sessão eleitoral e encheu urnas com cédulas pró-Karzai nesta e em outras sessões.
"Quem diz que houve fraude está apenas fazendo propaganda. Se há provas, mostrem-me por favor", defendeu-se Raziq.
Um relativo sucesso das eleições é considerado essencial por Washington e pela Otan, que mantêm tropas no país, para justificar a guerra iniciada em 2001.
A taxa de comparecimento -primeiro ponto para legitimar o pleito- caiu de 70% em 2004 para entre 40% e 50% agora, segundo estimam observadores, refletindo as ameaças do Taleban, que prometeu boicotar a eleição com atentados.
O segundo ponto é justamente a transparência do processo, que parece estar cada vez mais ameaçada. Os resultados, que devem ter parciais divulgadas em 15 dias, serão oficializados apenas no dia 17 de setembro.

Deterioração
Em meio à queda nos índices de apoio popular à guerra no Afeganistão, o chefe do Estado-Maior Conjunto dos EUA, almirante Mike Mullen, disse à rede de TV CNN, que as condições no Afeganistão estão se "deteriorando".
"Ao longo dos últimos dois anos, a insurgência do Taleban tem melhorado e se tornado mais sofisticada em suas táticas", disse Mullen, justo quando o comandante das forças no país prepara avaliação da situação e pode pedir mais tropas.


Com agências internacionais


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