São Paulo, segunda-feira, 24 de agosto de 2009

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Paquistão enfrenta nó na infraestrutura

DO ENVIADO ESPECIAL

No começo do ano passado, não se passava mais do que uma hora sem experimentar um ou dois cortes de energia na capital do Paquistão, Islamabad. Agora, são até quatro horas diárias sem luz alguma.
O quadro é dramático e indica apenas a faceta mais visível da crise estrutural que o país enfrenta. A crise mundial o atingiu em cheio, pois as commodities agrícolas que vende perderam mercado, e foi buscar US$ 11 bilhões de ajuda no FMI.
"Some isso à falta de linhas de transmissão de energia e ao fato de que todo nosso orçamento está comprometido por operações militares, e temos uma situação desoladora", afirma o diretor do Instituto de Política de Desenvolvimento Sustentável, Abid Suleri.
O orçamento previsto para 2009-2010 prevê US$ 16 bilhões para investimentos. Um quarto disso vai diretamente para defesa, o outro quarto para despesas indiretas das operações militares e o outro quarto para a rolagem da dívida. "Sobra pouco, e esse é um país sem planejamento real. Apenas deixamos agências de inteligência e militares dizerem o que é importante", diz Suleri.
A crise energética é um exemplo disso. O país já tem déficit: em meses de verão como agora consome 17,8 mil MW e só produz 15,9 mil MW. A previsão do Ministério de Água e Energia é que, se mantido o ritmo de investimento em 2020, a correlação será de 44,1 mil MW de demanda para só 27,4 mil MW de produção.
É um país de 160 milhões de pessoas. O Brasil, com 190 milhões, gera 96,2 mil MW.
O resultado é uma florescente indústria de vendedores de geradores de energia. De fabricação chinesa, os melhores modelos saem por até US$ 2.000 -quase o dobro da renda per capita anual média no país.
Há outros problemas, notadamente a corrupção. Nas últimas três semanas, a chamada máfia dos produtores de açúcar segurou os preços para arrancar supostas vantagens do governo, segundo a mídia local. Resultado: o saco de 1 kg do produto saía por US$ 0,50 e agora custa US$ 0,70. E os paquistaneses não vivem sem muitas xícaras de chá com leite açucarado todo dia.
A inflação ao consumidor está em 22% anuais, o dobro do ano passado. "Os salários, contudo, seguiram no mesmo patamar", diz Suleri. O desemprego subiu de 7,5% para quase 10%, segundo as previsões de economistas, e o PIB terá um tombo no seu crescimento de 5,8% em 2008 para 2,5% este ano.
"Com tudo isso, não temos investimento em escolas, saúde. Aí podemos levar os mais pobres a buscar consolo na religião apenas, e oportunistas como o Taleban fazerem a cabeça deles. É um ciclo terrível, já que ao mesmo tempo não temos como parar de gastar com defesa e segurança", encerra Suleri. (IG)


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