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Paquistão enfrenta nó na infraestrutura
DO ENVIADO ESPECIAL
No começo do ano passado,
não se passava mais do que uma
hora sem experimentar um ou
dois cortes de energia na capital do Paquistão, Islamabad.
Agora, são até quatro horas diárias sem luz alguma.
O quadro é dramático e indica apenas a faceta mais visível
da crise estrutural que o país
enfrenta. A crise mundial o
atingiu em cheio, pois as commodities agrícolas que vende
perderam mercado, e foi buscar
US$ 11 bilhões de ajuda no FMI.
"Some isso à falta de linhas
de transmissão de energia e ao
fato de que todo nosso orçamento está comprometido por
operações militares, e temos
uma situação desoladora", afirma o diretor do Instituto de Política de Desenvolvimento Sustentável, Abid Suleri.
O orçamento previsto para
2009-2010 prevê US$ 16 bilhões para investimentos. Um
quarto disso vai diretamente
para defesa, o outro quarto para despesas indiretas das operações militares e o outro quarto para a rolagem da dívida.
"Sobra pouco, e esse é um país
sem planejamento real. Apenas
deixamos agências de inteligência e militares dizerem o
que é importante", diz Suleri.
A crise energética é um
exemplo disso. O país já tem
déficit: em meses de verão como agora consome 17,8 mil
MW e só produz 15,9 mil MW.
A previsão do Ministério de
Água e Energia é que, se mantido o ritmo de investimento em
2020, a correlação será de 44,1
mil MW de demanda para só
27,4 mil MW de produção.
É um país de 160 milhões de
pessoas. O Brasil, com 190 milhões, gera 96,2 mil MW.
O resultado é uma florescente indústria de vendedores de
geradores de energia. De fabricação chinesa, os melhores modelos saem por até US$ 2.000
-quase o dobro da renda per
capita anual média no país.
Há outros problemas, notadamente a corrupção. Nas últimas três semanas, a chamada
máfia dos produtores de açúcar
segurou os preços para arrancar supostas vantagens do governo, segundo a mídia local.
Resultado: o saco de 1 kg do
produto saía por US$ 0,50 e
agora custa US$ 0,70. E os paquistaneses não vivem sem
muitas xícaras de chá com leite
açucarado todo dia.
A inflação ao consumidor está em 22% anuais, o dobro do
ano passado. "Os salários, contudo, seguiram no mesmo patamar", diz Suleri. O desemprego
subiu de 7,5% para quase 10%,
segundo as previsões de economistas, e o PIB terá um tombo
no seu crescimento de 5,8% em
2008 para 2,5% este ano.
"Com tudo isso, não temos
investimento em escolas, saúde. Aí podemos levar os mais
pobres a buscar consolo na religião apenas, e oportunistas como o Taleban fazerem a cabeça
deles. É um ciclo terrível, já que
ao mesmo tempo não temos como parar de gastar com defesa
e segurança", encerra Suleri.
(IG)
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