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VIZINHO EM CRISE
País considera que a permanência de Fujimori no poder aumenta chances de tentativas de golpe e crises
Brasil lidera pressão por eleição antecipada
ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em contato direto com o governo dos Estados Unidos, o Brasil lidera a pressão dos países da América do Sul para que o presidente
do Peru, Alberto Fujimori, não espere até março do ano que vem
para convocar eleições e até julho
para entregar o poder ao sucessor.
EUA, Brasil e os demais países
da América do Sul acham que,
quanto mais tempo Fujimori empurrar as eleições com a barriga e
se mantiver na Presidência, maiores serão as chances de crises e de
tentativas de golpes.
Eles não estão convencidos do
argumento de Fujimori de que as
eleições só poderão ocorrer em
março, com posse em 28 de julho,
porque esse é o tempo mínimo
para incluir na Constituição a
possibilidade de eleições no meio
do mandato. Acham que o cronograma precisa ser encurtado e que
Fujimori deve sair antes.
O presidente Fernando Henrique Cardoso só telefonou diretamente para Fujimori na quinta-feira passada, mas tem conversado com os demais presidentes
sul-americanos. Seu interlocutor
mais assíduo é o presidente do
Chile, Ricardo Lagos. Os contatos
com os EUA e com líderes políticos peruanos têm sido principalmente via Itamaraty.
Na avaliação dos países vizinhos, Fujimori não tem mais condições de governabilidade, mas
dá sinais de que, na verdade, estaria usando o anúncio de novas
eleições para ganhar tempo, testar
forças e tentar manter o controle
do processo político peruano.
No Itamaraty, por exemplo,
ninguém acreditou numa pesquisa (do instituto CIP) apontando
que Fujimori mantém um apoio
de 59,1% da opinião pública. Considera-se a hipótese de um resultado manipulado, para tentar fortalecer artificialmente o presidente, garantindo alguma sobrevida à
sua permanência na Presidência.
A leitura do comunicado do Comando Conjunto das Forças Armadas do Peru, divulgado na
quinta-feira em Lima, também foi
um pouco diferente da que circulou dentro e fora do Peru.
Na versão interna, tratou-se de
um apoio a Fujimori. No Brasil,
foi recebido não exatamente como aprovação a Fujimori, mas à
sua decisão de abandonar o poder
e desmantelar o SIN (Serviço de
Inteligência Nacional).
Além disso, registrou-se no Planalto e no Itamaraty que os militares não usaram o termo "apoio"
e sim "acatamento". Ou seja: deixaram claro que não lhes cabe
apoiar ou não, mas cumprir ordens e acatar decisões superiores.
Uma semana depois de Fujimori anunciar publicamente sua disposição de convocar eleições e
não concorrer, o governo brasileiro julga que a pior fase da crise já
passou, mas o clima ainda é de
instabilidade, "inspira cuidados".
O pior momento foi na quarta-feira passada, quando -pelas informações que chegaram ao Planalto- houve efetivamente uma
ameaça de golpe militar liderado
pelo ex-homem forte do regime,
Vladimiro Montesinos, chefe informal do SIN.
Montesinos foi o pivô da crise,
depois da divulgação de um vídeo
em que supostamente tenta subornar um parlamentar da oposição. E continuou no centro da cena, ao sumir e tentar articular nos
bastidores um golpe para tomar o
poder de Fujimori e interromper
o processo de novas eleições.
O Brasil foi decisivo para neutralizar a pressão dos EUA e da
OEA (Organização dos Estados
Americanos) para punir o Peru
por denúncias de ilegalidades nas
eleições que deram o terceiro
mandato a Fujimori.
Hoje, depois da reviravolta interna, a avaliação brasileira é que
há um "processo de acomodação" no Peru. Apesar de todos os
sobressaltos e da recente fragilidade, Fujimori acumula dez anos
na Presidência e ainda mantém
apoios importantes, sobretudo na
opinião pública.
A transição, portanto, passa por
ele. O que EUA, Brasil e os demais
países não querem é que acabe
nele, de novo.
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