São Paulo, terça-feira, 24 de setembro de 2002 |
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DIPLOMACIA Rumsfeld rejeita encontro com ministro alemão, e Washington não cumprimenta Schröder por sua vitória eleitoral Relações entre EUA e Alemanha pioram
MÁRCIO SENNE DE MORAES ENVIADO ESPECIAL A BERLIM As já delicadas relações entre a Alemanha e os EUA pioraram ainda mais ontem, quando o secretário da Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, rechaçou a possibilidade de participar de um encontro privado com seu colega alemão, Peter Struck, na véspera de uma reunião de ministros da Defesa dos 19 países-membros da Otan, aliança militar ocidental, em Varsóvia, na Polônia. Já o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, Sean McCormick, foi lacônico ao comentar o resultado da eleição legislativa da Alemanha. "Os eleitores alemães tomaram uma decisão, e os EUA trabalharão com a administração alemã no que se refere a questões de interesse comum." O governo americano não enviou congratulações oficiais a Schröder, algo nada usual no mundo da diplomacia. Tradição pacifista As tradicionalmente boas relações entre Washington e Berlim começaram a degradar-se há algumas semanas, quando a política externa dos EUA passou a fazer parte da campanha para a eleição legislativa de anteontem. Apostando na tradição pacifista alemã existente desde o final da Segunda Guerra, o chanceler (premiê) social-democrata Gerhard Schröder demonstrou uma oposição veemente a um eventual ataque ao Iraque, um dos pontos-chave da atual política externa do presidente americano, George W. Bush. De acordo com seus adversários políticos, porém, Schröder queria apenas lucrar eleitoralmente, o que o chanceler nega. Soma-se a isso o fato de que, na semana passada, um jornal alemão publicou uma suposta declaração da então ministra da Justiça, Herta Däubler-Gmelin, segundo a qual Bush pretende, ao defender a hipótese de atacar o Iraque, desviar a atenção dos americanos dos problemas domésticos. Segundo a declaração atribuída a ela, esse método se assemelha aos utilizados pelo ditador nazista, Adolf Hitler, o que provocou indignação na administração americana. "Relação entre amigos" Buscando atenuar a tensão com Washington, Schröder, que havia enviado uma carta com um pedido de desculpas a Bush, anunciou ontem que a polêmica ministra não fará parte de seu próximo gabinete. Contudo ele manteve a oposição do país a uma ofensiva contra o ditador iraquiano, Saddam Hussein. "Numa relação entre amigos, é normal que haja divergências de opinião. Nós também não concordamos no que concerne ao Protocolo de Kyoto [que estabelece limites para a emissão de gases que provocam o efeito estufa", por exemplo", disse Schröder após anunciar o afastamento de Däubler-Gmelin, que negou enfaticamente ter comparado Bush a Hitler. Conversando com jornalistas na véspera do início do encontro oficial de ministros da Defesa dos países da Otan na capital polonesa, Rumsfeld foi bastante frio ao comentar seu descontentamento com o fato de que a política externa americana se tornou um dos temas mais debatidos na campanha eleitoral alemã. "Não tenho comentários sobre a eleição alemã. Mas sou obrigado a dizer que o modo como a campanha foi conduzida não ajudou em nada as boas relações entre os EUA e a Alemanha. Como a Casa Branca já indicou, isso teve como efeito a piora de nossas relações", declarou o secretário da Defesa dos EUA. De acordo com especialistas, além do Protocolo de Kyoto, há outros pontos de desacordo entre o governo alemão e o americano. Berlim critica a oposição dos EUA ao Tribunal Penal Internacional e sua política externa em relação ao Oriente Médio. Próximo Texto: Mercado alemão cobra reformas imediatas Índice |
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