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Moderado, Fukuda liderará próximo governo japonês
Ele foi o escolhido por 330 dos 527 dirigentes do Partido Democrático Liberal
Futuro premiê de 71 anos não defende o nacionalismo dos dois predecessores e quer maior aproximação com China e norte-coreanos
NORIMITSU ONISHI
DO "NEW YORK TIMES", EM TÓQUIO
Yasuo Fukuda, um discreto
moderado, conhecido por sua
habilidade em obter acordos de
bastidor, foi ontem escolhido
pelo Partido Democrático Liberal para ser o próximo primeiro-ministro do Japão.
Enfrentando uma das crises
mais profundas em meio século
no poder, o partido investe em
Fukuda, 71, para estabilizar
uma situação delicada, herdada
da gestão desastrosa de um ano
do primeiro-ministro Shinzo
Abe e de sua abrupta renúncia
há 12 dias.
Fukuda, conciliador em política externa, defende boas relações com China e Pyongyang e
representa uma pausa no nacionalismo de Abe e de seu antecessor, Junichiro Koizumi.
No plano interno, atribui-se
a Fukuda o plano de desacelerar as reformas econômicas e
políticas que contrariaram os
interesses eleitorais do PDL.
"O partido está enfrentando
hoje sérias dificuldades", disse
Fukuda, em curto discurso de
reconhecimento de sua vitória.
"Em primeiro lugar, tentarei
revitalizá-lo e em seguida conquistar a confiança dos eleitores para que ele se torne um
partido que possa levar adiante
suas políticas públicas."
330 votos a 197
Os deputados e os líderes regionais deram a Fukuda 330
dos 527 votos depositados nas
urnas das eleições internas de
sábado e ontem. Taro Aso, 67,
secretário-geral do partido e
próximo das posições de direita
de Abe, obteve 197 votos.
Na realidade, Fukuda já havia sido escolhido há dez dias,
depois de algumas horas de intensas negociações. Por mais
que até a mídia japonesa apostasse há uma semana na sua ascensão, ele e seu adversário fizeram campanhas como se estivessem em pé de igualdade.
A escolha do novo premiê se
assemelhou aos conchavos de
bastidor do passado, invertendo a relativa transparência que
prevaleceu nos últimos anos.
Fukuda foi o nome retido por
oito dos nove principais dirigentes do PDL. Eles criticavam
Koizumi por suas reformas
econômicas, sobretudo quanto
à redução dos serviços públicos
que provocou a perda, em julho, da maioria que o partido
mantinha no Senado.
"As velhas facções estão de
volta", disse Ikuo Kabashima,
professor de ciências políticas
da Universidade de Tóquio.
"Fukuda, antes de mais nada,
simboliza essa virada. Ele é exatamente o oposto de Koizumi.
Certamente voltaremos a uma
maior participação do Estado e
à subseqüente corrupção."
Fukuda se tornará oficialmente primeiro-ministro amanhã, por meio de votação na
Câmara dos Deputados. Ele
preencherá o vácuo institucional criado pela renúncia de Abe
no último dia 12.
Abe internou-se num hospital no dia seguinte, onde permanece por causas desconhecidas. Ele não compareceu ontem à sede do partido para
acompanhar a apuração.
Com isso, ele alimenta especulações de que seu estado seja
mais sério que a estafa e a indisposição gastrointestinal mencionadas de início.
Fukuda não precisará convocar eleições legislativas, marcadas para setembro de 2009,
embora não descarte fazê-lo
por volta de abril, quando o
Parlamento já tiver aprovado o
novo orçamento anual.
Ajuda aos EUA
O Partido Democrático, da
oposição, reiterou ontem seu
apelo em favor de novas eleições imediatas. Ele deverá tentar bloquear a extensão da missão naval japonesa no Oceano
Índico, em operação auxiliar à
guerra liderada pelos Estados
Unidos no Afeganistão. Lei especial, de 2001, permitiu contornar a Constituição pacifista,
mas ela expira em novembro.
O futuro premiê não pretende visitar o santuário de Yasukuni, visto em outros países da
Ásia como um símbolo do militarismo japonês.
Fukuda foi por longos anos
executivo de uma empresa petrolífera. Trabalhou também
como secretário de seu pai, Takeo Fukuda, primeiro-ministro
nos anos 70.
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