São Paulo, segunda-feira, 24 de setembro de 2007

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Moderado, Fukuda liderará próximo governo japonês

Ele foi o escolhido por 330 dos 527 dirigentes do Partido Democrático Liberal

Futuro premiê de 71 anos não defende o nacionalismo dos dois predecessores e quer maior aproximação com China e norte-coreanos

NORIMITSU ONISHI
DO "NEW YORK TIMES", EM TÓQUIO

Yasuo Fukuda, um discreto moderado, conhecido por sua habilidade em obter acordos de bastidor, foi ontem escolhido pelo Partido Democrático Liberal para ser o próximo primeiro-ministro do Japão.
Enfrentando uma das crises mais profundas em meio século no poder, o partido investe em Fukuda, 71, para estabilizar uma situação delicada, herdada da gestão desastrosa de um ano do primeiro-ministro Shinzo Abe e de sua abrupta renúncia há 12 dias.
Fukuda, conciliador em política externa, defende boas relações com China e Pyongyang e representa uma pausa no nacionalismo de Abe e de seu antecessor, Junichiro Koizumi.
No plano interno, atribui-se a Fukuda o plano de desacelerar as reformas econômicas e políticas que contrariaram os interesses eleitorais do PDL.
"O partido está enfrentando hoje sérias dificuldades", disse Fukuda, em curto discurso de reconhecimento de sua vitória. "Em primeiro lugar, tentarei revitalizá-lo e em seguida conquistar a confiança dos eleitores para que ele se torne um partido que possa levar adiante suas políticas públicas."

330 votos a 197
Os deputados e os líderes regionais deram a Fukuda 330 dos 527 votos depositados nas urnas das eleições internas de sábado e ontem. Taro Aso, 67, secretário-geral do partido e próximo das posições de direita de Abe, obteve 197 votos.
Na realidade, Fukuda já havia sido escolhido há dez dias, depois de algumas horas de intensas negociações. Por mais que até a mídia japonesa apostasse há uma semana na sua ascensão, ele e seu adversário fizeram campanhas como se estivessem em pé de igualdade.
A escolha do novo premiê se assemelhou aos conchavos de bastidor do passado, invertendo a relativa transparência que prevaleceu nos últimos anos.
Fukuda foi o nome retido por oito dos nove principais dirigentes do PDL. Eles criticavam Koizumi por suas reformas econômicas, sobretudo quanto à redução dos serviços públicos que provocou a perda, em julho, da maioria que o partido mantinha no Senado.
"As velhas facções estão de volta", disse Ikuo Kabashima, professor de ciências políticas da Universidade de Tóquio. "Fukuda, antes de mais nada, simboliza essa virada. Ele é exatamente o oposto de Koizumi. Certamente voltaremos a uma maior participação do Estado e à subseqüente corrupção."
Fukuda se tornará oficialmente primeiro-ministro amanhã, por meio de votação na Câmara dos Deputados. Ele preencherá o vácuo institucional criado pela renúncia de Abe no último dia 12.
Abe internou-se num hospital no dia seguinte, onde permanece por causas desconhecidas. Ele não compareceu ontem à sede do partido para acompanhar a apuração.
Com isso, ele alimenta especulações de que seu estado seja mais sério que a estafa e a indisposição gastrointestinal mencionadas de início.
Fukuda não precisará convocar eleições legislativas, marcadas para setembro de 2009, embora não descarte fazê-lo por volta de abril, quando o Parlamento já tiver aprovado o novo orçamento anual.

Ajuda aos EUA
O Partido Democrático, da oposição, reiterou ontem seu apelo em favor de novas eleições imediatas. Ele deverá tentar bloquear a extensão da missão naval japonesa no Oceano Índico, em operação auxiliar à guerra liderada pelos Estados Unidos no Afeganistão. Lei especial, de 2001, permitiu contornar a Constituição pacifista, mas ela expira em novembro.
O futuro premiê não pretende visitar o santuário de Yasukuni, visto em outros países da Ásia como um símbolo do militarismo japonês.
Fukuda foi por longos anos executivo de uma empresa petrolífera. Trabalhou também como secretário de seu pai, Takeo Fukuda, primeiro-ministro nos anos 70.

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