São Paulo, quinta-feira, 24 de setembro de 2009

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Lula cobra reforma em instituições para evitar novas crises

Em discurso de abertura da 64ª Assembleia Geral da ONU, presidente diz que ricos pouco fizeram em 12 meses de crise

Brasileiro se compromete com engajamento na luta contra o aquecimento global e defende o fim do embargo do governo dos EUA a Cuba

DE NOVA YORK

Em discurso de abertura da 64ª Assembleia Geral da ONU e na véspera da reunião do G20, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou uma atuação mais firme dos países ricos na implementação de reformas que visam evitar a repetição da crise econômica mundial.
Passados 12 meses do agravamento da crise, o brasileiro avalia que os países ricos pouco fizeram em termos de reforma do sistema financeiro e em mudanças em organismos multilaterais como o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o Banco Mundial.
Na visão de Lula, após alguns meses, a crise gerou uma espécie de "conformismo" nas economias dos países desenvolvidos, o que fez com que as mudanças de fundo, essenciais para evitar um novo ciclo de crise, fossem deixadas de lado.
Para o presidente, a economia mundial não comporta mais um sistema de representação definido com base nos parâmetros que se seguiram à Segunda Guerra Mundial.
"Os países pobres e em desenvolvimento têm de aumentar sua participação na direção do FMI e do Banco Mundial.
Sem isso, não haverá efetiva mudança e os riscos de novas e maiores crises serão inevitáveis. Somente organismos mais representativos e democráticos terão condições de enfrentar problemas complexos como os do reordenamento do sistema monetário internacional."
Lula destacou que é necessário construir uma nova ordem internacional para lidar com os três principais problemas de hoje: crise financeira, governança mundial e mudança do clima.
O presidente destacou que tem defendido em reuniões do G20 a regulação financeira, a generalização de políticas anticíclicas, o fim do protecionismo e o combate a paraísos fiscais.
Lula afirmou no discurso que o fato de o Brasil ser um dos primeiros a sair da crise depois de ter sido um dos últimos a perceber os seus efeitos não foi resultado de mágica e sim de políticas como programas de transferência de renda, aumento do salário acima da inflação e estímulos fiscais.
"Não tenho a ilusão de que podemos resolver nossos problemas sozinhos, apenas no espaço nacional. A economia mundial é interdependente.
Estamos todos obrigados a atuar além das nossas fronteiras", disse.
Para o presidente, mais do que uma crise bancária, a crise financeira representa o fim de uma série de dogmas, como o do Estado mínimo e da autorregulação. Segundo Lula, esta é "a hora da política", em que governantes, e não tecnocratas, devem assumir a responsabilidade de enfrentar a desordem mundial.

Clima e Cuba
No discurso, Lula voltou a se comprometer com uma atuação mais incisiva do Brasil no tema de mudanças climáticas.
"O Brasil está cumprindo a sua parte. Vamos chegar a Copenhague com alternativas e compromissos precisos. Aprovamos um plano de mudanças climáticas que prevê redução de 80% do desmatamento da Amazônia até 2020. Diminuiremos em 4,8 bilhões de toneladas a emissão de CO2, o que representa mais do que a soma dos compromissos de todos os países desenvolvidos juntos."
Como esperado, o presidente defendeu o fim do embargo americano a Cuba, que chamou de anacronismo. Ele cobrou "vontade política" para pôr fim ao problema. (JANAINA LAGE)


Leia a íntegra do discurso www.folha.com.br/092662




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