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ANÁLISE
Fala vende Brasil como líder de um novo mundo
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
Discursos de presidentes
brasileiros na abertura da Assembleia Geral da ONU são tradicionalmente importantes,
têm peso e repercussão. Ontem, com um dado adicional: o
presidente brasileiro agora é
Luiz Inácio Lula da Silva, e o
mundo é todo ouvidos para o
que ele tem a dizer.
Mas, se o discurso de Lula na
ONU foi para a comunidade internacional, para presidentes e
primeiros-ministros, bem poderia -ou poderá- ser para o
eleitorado nacional de 2010.
Foi um libelo pró-Estado forte e exaltação ao Brasil grande,
na linha da entrevista da ministra e pré-candidata Dilma
Rousseff à Folha de domingo
passado. Mas agregando crítica
às potências gananciosas.
Os três eixos do texto, de
quase sete páginas, foram a crise econômica internacional,
acusando os países ricos e enaltecendo as medidas brasileiras;
a necessidade de engendrar
uma governança mundial mais
estável e equilibrada e, às vésperas da Conferência de Copenhague, um alerta para as mudanças climáticas.
Não houve novidades nem
frases de efeito que justificassem manchetes ao redor do
mundo, mas o recado foi todo
dado -e dirigido aos países ricos. Ou seria aos Estados Unidos diretamente?
Quando Lula fala em "refundar a ordem econômica mundial", ou que "caminhamos em
direção ao mundo multilateral,
mas também multipolar", ou,
ainda, na "resistência dos desenvolvidos em assumir sua
parte na resolução das questões climáticas", ele não está
falando para outros, senão para
o governo americano.
Fez ainda um lobby explícito
para que o Brasil amplie seus
espaços num mundo "sem hegemonismos", nos organismos
internacionais e num Conselho
de Segurança "aberto a novos
membros permanentes".
O presidente não deixou de
falar do Brasil como "gigante
do petróleo", mas priorizando
a "condição de potência mundial da energia verde". Soa
muito bem aos ouvidos politicamente corretos do público.
Afinal, um dos trunfos políticos
do Brasil é justamente a biodiversidade e o peso em foros internacionais nessa área. Lula
encheu a fala de feitos contra o
desmatamento, mas foi vago
em propostas concretas.
Mas não deixou de garantir
aplausos com uma questão
pontual, que mexe com sensibilidades de toda ordem e em
que o Brasil está metido até o
pescoço: Honduras.
Ou seja: Lula falou como presidente de um país claramente
em ascensão pós-crise econômica e pré-prioridade ambiental. E que se arvora em líder
nesse novo mundo.
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