São Paulo, quinta-feira, 24 de setembro de 2009

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ANÁLISE

Fala vende Brasil como líder de um novo mundo

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

Discursos de presidentes brasileiros na abertura da Assembleia Geral da ONU são tradicionalmente importantes, têm peso e repercussão. Ontem, com um dado adicional: o presidente brasileiro agora é Luiz Inácio Lula da Silva, e o mundo é todo ouvidos para o que ele tem a dizer.
Mas, se o discurso de Lula na ONU foi para a comunidade internacional, para presidentes e primeiros-ministros, bem poderia -ou poderá- ser para o eleitorado nacional de 2010.
Foi um libelo pró-Estado forte e exaltação ao Brasil grande, na linha da entrevista da ministra e pré-candidata Dilma Rousseff à Folha de domingo passado. Mas agregando crítica às potências gananciosas.
Os três eixos do texto, de quase sete páginas, foram a crise econômica internacional, acusando os países ricos e enaltecendo as medidas brasileiras; a necessidade de engendrar uma governança mundial mais estável e equilibrada e, às vésperas da Conferência de Copenhague, um alerta para as mudanças climáticas.
Não houve novidades nem frases de efeito que justificassem manchetes ao redor do mundo, mas o recado foi todo dado -e dirigido aos países ricos. Ou seria aos Estados Unidos diretamente?
Quando Lula fala em "refundar a ordem econômica mundial", ou que "caminhamos em direção ao mundo multilateral, mas também multipolar", ou, ainda, na "resistência dos desenvolvidos em assumir sua parte na resolução das questões climáticas", ele não está falando para outros, senão para o governo americano.
Fez ainda um lobby explícito para que o Brasil amplie seus espaços num mundo "sem hegemonismos", nos organismos internacionais e num Conselho de Segurança "aberto a novos membros permanentes".
O presidente não deixou de falar do Brasil como "gigante do petróleo", mas priorizando a "condição de potência mundial da energia verde". Soa muito bem aos ouvidos politicamente corretos do público. Afinal, um dos trunfos políticos do Brasil é justamente a biodiversidade e o peso em foros internacionais nessa área. Lula encheu a fala de feitos contra o desmatamento, mas foi vago em propostas concretas.
Mas não deixou de garantir aplausos com uma questão pontual, que mexe com sensibilidades de toda ordem e em que o Brasil está metido até o pescoço: Honduras.
Ou seja: Lula falou como presidente de um país claramente em ascensão pós-crise econômica e pré-prioridade ambiental. E que se arvora em líder nesse novo mundo.


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