São Paulo, quinta-feira, 24 de setembro de 2009

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Obama propõe em sua fala à ONU nova era de engajamento global

Americano expõe visão oposta à de antecessor Bush, para quem entidade era entrave a interesses dos EUA no mundo

Presidente anuncia metas amplas e vagas, que passam por não proliferação nuclear, paz mundial, preservação do meio ambiente e economia

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

Os EUA mudaram, e seu novo presidente quer que o mundo saiba disso. Num discurso histórico por marcar uma ruptura com um passado muito recente e amplamente criticado, Barack Obama fez de sua primeira participação na Assembleia Geral da ONU, ontem, um chamado para o que definiu de "nova era de engajamento", que seja "baseada em interesses e respeito mútuos".
"Nós atingimos um momento fundamental", disse Obama. "Os EUA estão prontos a começar um novo capítulo de cooperação internacional, que reconheça os direitos e responsabilidades de todas as nações." Afirmou que era hora de mudar, sugeriu que os tempos eram de multilateralismo e indicou que entendia críticas feitas a seu país no passado.
"Nenhuma nação pode ou deve tentar dominar outra nação", disse. "Nenhuma ordem mundial que eleve uma nação ou grupo sobre outra vai ser bem-sucedida." Em passagem que lembrou o discurso de 2004 que o lançaria no cenário político nacional, disse que são necessárias "novas coalizões que ultrapassem velhas divisões -de diferentes fés e credos; de norte e sul, leste e oeste; negros, brancos e marrons".
Obama disse que assumiu o poder numa época em que muitos no mundo viam os EUA com ceticismo e desconfiança. Parte do problema, disse, era devido a desinformação e conceitos errados; parte, pela percepção de que, em questões críticas, o país agiu unilateralmente; parte, pelo que chamou de "antiamericanismo reflexo".
"Como todos vocês, minha responsabilidade é agir em interesse de minha nação e de meu povo, e eu nunca vou me desculpar por defender esses interesses", afirmou. "Mas é minha crença profunda que neste ano, mais do que em qualquer outro da história, os interesses das nações e das pessoas é compartilhado."
As palavras contrastam com as do antecessor, George W. Bush, que via a ONU como um entrave aos interesses americanos e, na véspera da invasão ao Iraque, disse que a entidade corria o risco de se tornar irrelevante. Obama procurou se distanciar dele, dizendo que o país pagara sua dívida com a organização e entrara no Conselho de Direitos Humanos, duas queixas antigas da ONU.
Listou também medidas que romperam com as da era Bush: "Proibi sem exceção ou equívoco o uso de tortura pelos EUA. Ordenei que a prisão de Guantánamo seja fechada, e estamos fazendo o trabalho duro de forjar um arcabouço para combater o extremismo seguindo os princípios legais. Toda nação deve saber: os EUA viverão seus valores, e nós vamos liderar pelo exemplo."
Distanciou-se ainda de uma das regras de ouro da gestão bushista: "A democracia não pode ser imposta por uma nação de fora. Cada sociedade deve buscar seu próprio caminho, e nenhum caminho é perfeito. Cada país vai buscar seu caminho enraizado na cultura de seu povo, e, no passado, os EUA foram muito seletivos na promoção da democracia".
Obama disse que sua nova era de engajamento se baseia em quatro pilares: "Não proliferação e desarmamento; promoção de paz e segurança; preservação do planeta; e uma economia global que crie oportunidade para todos os povos". São princípios amplos e vagos demais, duas críticas comuns ao democrata, que vive o pior momento no campo doméstico.
Ontem, porém, em sua estreia na mais internacional das arenas, ele só ouviu aplausos.


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