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Rompendo tradição, Obama critica Israel por assentamentos
Em discurso na ONU, presidente americano diz não aceitar legitimidade de colônias judaicas em território palestino
Apesar de críticas, premiê israelense se satisfaz com menção de democrata a Estado judaico, que qualifica de um "apoio importante"
DO ENVIADO A NOVA YORK
Rompendo tradição histórica, Barack Obama criticou Israel, o principal aliado dos EUA
no Oriente Médio, no discurso
de ontem. Na fala, ele procurou
não citar países nominalmente.
Mas, ao falar da busca pela paz
mundial, disse que ela passava
necessariamente por uma solução do conflito israelo-palestino e que essa solução passava
pelo fim da expansão dos assentamentos de Israel em território palestino.
"Continuamos a pedir aos
palestinos que parem as provocações a Israel e a enfatizar que
não aceitamos a legitimidade
dos assentamentos israelenses
prolongados", disse. Depois,
afirmou que a meta era clara:
"Dois Estados vivendo lado a
lado em paz e segurança -um
Estado judaico de Israel, com
segurança real para todos os israelenses; e um Estado palestino viável e independente, com
território contíguo que encerre
a ocupação iniciada em 1967".
O líder americano afirmou
também, contudo, que a hora
era a de "relançar as negociações sem precondições". Antes,
os EUA viam no congelamento
das colônias judaicas na Cisjordânia um passo fundamental
para retomar as conversas.
Também em Nova York, o
primeiro-ministro Binyamin
Netanyahu ignorou a crítica e
elogiou a menção ao Estado como "judaico": "É um apoio importante", disse. A menção foi
criticada pelo Hamas, que controla a faixa de Gaza: "Quando
Obama diz "Estado judaico", satisfaz as exigências de Israel",
disse Taher A-Nunu, do grupo
radical islâmico.
Obama seria duro também
ao citar a busca pela não proliferação nuclear. "Se os governos do Irã e da Coreia do Norte
escolherem ignorar os padrões
internacionais, se forem insensíveis aos perigos de uma escalada de armas nucleares, então
deverão prestar contas disso".
Na plateia, o iraniano Mahmoud Ahmadinejad e seu time
assistiam quietos.
Eram as exceções: Obama foi
interrompido 13 vezes por
aplausos. Nos corredores do
plenário da ONU, funcionários
se acotovelavam para ver o democrata de perto.
"A mensagem de sua fala é:
"Trabalharemos com vocês, nações do mundo, mas não se
continuarem a nos culpar por
tudo de ruim", disse Jim Walsh,
perito em segurança internacional do MIT (Massachusetts
Institute of Technology).
"Fiquei chocado com quão
antipresidencial ele foi ao criticar [George W.] Bush e ao levar
problemas domésticos para serem discutidos numa arena internacional", criticou John
Bolton, ex-embaixador do republicano na ONU.
Show de Gaddafi
Na sequência de Obama, que
falou logo após o presidente
brasileiro, Luiz Inácio Lula da
Silva, como é praxe, foi a vez de
Muammar Gaddafi ocupar a
tribuna. Em um discurso seis
vezes mais longo que os 15 minutos protocolares, o ditador líbio fez uma intervenção desconjuntada e errática.
Chamou o Conselho de Segurança da ONU de "conselho do
terror", disse que a ONU havia
permitido que 65 guerras ocorressem e comparou o Taleban
ao Vaticano. Disse que gostaria
que Obama fosse presidente
dos EUA "para sempre" e o chamou de "meu filho".
Reclamou do "jet lag" e pediu
que a investigação do assassinato de John F. Kennedy fosse
reaberta. Por fim, disse que o
continente africano merecia
uma indenização de US$ 7,77
bilhões, sem explicar a origem
do número.
(SÉRGIO DÁVILA)
Leia a íntegra traduzida do
discurso
www.folha.com.br/092663
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