São Paulo, quinta-feira, 24 de setembro de 2009

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Rompendo tradição, Obama critica Israel por assentamentos


Em discurso na ONU, presidente americano diz não aceitar legitimidade de colônias judaicas em território palestino

Apesar de críticas, premiê israelense se satisfaz com menção de democrata a Estado judaico, que qualifica de um "apoio importante"

DO ENVIADO A NOVA YORK

Rompendo tradição histórica, Barack Obama criticou Israel, o principal aliado dos EUA no Oriente Médio, no discurso de ontem. Na fala, ele procurou não citar países nominalmente.
Mas, ao falar da busca pela paz mundial, disse que ela passava necessariamente por uma solução do conflito israelo-palestino e que essa solução passava pelo fim da expansão dos assentamentos de Israel em território palestino.
"Continuamos a pedir aos palestinos que parem as provocações a Israel e a enfatizar que não aceitamos a legitimidade dos assentamentos israelenses prolongados", disse. Depois, afirmou que a meta era clara:
"Dois Estados vivendo lado a lado em paz e segurança -um Estado judaico de Israel, com segurança real para todos os israelenses; e um Estado palestino viável e independente, com território contíguo que encerre a ocupação iniciada em 1967".
O líder americano afirmou também, contudo, que a hora era a de "relançar as negociações sem precondições". Antes, os EUA viam no congelamento das colônias judaicas na Cisjordânia um passo fundamental para retomar as conversas.
Também em Nova York, o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu ignorou a crítica e elogiou a menção ao Estado como "judaico": "É um apoio importante", disse. A menção foi criticada pelo Hamas, que controla a faixa de Gaza: "Quando Obama diz "Estado judaico", satisfaz as exigências de Israel", disse Taher A-Nunu, do grupo radical islâmico.
Obama seria duro também ao citar a busca pela não proliferação nuclear. "Se os governos do Irã e da Coreia do Norte escolherem ignorar os padrões internacionais, se forem insensíveis aos perigos de uma escalada de armas nucleares, então deverão prestar contas disso".
Na plateia, o iraniano Mahmoud Ahmadinejad e seu time assistiam quietos.
Eram as exceções: Obama foi interrompido 13 vezes por aplausos. Nos corredores do plenário da ONU, funcionários se acotovelavam para ver o democrata de perto.
"A mensagem de sua fala é: "Trabalharemos com vocês, nações do mundo, mas não se continuarem a nos culpar por tudo de ruim", disse Jim Walsh, perito em segurança internacional do MIT (Massachusetts Institute of Technology).
"Fiquei chocado com quão antipresidencial ele foi ao criticar [George W.] Bush e ao levar problemas domésticos para serem discutidos numa arena internacional", criticou John Bolton, ex-embaixador do republicano na ONU.

Show de Gaddafi
Na sequência de Obama, que falou logo após o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, como é praxe, foi a vez de Muammar Gaddafi ocupar a tribuna. Em um discurso seis vezes mais longo que os 15 minutos protocolares, o ditador líbio fez uma intervenção desconjuntada e errática. Chamou o Conselho de Segurança da ONU de "conselho do terror", disse que a ONU havia permitido que 65 guerras ocorressem e comparou o Taleban ao Vaticano. Disse que gostaria que Obama fosse presidente dos EUA "para sempre" e o chamou de "meu filho".
Reclamou do "jet lag" e pediu que a investigação do assassinato de John F. Kennedy fosse reaberta. Por fim, disse que o continente africano merecia uma indenização de US$ 7,77 bilhões, sem explicar a origem do número. (SÉRGIO DÁVILA)


Leia a íntegra traduzida do discurso www.folha.com.br/092663




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