São Paulo, sábado, 24 de setembro de 2011

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Ataque a países ricos foi decisão de Dilma

Discurso lido pela presidente na abertura da Assembleia Geral carregou na economia por iniciativa pessoal dela

O marqueteiro João Santana cuidou do encadeamento do texto; Dilma praticamente decorou seu discurso

ELIANE CANTANHÊDE

COLUNISTA DA FOLHA

ANA FLOR
DE BRASÍLIA

Diferente de seu antecessor Luiz Inácio Lula da Silva, que recebia discursos prontos e incluía improvisos na hora, a presidente Dilma Rousseff participou de maneira ativa, definiu o tom e editou detalhes do texto que leu como primeira mulher a abrir uma Assembleia Geral da ONU, na última quarta-feira, em Nova York.
Dilma encomendou um texto inicial ao Itamaraty que serviu como "copião". Leu, achou muito centrado em política externa e amorfo. Fez então pedidos de informações à área da Fazenda, buscou anotações e deixou claro desde o início a intenção de focar a crise econômica.
Foi a própria presidente quem carregou nas tintas ao apontar o dedo contra os EUA e os países ricos como responsáveis pela crise e destacar os pontos positivos do Brasil.
Foi ela também quem incluiu uma ressalva para evitar críticas e ironias depois: o trecho em que diz que a resistência do Brasil à crise "não é ilimitada".
A decisão foi tomada já nos EUA, diante das informações da Fazenda e do próprio ministro Guido Mantega (Fazenda) de que a semana iria acabar com turbulências fortes na Bovespa, dólar em disparada e clima de incerteza.

DESEMPREGO
Também não foi à toa que Dilma destacou os dados de desemprego, francamente desfavoráveis aos EUA e à Europa e favoráveis ao Brasil. Ela já tinha conhecimento do novo dado, que seria anunciado apenas no dia seguinte: 6%, melhor índice do mês de agosto na série histórica do IBGE, iniciada em 2002.
No discurso, Dilma disse que há 44 milhões de desempregados na Europa, enquanto a Comissão Europeia registra 22,7 milhões no último levantamento disponível.
O dado constava do calhamaço do Itamaraty e passou pela Fazenda. Planalto e Itamaraty dizem que não houve erro; foram fontes e metodologia diferentes.
Coube ao marqueteiro João Santana incluir a emoção e capitalizar "o fato histórico" de Dilma ser a primeira mulher a abrir a assembleia, com a menção ao fato de ela ter sido torturada na ditadura.
Santana também cuidou do encadeamento do texto, em que a entrada do Sudão do Sul na ONU levou à fala da falta da Palestina.
Dilma desembarcou em Nova York com o texto quase fechado. Lá, enxugou um pouco da emoção e pesou ainda mais na economia, tema que tem dominado suas preocupações.
Diferente de Lula, não quis improvisar. Ao contrário, praticamente decorou o texto.


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