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São Paulo, sexta-feira, 24 de outubro de 2003

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INFÂNCIA PERDIDA

Total equivale a 56% das crianças nos 46 países em desenvolvimento pesquisados pelo Unicef, inclusive o Brasil

Pobreza afeta ao menos 1 bilhão de crianças

Jewel Samad - 24.jan.2001/France Presse
Criança chora após incêndio em favela de Dhaka, capital de Bangladesh


GUSTAVO CHACRA
DA REDAÇÃO

Um bilhão de crianças no mundo em desenvolvimento sofrem pelo menos um dos efeitos da pobreza, segundo estudo do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância). O número equivale a 56% do total de crianças nos 46 países pesquisados.
E, de acordo com o estudo, 674 milhões (37%) vivem em pobreza absoluta, isto é, são afetadas por dois ou mais efeitos da pobreza.
São sete os efeitos da pobreza listados no estudo: falta de água potável, condições sanitárias precárias, moradia precária, falta de informação, falta de educação, falta de alimento e condições de saúde precárias. É considerada pobre a criança que sofre pelo menos um dos efeitos. Caso seja afetada por mais de um deles, a criança será classificada como vivendo em absoluta pobreza.
As situações são mais graves nas áreas rurais, de acordo com o estudo, principalmente pela falta de condições sanitárias no campo. Mais de 90% das crianças que vivem nas áreas rurais na África subsaariana e no sul da Ásia sofrem pelo menos um dos efeitos da pobreza.

Moradia precária
As meninas sofrem mais com a falta de educação do que os meninos. O estudo indica que 16% das meninas são afetadas pela falta de educação. Entre os meninos são 10%. As regiões responsáveis pela discrepância são o Oriente Médio e o norte da África.
O principal problema das crianças pobres é a moradia precária, segundo o estudo, que diz que 1 em cada 3 crianças vive em uma habitação com chão de terra e/ou dividindo o quarto com pelo menos outras cinco pessoas. E um número equivalente não possui banheiro na própria casa. Os dados indicam que há mais de 500 milhões de crianças em cada uma dessas situações. Há ainda 376 milhões de crianças sem acesso a água potável. E 134 milhões nunca frequentaram uma escola.
O estudo, denominado "A Pobreza Infantil no Mundo em Desenvolvimento", é o primeiro do gênero realizado pelo Unicef. Segundo Erin Trowbridge, porta-voz do Unicef, o estudo tem como foco temas especificamente ligados às crianças, "como a vacinação e a educação". Trowbridge disse à Folha que outras pesquisas erram ao medir a pobreza pela renda e ao colocar a criança como apenas um membro da família.
Ao todo, 1,2 milhão de crianças até 18 anos (de 46 países), principalmente no final dos anos 90, foram pesquisadas. O resultado nesses países serve como base para a estimativa nos países em desenvolvimento que não foram pesquisados. Segundo o Unicef, "os efeitos físicos, emocionais e intelectuais causados pela pobreza nas crianças provocam sofrimentos durante toda a vida".
"A erradicação das piores manifestações da pobreza não é apenas um imperativo moral. É uma possibilidade prática e possível. E começa com o investimento nas crianças. Nenhum esforço para a redução da pobreza no mundo pode ser bem-sucedido sem atingir, em primeiro lugar, as crianças", disse Carol Bellamy, diretora-executiva do Unicef. As declarações foram dadas nesta semana, no Parlamento britânico.
Para Bellamy, as crianças precisam ter acesso a água potável e a condições sanitárias saudáveis. Todos os meninos e todas as meninas devem ter condições de ir à escola, com segurança e espaço para aprender. "A pobreza deixa as crianças sem futuro."
A saída para acabar com a pobreza infantil, segundo o Unicef, passa por investimentos dos governos, da sociedade e das famílias nos direitos das crianças. "É responsabilidade dos adultos criar um ambiente protegido no qual a criança possa viver longe da pobreza", disse Trowbridge.


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