São Paulo, terça-feira, 24 de outubro de 2006

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Candidata francesa quer júri para avaliar eleitos

Ségolène Royal pode disputar a sucessão de Chirac

DA REDAÇÃO

A pré-candidata socialista à Presidência da França Ségolène Royal foi ontem duramente bombardeada, pela esquerda e pelo bloco de centro-direita, por ter proposto no domingo a instituição de "júris populares" sobre o desempenho dos políticos durante seus mandatos.
Ségolène encabeça a preferência dos convencionais do Partido Socialista, que em novembro escolherão quem disputará pela sigla, entre abril e maio de 2007, a sucessão do presidente Jacques Chirac.
Seus dois rivais dentro do PS são o ex-primeiro-ministro Laurent Fabius e o ex-ministro das Finanças Dominique Strauss-Kahn. Ambos foram os mais cáusticos em suas reações, na esperança de enfraquecer a concorrente ou ao menos de deixá-la na defensiva, no segundo debate entre os três pré-candidatos, que um "pool" de TVs transmite hoje à noite.
A proposta de Ségolène, disse Fabius, "se inspira num antiparlamentarismo sumário". Strauss-Kahn afirmou que "a regra republicana é a de que o sufrágio universal seja a única forma de aferir o desempenho de um políticos". Ele defende, no entanto, uma idéia também recente: a de prestação de contas obrigatória e periódica, lançada pelo socialista e prefeito de Paris Bertrand Delanoë.

Permanência no cargo
Ségolène lançou a idéia numa conferência na Sorbonne. O júri seria formado por cidadãos selecionados por sorteio, sem que o político reprovado fosse obrigado a deixar seu cargo.
Ela argumentou ser importante implantar alguma forma de democracia participativa -em sua região, a de Poitou-Charente, estudantes, professores e alunos decidem sobre 10% do orçamento anual de R$ 330 milhões para as escolas.
Disse ainda que seria uma forma de reconstruir a relação de confiança entre eleitores e eleitos. Com isso, afirmou, seria bem mais baixa a abstenção (39% nas últimas eleições parlamentares) no país, onde o voto não é obrigatório.
Ainda dentro da esquerda, o historiador Max Gallo qualificou a idéia de "demagógica" e disse que os júris propostos lembravam a Guarda Vermelha, com a qual o então presidente Mao Tsé-tung destruiu as instituições chinesas a partir de 1966, na Revolução Cultural.
Os partidos do bloco de centro-direita, com muitíssima ironia, tentaram avaliar se a própria Ségolène seria aprovada pelo júri que propõe.
O líder da maioria na Assembléia Nacional, Bernard Accoyer, distribuiu nota na qual diz que Ségolène, em quatro anos como deputada, apresentou só dois projetos e fez apenas sete discursos em plenário.
"A proposta dela é chocante", disse Jerôme Chartier, outro deputado da UMP, o partido do presidente Chirac e do premiê Dominique de Villepin.
"É uma proposta populista, que representaria um recuo da democracia", disse Valérie Pécresse, ligada a Nicolas Sarkozy, o atual ministro do Interior e provável adversário de Ségolène no ano que vem.
O fato é que, mesmo criticada, Ségolène consegue se manter na ribalta e prosseguir com seu hábito de não levar em conta as idéias tradicionais de seu partido. Contra os jovens arruaceiros dos subúrbios, por exemplo, ela defende a ação da polícia -o que, dizem alguns de seus críticos, a leva a disputar espaço com Sarkozy entre os eleitores conservadores.
O establishment socialista desconfia de Ségolène. O semanário pró-PS "Le Nouvel Observateur", que a apoiou de um ano para cá, acaba de se distanciar de sua pré-candidatura.


Com agências internacionais



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