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Candidata francesa quer júri para avaliar eleitos
Ségolène Royal pode disputar a sucessão de Chirac
DA REDAÇÃO
A pré-candidata socialista à
Presidência da França Ségolène Royal foi ontem duramente
bombardeada, pela esquerda e
pelo bloco de centro-direita,
por ter proposto no domingo a
instituição de "júris populares"
sobre o desempenho dos políticos durante seus mandatos.
Ségolène encabeça a preferência dos convencionais do
Partido Socialista, que em novembro escolherão quem disputará pela sigla, entre abril e
maio de 2007, a sucessão do
presidente Jacques Chirac.
Seus dois rivais dentro do PS
são o ex-primeiro-ministro
Laurent Fabius e o ex-ministro
das Finanças Dominique
Strauss-Kahn. Ambos foram os
mais cáusticos em suas reações,
na esperança de enfraquecer a
concorrente ou ao menos de
deixá-la na defensiva, no segundo debate entre os três pré-candidatos, que um "pool" de
TVs transmite hoje à noite.
A proposta de Ségolène, disse
Fabius, "se inspira num antiparlamentarismo sumário".
Strauss-Kahn afirmou que "a
regra republicana é a de que o
sufrágio universal seja a única
forma de aferir o desempenho
de um políticos". Ele defende,
no entanto, uma idéia também
recente: a de prestação de contas obrigatória e periódica, lançada pelo socialista e prefeito
de Paris Bertrand Delanoë.
Permanência no cargo
Ségolène lançou a idéia numa
conferência na Sorbonne. O júri seria formado por cidadãos
selecionados por sorteio, sem
que o político reprovado fosse
obrigado a deixar seu cargo.
Ela argumentou ser importante implantar alguma forma
de democracia participativa
-em sua região, a de Poitou-Charente, estudantes, professores e alunos decidem sobre
10% do orçamento anual de R$
330 milhões para as escolas.
Disse ainda que seria uma
forma de reconstruir a relação
de confiança entre eleitores e
eleitos. Com isso, afirmou, seria bem mais baixa a abstenção
(39% nas últimas eleições parlamentares) no país, onde o voto não é obrigatório.
Ainda dentro da esquerda, o
historiador Max Gallo qualificou a idéia de "demagógica" e
disse que os júris propostos
lembravam a Guarda Vermelha, com a qual o então presidente Mao Tsé-tung destruiu
as instituições chinesas a partir
de 1966, na Revolução Cultural.
Os partidos do bloco de centro-direita, com muitíssima
ironia, tentaram avaliar se a
própria Ségolène seria aprovada pelo júri que propõe.
O líder da maioria na Assembléia Nacional, Bernard Accoyer, distribuiu nota na qual diz
que Ségolène, em quatro anos
como deputada, apresentou só
dois projetos e fez apenas sete
discursos em plenário.
"A proposta dela é chocante",
disse Jerôme Chartier, outro
deputado da UMP, o partido do
presidente Chirac e do premiê
Dominique de Villepin.
"É uma proposta populista,
que representaria um recuo da
democracia", disse Valérie Pécresse, ligada a Nicolas Sarkozy, o atual ministro do Interior e provável adversário de
Ségolène no ano que vem.
O fato é que, mesmo criticada, Ségolène consegue se manter na ribalta e prosseguir com
seu hábito de não levar em conta as idéias tradicionais de seu
partido. Contra os jovens arruaceiros dos subúrbios, por
exemplo, ela defende a ação da
polícia -o que, dizem alguns de
seus críticos, a leva a disputar
espaço com Sarkozy entre os
eleitores conservadores.
O establishment socialista
desconfia de Ségolène. O semanário pró-PS "Le Nouvel Observateur", que a apoiou de um
ano para cá, acaba de se distanciar de sua pré-candidatura.
Com agências internacionais
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