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SUCESSÃO NOS EUA / RETA FINAL
McCain promove "anti-socialismo"
Republicano faz de seus comícios odes a Joe, o encanador, e similares, e os usa para acusar Obama de "redistribuidor de renda"
Platéia, candidato e sua vice demonizam opositor, que lidera pesquisas; McCain aumenta tom populista e se diz defensor da classe média
SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A CINCINNATI (OHIO)
Na reta final das eleições presidenciais norte-americanas,
os comícios de John McCain
escalam a retórica populista,
marcada principalmente pela
ode a diversos "Joes", membros da classe média que serão
supostamente prejudicados em
caso da vitória do democrata
Barack Obama. A retórica republicana alimenta e é alimentada por cartazes e manifestações populares cada vez mais
fortes contra o oponente.
O senador de 72 anos, segundo colocado na disputa, e sua
candidata a vice, Sarah Palin,
44, ampliaram o conceito de
Joe, o encanador, para outras
profissões, vendendo os novos
personagens aos seus eleitores
como "gente como a gente",
pessoas que, dizem os candidatos, serão vítimas do plano econômico em gestação pelo líder
nas pesquisas eleitorais.
Na ofensiva que McCain e
Palin têm feito nos últimos dias
em Estados indecisos, principalmente Ohio, Pensilvânia e
Virgínia, a governadora do
Alasca chama Obama de "socialista". A base da "acusação" é a
resposta que o democrata deu
ao trabalhador Samuel "Joe"
Wurzelbacher, ou simplesmente Joe, o encanador, em
que defende a redistribuição de
riqueza via impostos.
Público inflamado
A resposta positiva do público, pelo menos nos comícios,
inflama cada vez mais os republicanos -e provoca uma inflação de epítetos. No comício
realizado num hangar em Cincinatti, Ohio, na noite de anteontem, Sarah Palin saudou
"Pam, a professora republicana", que estava na platéia, e disse que no caminho tinha encontrado "Phil, o pedreiro", e
"Angela, a enfermeira".
Citou ainda "Tito, o construtor", o imigrante colombiano
Tito Muñoz, que reclamou recentemente que Joe, o encanador, havia sido investigado pela
mídia, que descobriu que ele
não era encanador, perdeu o
prazo para se registrar para votar e deve US$ 11 mil ao Fisco.
"No governo de "Obama, o redistribuidor de renda", quem
faz perguntas inconvenientes
será investigado", bradava Palin, aplaudida pelos cerca de
2.000 presentes, que gritavam
"socialista!" e "No-bama!" e erguiam cartazes negativos sobre
o democrata. Um deles trazia a
frase "Say no to B.O." (diga não
a B.O.) e o desenho de um desodorante. Em inglês, são iniciais
de "body odor", cheiro do corpo, o equivalente ao brasileiro
cê-cê.
Outro dizia "Socialismo é
uma droga - Obama - Não agora
nem jamais". Outro ainda pregava a trindade "Guns, God &
Guts - Keep America Free" (armas, Deus e coragem mantêm
os EUA livres). Mas os mais freqüentes aludiam a Joe, o encanador. "Sou pobre, mas estou
com Joe", comunicava um.
Na porta, Ruthayn Hill vendia camisetas com a frase "Eu
estou com Joe, o encanador
-Não quero riqueza redistribuída". "Obama é socialista, não
precisamos disso nos EUA",
disse à Folha a vendedora, que
reclamava que "o pessoal dele"
-o governo do Estado é democrata- havia negado permissão para ela armar sua barraca.
A campanha de McCain captou o espírito cedo e vem martelando o conceito de que o democrata é o inimigo da classe
média. "Ele quer, abre aspas,
"redistribuir a riqueza'", disse
John McCain, depois de ser
apresentado por Palin, no comício de Cincinnati. "Quero espalhar as oportunidades. Obama quer decidir para quem vai
cada fatia do bolo, e eu quero
ver o bolo crescer para todos."
Horas depois do comício de
anteontem, os republicanos
colocaram no ar dois anúncios.
No da internet, intitulado "Eu
Sou Joe", são compilados vídeos submetidos por vários
eleitores, que se identificam
com o encanador e reclamam
do aumento de imposto generalizado que a campanha de
McCain diz que acontecerá sob
Obama. No de rádio, o governador da Flórida, Charlie Crist,
reforça os pontos contra a tal
redistribuição de renda.
A demonização do democrata, que abre vantagem sobre o
oponente a cada pesquisa nacional e nos Estados-chave, é
aplicada não só a membros de
sua campanha e partido, mas
aos que o apóiam, num jogo
que alguns analistas consideram perigoso. Em Cincinnati,
Palin disse que via "verdadeiros patriotas" na platéia, "gente
que ama os EUA de verdade".
Antes, na Carolina do Norte,
na semana passada, a governadora do Alasca havia elogiado o
que chamou de regiões "pró-América" dos EUA, sugerindo
que quem está contra a chapa
do partido governista está contra o país. Abriu uma comporta
que não pára de dar frutos.
No fim de semana, no mesmo Estado, o congressista Robin Hayes apresentou a dupla
republicana dizendo que "os
progressistas odeiam americanos de verdade que trabalham,
têm realizações, atingem metas e são tementes a Deus". À
emissora MSNBC sua colega de
partido, a congressista Michele
Bachmann, de Minnesota, sugeriu que a mídia passasse a investigar o Congresso para descobrir quem é "pró-América e
quem é anti-América".
Os patriotas do comício de
Cincinnati se deixavam levar.
"Ele é um internacionalista",
disse à Folha o mineiro aposentado Bill Johnson, que segurava um cartaz escrito "Caribou Barbie". A frase junta o nome em inglês da espécie de rena comum no Alasca com a boneca e é um dos apelidos dados
à governadora pelo fã-clube
masculino cada vez mais presente e ruidoso nesses eventos.
Ao seu lado, Cynthia Mason,
assistente social, concordava
com o marido. "Obama se preocupa muito com a imagem que
o mundo faz dos EUA, e nós
precisamos de alguém que se
preocupe com o país primeiro,
não com os outros." Perto dali,
Suzanne Lunsford, professora
de sociologia da universidade
estadual Wright, dizia que tinha uma revelação a fazer.
Deu ao repórter xerox de um
texto do tablóide "National Enquirer", que relata diversos rumores cercando o democrata.
"Os jornalistas da grande imprensa daqui não podem publicar a denúncia, pois serão mortos", resumiu. "Como você é do
Brasil, não corre o risco." Sua
denúncia: "Obama é comunista, terrorista e gay".
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