São Paulo, sábado, 24 de outubro de 2009

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Enviado da OEA pressiona Zelaya a renunciar

Negociações foram rompidas oficialmente, e presidente deposto, abrigado há 34 dias na embaixada, não diz o que fará agora

Emissário do deposto diz que ele aceitaria retornar mesmo sem poder de fato; Micheletti concordaria em sair, se Zelaya o seguisse

Orlando Sierra/France Presse
O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya (à esq.), recebe o representante da OEA John Biehl na embaixada brasileira

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A TEGUCIGALPA

No dia em que o diálogo se rompeu oficialmente em Honduras, o enviado da OEA (Organização dos Estados Americanos) ao país, John Biehl, pressionou, na tarde de ontem, Manuel Zelaya a desistir de ser restituído à Presidência e a renunciar junto com o presidente interino, Roberto Micheletti, em prol de um terceiro nome.
Essa proposta, relançada em entrevista coletiva pela manhã pelos delegados de Micheletti, foi trazida pelo próprio Biehl à embaixada brasileira, onde Zelaya está abrigado há 34 dias.
Segundo relato de Carlos Reina, assessor de Zelaya presente à conversa, Biehl tentou convencê-lo a renunciar argumentando que Micheletti estava disposto a fazer o mesmo até as 17h locais (21h em Brasília).
"Mas o presidente Zelaya se manteve firme defendendo por princípio a restituição, ainda que sem poder, de forma simbólica", disse Reina também hospedado na embaixada.
A presença de Biehl foi inesperada, já que a reunião era inicialmente apenas com os três delegados de Zelaya na mesa de negociação. Foi a primeira vez que ele participou de um encontro desse tipo em mais de duas semanas de negociação.
Na saída, Biehl não quis responder sobre os rumos da crise hondurenha. "Se eu tivesse uma bola de cristal, seria milionário e não estaria aqui." Ele apenas disse que deverá deixar Honduras no máximo até hoje.
Biehl é assessor do secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza e tem nacionalidade chilena, como o seu chefe.
Segundo fontes da OEA, a atuação de Biehl contradiz a o formato da participação na negociação da entidade, que defende a restituição de Zelaya e a aceitação de qualquer decisão do presidente deposto.

Fracasso
Após dar quatro ultimatos em uma semana, Zelaya abandonou ontem oficialmente as negociações com o governo interino sobre a restituição.
"O diálogo foi declarado esgotado em 15 de outubro", disse Zelaya por volta das 7h30 locais em entrevista à rádio Globo, a qual a Folha acompanhou ao lado do presidente deposto, em alusão a seu primeiro ultimato -o último se esgotou à 0h de ontem.
"Eles não têm a mínima vontade de resolver a crise. Não podemos ser cúmplices de todas essas chacotas contra todas entidades e personalidades do mundo", disse.
Zelaya não respondeu às três perguntas sobre o que planeja fazer a partir de agora, incluindo se pretende deixar em breve a embaixada brasileira. Na terceira vez em que foi questionado, encerrou a entrevista.
As duas partes não conseguiram superar o impasse em torno de que Poder deveria analisar a possibilidade de volta de Zelaya ao cargo.
O presidente deposto defendia que fosse o Legislativo que o fizesse, enquanto o regime interino insistia que o papel caberia ao Judiciário, que declarou em agosto que a deposição de Zelaya foi legal, pois o presidente se recusou a cumprir a ordem judicial de cancelar uma consulta popular sobre a realização de uma Assembleia Constituinte.
A interrupção do diálogo ocorre a pouco mais de cinco semanas das eleições presidenciais, marcadas para 29 de novembro. Vários países da região, entre os quais Brasil, já deixaram claro que não reconhecerão o resultado caso Zelaya não seja restituído.
Por outro lado, os EUA, principal parceiro comercial hondurenho, vêm dando sinais de que poderão reconhecer as eleições.


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