São Paulo, sábado, 24 de outubro de 2009

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Iraquianos almejam reaquecer parceria comercial com Brasil

Em 2009, exportações brasileiras ao Iraque somam US$ 162 mi até setembro, 65% mais que em 2008

SAMY ADGHIRNI
ENVIADO ESPECIAL A BAGDÁ

A reaproximação ainda é tímida, mas Brasil e Iraque aos poucos ensaiam retomar a intensa parceria dos anos 80.
Um dos sinais mais visíveis do interesse mútuo está na construção de um pavilhão especialmente voltado para o Brasil na próxima Feira Internacional de Bagdá, de 1º a 10 de novembro.
De olho no imenso mercado da reconstrução iraquiana, a Câmara de Comércio Brasil-Iraque, criada há seis anos para estimular a revitalização dos laços bilaterais, e a Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Desenvolvimento) esperam representantes de ao menos 20 empresas no evento.
É dada como certa a participação de grupos como Sadia e Marcopolo na feira anual, uma das mais tradicionais do Oriente Médio até ser interrompida com a adoção do embargo econômico da ONU (Organização das Nações Unidas) contra o regime de Saddam Hussein, em 1991. O Brasil não participou da primeira reedição, em 2008.
"Há enormes perspectivas. O Iraque é um país destruído pela guerra e que precisa de tudo. O Brasil é uma potência econômica que produz de tudo", disse à Folha Jalal Chaya, presidente da câmara Brasil-Iraque.
Em 2009, exportações brasileiras para o Iraque, catapultadas por alimentos, atingiram US$ 162 milhões até setembro (65% mais que em 2008).
O governo iraquiano sonda empresas brasileiras para construir casas populares. As forças de segurança iraquianas negociam com a Condor a aquisição de milhares de coletes à prova de bala e armas leves. Aviões Embraer para monitoramento de fronteiras também estão na pauta.
Bagdá convidou a Petrobras para as licitações para petrolíferas estrangeiras, mas fontes iraquianas dizem que o interesse da empresa por reservas no Oriente Médio arrefeceu após a descoberta do pré-sal.
Existem ainda conversas para a aquisição pelo Iraque de milhares de carros Voyage fabricados no Brasil que seriam revendidos com facilidade de pagamento (créditos de longo prazo) para os funcionários públicos iraquianos. Críticos dizem que se trata de uma manobra eleitoreira do premiê Nuri al Maliki para tentar garantir o voto dos servidores nas eleições legislativas de janeiro.
Em fevereiro, cerca de 20 oficiais da polícia iraquiana viajarão a Brasília para receber treinamento da Polícia Federal.
Mas os dois países ainda estão longe da relação privilegiada que mantiveram na primeira década do regime de Saddam Hussein. Na época, o Brasil abasteceu o Iraque com 190 mil Passats, além de armas e veículos blindados, que foram usados na guerra contra o Irã.
O Brasil vendeu urânio para as centrais nucleares de Saddam, enquanto o Iraque foi o grande supridor de petróleo para a indústria brasileira depois dos dois choques internacionais nos preços do barril.
A construtora mineira Mendes Júnior ergueu grandes obras no Iraque -embora Saddam não tenha honrado boa parte dos pagamentos.
Empresários dos dois países defendem uma maior ênfase nas relações políticas para acelerar a retomada dos contatos comerciais.
As equipes de governo se conhecem pouco. O único contato de alto escalão aconteceu em 2005, quando o presidente Jalal Talabani participou, em sua primeira viagem oficial no cargo, da Cúpula América do Sul-Países Árabes, em Brasília.
Os iraquianos pedem que o Itamaraty acelere a reativação da Embaixada do Brasil no Iraque, parada desde 1990. O Itamaraty trata dos assuntos iraquianos na Jordânia e não cumpriu a promessa de reabrir a representação em Bagdá neste ano.
Já a Embaixada do Iraque em Brasília não tem embaixador desde a queda de Saddam, em 2003.


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