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Tcheco cede, e UE passará a ter presidente e chanceler
Com compromisso de Praga de assinar Tratado de Lisboa, bloco terá novos cargos
Britânico Blair se lança para chefiar a União Europeia, mas enfrenta resistência de países que preferiam nome menos à
esquerda para ocupar função
LUCIANA COELHO
DE GENEBRA
O presidente tcheco, Vaclav
Klaus, disse ontem estar satisfeito com a proposta da Presidência sueca para persuadi-lo a
assinar o Tratado de Lisboa e
deixou a Europa prestes a ter
um "número de telefone", para
citar o ex-secretário de Estado
dos EUA Henry Kissinger. Mas
decidir quem vai atendê-lo promete discussões e atrito.
Klaus cedeu ante a cláusula
que lhe permite abdicar da
Convenção sobre Direitos Fundamentais, parte do texto que o
fazia temer reivindicações de
terra por alemães expulsos no
pós-Segunda Guerra.
O tcheco, conhecido pelo seu
histrionismo, é a última barreira para implementar o tratado,
que deve fazer as vezes de
Constituição do bloco depois
que esta foi rejeitada pelos eleitores franceses e holandeses.
Com sua chancela, o acordo fechado em 2007 para reformar
as estruturas da UE pode entrar em vigor no início de 2010,
com um ano de atraso.
Entre outras coisas, o documento visa acelerar o processo
decisório trocando a unanimidade pela maioria qualificada.
E muda a estrutura de poder,
criando uma presidência com
mandato de dois anos e meio,
cujo titular será eleito pelos
chefes de governo dos países-membros, e uma chancelaria.
O bloco hoje é politicamente
esquizofrênico com uma presidência que roda a cada semestre entre os líderes dos 27
membros e a política externa
nas mãos de uma tríade que inclui uma comissária de política
externa, um alto representante
e o chanceler do presidente de
turno. Com poderes limitados,
há ainda o presidente da Comissão Europeia.
Uma presidência de fato daria à UE maior coesão e fôlego
político, algo bem-vindo quando o continente perde relevância para atores emergentes como a China. E um dos motivos
para isso está na velha pergunta
de Kissinger sobre quem afinal
fala pelos europeus.
Candidatos
Há meses parecia que esse
"alô" viria do ex-premiê britânico Tony Blair, endossado
com raro fervor pela imprensa
de seu país e ex-colegas como
Nicolas Sarkozy (França) e Silvio Berlusconi (Itália). Mas
desde que o Tratado de Lisboa
passou de uma possibilidade
em vias de virar lenda urbana a
um fato concreto no horizonte
a campanha anti-Blair cresce.
Essa reviravolta começou no
início deste mês, quando o documento ganhou o "sim" da Irlanda em um segundo referendo sobre o tema e a assinatura
do reticente governo polonês.
Agora, com a aparente anuência de Klaus, o último obstáculo
parece superado, e o esquadrão
anti-Blair ganha o foco.
A julgar pela mídia alemã e
espanhola, nem Berlim nem
Madri parecem satisfeitos com
o nome do trabalhista britânico, ainda que os governos venham sendo discretos. Os centro-europeus também já exprimem objeções a alguém de centro-equerda no cargo.
E o fogo cruzado não é menor
dentro do próprio país de Blair,
onde a oposição conservadora
declarou nesta semana que seria um "erro" pôr no comando
da UE alguém que colocou os
EUA como sua prioridade, não
a Europa -a aliança de Blair
com George W. Bush foi citada
também por políticos alemães.
Como o Partido Conservador
tem chance real de ganhar as
eleições do ano que vem, a ideia
de o governo britânico dar as
costas ao presidente da UE
preocupa os vizinhos.
Mas as restrições a Blair extrapolam sua figura. Os britânicos, que não adotam o euro e foram contra a cláusula do Tratado de Lisboa que cria uma
Chancelaria, são considerados
eurocéticos. Nesta semana
quatro eurodeputados lançaram uma campanha contra a
candidatura, alegando exatamente esse euroceticismo.
Ademais, o atual chanceler
britânico, David Milliband, é
cotado para o novo posto de política externa. É virtualmente
impossível os dois novos cargos-chave do bloco ficarem
com um só país.
Mas Blair tem a seu favor a
obscuridade de seus principais
rivais, como o premiê de Luxemburgo, Jean-Claude Juncker. Outros aventados são o ex-premiê belga Guy Verhofstadt e
o premiê holandês, Jan-Peter
Balkenende. Mais conhecido, o
primeiro-ministro francês,
François Fillon, também está
na lista, mas sem muito entusiasmo de Paris.
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