São Paulo, sábado, 24 de outubro de 2009

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Tcheco cede, e UE passará a ter presidente e chanceler

Com compromisso de Praga de assinar Tratado de Lisboa, bloco terá novos cargos

Britânico Blair se lança para chefiar a União Europeia, mas enfrenta resistência de países que preferiam nome menos à esquerda para ocupar função

LUCIANA COELHO
DE GENEBRA

O presidente tcheco, Vaclav Klaus, disse ontem estar satisfeito com a proposta da Presidência sueca para persuadi-lo a assinar o Tratado de Lisboa e deixou a Europa prestes a ter um "número de telefone", para citar o ex-secretário de Estado dos EUA Henry Kissinger. Mas decidir quem vai atendê-lo promete discussões e atrito.
Klaus cedeu ante a cláusula que lhe permite abdicar da Convenção sobre Direitos Fundamentais, parte do texto que o fazia temer reivindicações de terra por alemães expulsos no pós-Segunda Guerra.
O tcheco, conhecido pelo seu histrionismo, é a última barreira para implementar o tratado, que deve fazer as vezes de Constituição do bloco depois que esta foi rejeitada pelos eleitores franceses e holandeses. Com sua chancela, o acordo fechado em 2007 para reformar as estruturas da UE pode entrar em vigor no início de 2010, com um ano de atraso.
Entre outras coisas, o documento visa acelerar o processo decisório trocando a unanimidade pela maioria qualificada. E muda a estrutura de poder, criando uma presidência com mandato de dois anos e meio, cujo titular será eleito pelos chefes de governo dos países-membros, e uma chancelaria.
O bloco hoje é politicamente esquizofrênico com uma presidência que roda a cada semestre entre os líderes dos 27 membros e a política externa nas mãos de uma tríade que inclui uma comissária de política externa, um alto representante e o chanceler do presidente de turno. Com poderes limitados, há ainda o presidente da Comissão Europeia.
Uma presidência de fato daria à UE maior coesão e fôlego político, algo bem-vindo quando o continente perde relevância para atores emergentes como a China. E um dos motivos para isso está na velha pergunta de Kissinger sobre quem afinal fala pelos europeus.

Candidatos
Há meses parecia que esse "alô" viria do ex-premiê britânico Tony Blair, endossado com raro fervor pela imprensa de seu país e ex-colegas como Nicolas Sarkozy (França) e Silvio Berlusconi (Itália). Mas desde que o Tratado de Lisboa passou de uma possibilidade em vias de virar lenda urbana a um fato concreto no horizonte a campanha anti-Blair cresce.
Essa reviravolta começou no início deste mês, quando o documento ganhou o "sim" da Irlanda em um segundo referendo sobre o tema e a assinatura do reticente governo polonês. Agora, com a aparente anuência de Klaus, o último obstáculo parece superado, e o esquadrão anti-Blair ganha o foco.
A julgar pela mídia alemã e espanhola, nem Berlim nem Madri parecem satisfeitos com o nome do trabalhista britânico, ainda que os governos venham sendo discretos. Os centro-europeus também já exprimem objeções a alguém de centro-equerda no cargo.
E o fogo cruzado não é menor dentro do próprio país de Blair, onde a oposição conservadora declarou nesta semana que seria um "erro" pôr no comando da UE alguém que colocou os EUA como sua prioridade, não a Europa -a aliança de Blair com George W. Bush foi citada também por políticos alemães.
Como o Partido Conservador tem chance real de ganhar as eleições do ano que vem, a ideia de o governo britânico dar as costas ao presidente da UE preocupa os vizinhos.
Mas as restrições a Blair extrapolam sua figura. Os britânicos, que não adotam o euro e foram contra a cláusula do Tratado de Lisboa que cria uma Chancelaria, são considerados eurocéticos. Nesta semana quatro eurodeputados lançaram uma campanha contra a candidatura, alegando exatamente esse euroceticismo.
Ademais, o atual chanceler britânico, David Milliband, é cotado para o novo posto de política externa. É virtualmente impossível os dois novos cargos-chave do bloco ficarem com um só país.
Mas Blair tem a seu favor a obscuridade de seus principais rivais, como o premiê de Luxemburgo, Jean-Claude Juncker. Outros aventados são o ex-premiê belga Guy Verhofstadt e o premiê holandês, Jan-Peter Balkenende. Mais conhecido, o primeiro-ministro francês, François Fillon, também está na lista, mas sem muito entusiasmo de Paris.


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