São Paulo, segunda-feira, 24 de outubro de 2011

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O FIM DO DITADOR

Conhecido pela pompa e extravagância, líbio termina exposto em frigorífico; população visita cadáver do homem que ficou 42 anos no poder; a um rebelde, Gaddafi teria perguntado: 'O que eu fiz a você?'

DE SÃO PAULO

Muammar Gaddafi, autodenominado "rei dos reis da África", ditador da Líbia por mais de quatro décadas, viu o fim dos seus dias chegar, aos 69 anos, escondido num duto de concreto.
Ensanguentado, arrastado pelo deserto, agarrando-se às roupas dos inimigos para poder ficar de pé. Morto. Seu cadáver guardado dentro de um frigorífico, em um mercado.
O fim do ditador está em parte documentado em vídeos e fotografias. Restam a desvendar, no entanto, trechos essenciais, incluindo o momento da captura e a morte.
A narrativa vai se formando a partir dos fragmentos disponíveis de informação, apontando para um primeiro capítulo cujo título poderia ser: "A Fuga de Trípoli".
21 de agosto. Enquanto insurgentes capturam a capital da Líbia, o ditador Gaddafi foge em um pequeno comboio pelo deserto. O trajeto serpenteia pelos bastiões de Tarhuna e Bani Walid.
"Ele tinha muito medo da Otan [aliança militar ocidental]", afirmou, segundo o "New York Times", Mansour Dhao Ibrahim, líder da Guarda Popular -grupo formado por uma rede de informantes e voluntários da ditadura.
Dhao é uma das principais fontes de informação para a reconstituição desta história.

SEM SEREIA
Em Sirte, sua cidade natal, onde se escondeu, Gaddafi viveu uma vida distinta do cotidiano palaciano ao qual se acostumou. Ele transitou entre as casas deixadas vazias por civis afugentados -ali, nem sinal de sofás em formato de sereia, como o que tinha em uma de suas mansões.
Impaciente, Gaddafi perguntava a seus súditos: "Por que não há eletricidade? Por que não há água?", segundo relato do "New York Times".
Sem computador, ele se mantinha em contato com o mundo exterior por meio de um celular -o mesmo com que fazia declarações à televisão síria, ameaçando civis.
Deixar o poder? Por quê? "Este é meu país", ele teria afirmado em uma ocasião.
Acuado, porém, o grupo decidiu deixar Sirte. Um comboio de 40 carros deveria partir da cidade na quinta-feira, às 3h. Atrasou-se. Saiu às 8h.
Gaddafi viajou dentro de um Toyota Land Cruiser, ao lado de Dhao. Estava calado.
Aviões da Otan sobrevoaram a caravana. Um Rafale francês e um Predator americano atingiram o grupo.
Sobreviventes, incluindo Gaddafi, tentaram fugir por fazendas e estradas, e então pelos dutos de drenagem.
Foi de um dos tubos que o ditador líbio, conhecido pela pompa e extravagância, foi retirado pelos insurgentes.
Versões apontam que Gaddafi implorou para que não o matassem. A um dos rebeldes, o ditador teria perguntado: "O que eu fiz para você?".
Há, em seguida, um capítulo em branco nesta história. As imagens seguintes já mostram um Gaddafi cadavérico, de roupas rasgadas, jogado no chão poeirento.
Rebeldes afirmam que os ferimentos na cabeça e no peito são resultado de um tiroteio. Órgãos internacionais desconfiam que ele tenha sido assassinado rendido.
Ontem, a família do ditador pedia o corpo para enterrá-lo. Mas o cadáver passava por uma autópsia em Misrata, a 200 km de Trípoli. Legistas confirmam que a causa da morte foram os disparos.
Após o exame, o corpo seria levado de volta ao mercado em que estava exposto a civis vestindo máscaras para se proteger da putrefação.


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