São Paulo, segunda-feira, 24 de novembro de 2008

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Atraso marca eleições locais na Venezuela

Filas longas e processo complexo mantêm urnas abertas até a noite; país renovou governos e legislativos estaduais e municipais

Apesar de demora, votação transcorre sem distúrbios; vitória expressiva daria a Chávez força para novo referendo sobre mandatos


Juan Barreto/France Presse
Chávez, que polarizou campanha, chega para votar em Caracas


FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

Sem incidentes graves, a Venezuela foi às urnas ontem para renovar seus governadores, prefeitos e os Legislativos regionais, numa eleição em que a oposição espera retomar parte do espaço político, enquanto o presidente Hugo Chávez luta por uma vitória convincente para relançar a proposta de reeleição presidencial indefinida. Por causa das longas filas, vários centros de votação continuavam abertos horas depois do horário predeterminado.
O alto comparecimento foi considerado normal na maior parte da Venezuela, onde o voto não é obrigatório. As intensas chuvas que deixaram ao menos nove mortos últimos dias deram lugar a um sol forte em quase todo o país, facilitando o acesso. Em várias cidades, havia filas até quatro horas depois das 16h locais (18h30 em Brasília), quando a votação deveria ter sido encerrada.
Até o fechamento desta edição, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) não havia emitido nenhum resultado parcial. A difusão de bocas-de-urna é proibida pela lei venezuelana.
A votação de ontem renovará 23 dos 24 governadores do país, além de 326 Prefeituras, incluindo as capitais. Nas últimas eleições, há quatro anos, o chavismo venceu em 22 Estados e em mais de 70% dos municípios. Cerca de 16,8 milhões de eleitores estavam aptos a votar.
Pesquisas de opinião mostravam que a oposição vislumbrava chances de ganhar em Estados importantes do país, como Zulia (onde já governa), Carabobo (terceiro mais populoso) e Miranda (região metropolitana de Caracas), embora os candidatos chavistas tenham recuperado o fôlego na reta final.
O chavismo também teve de enfrentar ontem o fenômeno dos candidatos dissidentes, que tinham chances de ganhar em dois Estados: a simbólica Barinas, terra natal da família Chávez, e Guárico. Desde o ano passado, quatro governadores e vários prefeitos romperam com o governo nacional.
Nos centros de votação visitados pela Folha na região do Petare, o maior conjunto de favelas de Caracas, eleitores esperavam até quatro horas nas filas. A espera, porém, foi atribuída mais à difícil tarefa de votar em dez diferentes candidatos do que ao grande fluxo.
Localizada no município de Sucre, a eleição em Petare tem sido considerada uma das mais importantes do país devido ao favoritismo, nas pesquisas, do oposicionista Carlos Ocariz. Se vencer, terá derrotado o chavismo num dos seus bastiões.
Já Chávez votou em um centro eleitoral na empobrecida região de 23 de Janeiro, um dos seus redutos políticos. O presidente, que planeja relançar a proposta de reeleição presidencial indefinida derrotada em referendo no ano passado, adotou um tom moderado ontem, após ter ameaçado a oposição até com o uso de tanques do Exército na campanha.
"Temos de reconhecer o que diz a voz da nação. Temos de reconhecer o árbitro [CNE] novamente a sua imparcialidade", disse Chávez a jornalistas. "Honra ao vencido e glória ao vencedor, e amanhã a Venezuela continua a sua marcha."
Líderes da oposição reclamaram de um suposto prolongamento do horário de votação em todas os centros -e não apenas onde havia filas ainda.
"Se isso ocorrer], é uma fraude ao povo venezuelano, vamos dar todos os resultados em que estamos ganhando, e o governo, com essa prolongação, quer esconder. Estamos ganhando em muitos Estados, em muitas capitais", disse Julio Borges, dirigente do partido Primeiro Justiça (PJ, direita).
A acusação foi desmentida minutos depois pela presidente do CNE, Tibisay Lucena. Em entrevista coletiva na sede do órgão, ela disse que apenas os centros de votação onde havia filas ficariam abertos, conforme está previsto em lei.

Família Chávez
Adán Chávez, irmão mais velho do presidente e candidato ao governo de Barinas, disse que o seu pai e atual governador, Hugo de los Reyes Chávez, 75, foi obrigado a anular seu voto ao descobrir que não havia votado no próprio filho. Adán citou o caso como um dos vários "inconvenientes técnicos" ocorridos.


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