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entrevista
"O Brasil terá relações com quem quiser"
JANAINA LAGE
DE NOVA YORK
O analista do think-tank
Diálogo Interamericano,
Michael Shifter, avalia que
as consequências da visita
do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, ao
Brasil dependerão da habilidade política do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva. Para Shifter, um dos
objetivos de Lula é enviar
uma mensagem a Washington de que o Brasil pode manter relações com
quem quiser.
FOLHA - Como o sr. vê a decisão de receber Ahmadinejad?
MICHAEL SHIFTER - É uma
medida do papel que o
Brasil desempenha no
mundo hoje e de seu desejo de lidar com todos os governos. Há alguns riscos
nisso. É preciso contar
com parâmetros e limites
claros em relação à conduta do Irã, e o momento foi
infeliz por conta dos testes
no país. Mas tudo vai depender da habilidade de
Lula para lidar com a visita: se ele vai enviar uma
mensagem a Ahmadinejad
ou se haverá indulgência
em relação ao comportamento do Irã.
FOLHA - O Brasil recebe líderes israelenses e palestinos...
SHIFTER - Não há equivalência. Ahmadinejad é visto como um pária que está
tentando obter legitimidade e aceitação e está encontrando recepção em
países como o Brasil. O
mérito do Brasil é ser capaz de lidar com diferentes governos, mas deve ir
além de conversas e mostrar estrutura de trabalho.
FOLHA - A visita prejudica a
relação com os EUA?
SHIFTER - Significativamente não, mas levanta
questões. Lula está fazendo isso em parte para
mandar um sinal de que o
Brasil terá relações com
quem quiser. E em grande
medida esse recado é para
Washington. Pode ser um
aspecto menor de irritação no relacionamento.
FOLHA - O Brasil pode ajudar
no Oriente Médio?
SHIFTER - Não vejo como o
Brasil pode ter muito sucesso no Oriente Médio
quando na América do Sul
há tanta tensão ao seu redor. A situação é muito
mais complexa do que a
entre Colômbia e Venezuela ou Chile e Peru.
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