São Paulo, terça-feira, 24 de novembro de 2009

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Eleição hondurenha mantém OEA dividida

Brasil lidera bloco majoritário, que condena a priori a realização do pleito e prega o não reconhecimento do resultado

Os EUA encabeçam o grupo minoritário, que quer julgar legitimidade após votação; Peru, Panamá e Colômbia fecharam com Washington


SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

A OEA (Organização dos Estados Americanos) segue dividida em relação à eleição presidencial hondurenha, no domingo, com o Brasil liderando o bloco da maioria, que condena a priori a realização, pelo fato de Manuel Zelaya, o líder deposto, não ter sido ainda restituído ao poder, e com os Estados Unidos à frente do bloco da minoria, que prefere julgar a legitimidade do pleito somente após o fato consumado.
O segundo grupo, no entanto, saiu fortalecido da reunião extraordinária e fechada entre os 33 países-membros ativos da OEA, realizada ontem cedo em Washington. Com a adesão do Peru, agora são pelo menos cinco os países que fecham com os EUA, entre eles Colômbia e Panamá. Apesar de minoria, o bloco tem o país com mais poder econômico e de influência tanto sobre Honduras como sobre a entidade.
Ontem, o recém-empossado secretário-assistente obamista para a região, Arturo Valenzuela, fez discurso na sede da OEA em que reforçou a posição do bloco. "Quero sublinhar que essa não é uma eleição inventada pelo governo de facto [golpista]", disse ele. "Pelo contrário, é coerente com a renovação do Congresso e do mandato presidencial exigidos pela Constituição, o que permite que o povo hondurenho exerça seu desejo soberano."
Segundo cópia do discurso obtida pela Folha, Valenzuela fala em inglês, francês e espanhol e termina o texto com a expressão "muitíssimo obrigado", em português.
Assim, cai por terra uma das sugestões dadas por Brasília a Washington, de que o pleito seja adiado por duas semanas, para que dê tempo de o Congresso hondurenho cumprir a quinta cláusula do Acordo Tegucigalpa-San José, que prevê que o Legislativo decida se Zelaya é restituído ou não. A sessão deve acontecer só após as eleições, no dia 2 de dezembro.
Agora, a OEA se reúne no dia 4, dois dias depois da decisão hondurenha e quatro dias após o pleito, para definir se aceita a legitimidade das eleições e se, com isso, cancela a suspensão de Honduras da entidade. Se depender do Brasil, o resultado eleitoral não será validado.
"Nós continuamos com a mesma posição e dela não vamos nos afastar", disse à Folha Ruy Casaes, representante do Brasil junto à entidade. "Trocando em miúdos, não reconheceremos o resultado sem a restituição de Zelaya." Para o diplomata, o cerceamento à imprensa, a renúncia maciça de candidatos e outros fatores apontam para a impossibilidade de um processo eleitoral justo e limpo. Já os EUA creem que, se observadores internacionais disserem que o pleito ocorreu sem problemas, estará aberta a porta para o reconhecimento -e para o fim da crise.


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