São Paulo, quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

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Corte chinesa veta processo por terremoto em Sichuan

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

Um tribunal da Província chinesa de Sichuan rejeitou a abertura de processo de pais que perderam seus filhos no terremoto do último mês de maio. Os pais queriam processar o governo local e a construtora que fez uma escola onde morreram 127 crianças.
O grupo de 60 pais entrou com a ação no dia 1º de dezembro contra o governo da Província no Tribunal de Intermediação Popular da cidade de Deyang. Um pai confirmou o processo à agência de notícias Associated Press, revelando apenas o sobrenome, Sang, com medo de represálias.
O pai revelou à agência que o juiz do Tribunal disse que não aceitaria o processo. Ele alegou ter recebido um memorando do governo central, instruindo os juízes a não ouvir tais casos. Sang ainda disse que outro pai foi detido por um dia e alertado de que não deve conversar com jornalistas estrangeiros.
Nem o tribunal nem o Departamento de Educação da cidade quiseram fazer comentários sobre o processo.
A mídia estatal chinesa não toca no assunto desde junho. Logo após o terremoto, o governo disse que investigaria e puniria os responsáveis pela construção das escolas frágeis, mas não houve até o momento divulgação de nenhuma apuração governamental.

Má qualidade
Mais de 7.000 salas de aula desmoronaram no terremoto, que matou 70 mil pessoas. O governo não divulgou até hoje o número exato de estudantes que morreram durante a tragédia, que se tornou um foco de críticas à corrupção no Partido Comunista.
Em várias cidades de Sichuan, escolas e hospitais, feitos com materiais de má qualidade, foram os primeiros a desmoronar, enquanto prédios vizinhos ficaram em pé, como a reportagem da Folha viu em Dujiangyan durante o resgate das vítimas.
Pouco após o terremoto, a polícia começou a proibir protestos e manifestações de pais que perderam seus filhos. Em alguns casos, para receber ajuda como vítimas do terremoto, pais tiveram que assinar declarações se comprometendo a não participar de protestos e a não entrar com ações contra o Estado chinês.
O processo arquivado era contra o governo do distrito de Fuxin, o Departamento de Educação da cidade de Mianzhu, a qual pertence o distrito, o diretor da escola e a companhia que a construiu.
Cada pai contribuiu com cerca de mil yuans (R$ 350) para pagar os custos com um advogado de Xangai que se ofereceu para representá-los.
Um documentário que mostra o colapso de escolas na zona rural do norte da Província também provoca discussão e dificilmente poderá ser exibido na China.
"Quem matou nossas crianças", do diretor Pan Jianlin, só foi exibido no festival de cinema de Pusan, na Coréia do Sul. O diretor afirmou que parentes receberam ligações do governo sugerindo que ele pare já de exibir a produção.


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