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Mirando eleição, Farc podem favorecer Uribe
Analistas veem motivação eleitoral em morte de governador, mas avaliam que política linha-dura de presidente pode sair beneficiada
Ano de 2009 viu aumento de ações urbanas da guerrilha, que matou 45 agentes do Estado colombiano apenas entre meses de abril e junho
THIAGO GUIMARÃES
DA REPORTAGEM LOCAL
O sequestro seguido de morte, anteontem, de um governador na Colômbia, ação atribuída às Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) pelo governo Álvaro Uribe, marca
a tentativa da guerrilha de mostrar força após importantes
derrotas e, com isso, influir no
debate pré-eleitoral no país.
Contudo, para analistas ouvidos pela Folha, se confirmada
a participação das Farc no episódio, a ação pode ser um tiro
pela culatra, por fortalecer a
política de linha-dura contra as
guerrilhas responsável por
grande parte da aprovação de
80% a Uribe, que ambiciona,
mediante reforma constitucional, concorrer ao terceiro mandato em maio de 2010.
Anteontem, o governador do
departamento (Estado) de Caquetá (sul), Luis Francisco
Cuéllar, apareceu morto menos de 24 horas após ser sequestrado por um grupo armado. Embora as esquerdistas
Farc não tivessem assumido a
autoria do ataque até ontem, o
governo diz ter dados que confirmam essa hipótese.
O cientista político Gerson
Arias, da Fundação Ideas para
La Paz, diz que a ação das Farc
embute cálculos nacionais e locais. No plano federal, procura
enviar uma mensagem sobre
sua capacidade de ataque, 17
meses após o resgate, pelo governo, de 15 reféns das Farc,
entre eles a ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt.
Já o ingrediente local, diz
Arias, é a própria escolha do alvo: o governador Cuéllar era
objeto de três investigações por
suspeitas de ligações com grupos paramilitares de direita. E
dois dias antes do sequestro a
gestão Uribe havia promovido
uma sessão de governo itinerante em Florencia, capital de
Caquetá e local do crime. "Querem mostrar que continuam
tendo poder na região", afirma.
Para Arias, o episódio vai reduzir o espaço político de questionamentos à estratégia de
Uribe, de cunho militarista e
apoiada pelos EUA. "Hoje é
muito custoso no país discordar do presidente."
Reativação
O analista León Valencia, ex-membro do ELN (Exército de
Libertação Nacional), a debilitada segunda guerrilha de esquerda do país, vê no ataque
uma prova de fortalecimento
das Farc. "Estão superando o
auge de dificuldades que tiveram nos últimos dois anos",
afirma, citando o resgate dos
reféns e as mortes dos líderes
Manuel Marulanda e Raúl Reyes, também em 2008.
De fato, o primeiro semestre
de 2009 marca uma mudança
no confronto, com aumento de
ações urbanas das Farc. Só de
abril a junho, a guerrilha matou
45 agentes públicos. "As Farc
buscam se inserir na agenda
dos candidatos presidenciais e
chamar a atenção da opinião
pública, em outros tempos irrelevante para o grupo", diz estudo da Ideas para La Paz.
Diferentemente de Arias, Valencia diz que o atentado pode
enfraquecer Uribe. "Há setores
de classe alta, como empresários, que começam a questionar
as consequências da política."
Cita como exemplo editorial do
jornal "El Tiempo", o principal
do país, que pediu "estratégias
frescas e aprendizados necessários" na política oficial.
Carlos Velásquez, que dá aulas sobre o conflito armado na
Universidade de La Sabana, vê
um cenário intermediário: a radicalização das Farc beneficia
Uribe hoje, por justificar sua
posição intransigente, mas é
prejudicial no médio prazo
"por colocar o país em um beco
sem saída".
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