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Engajamento feminino no islã cresce e inclui violência
FREE-LANCE PARA A FOLHA
As mulheres estão cada vez
mais atuantes em movimentos islâmicos como forma de conquistar mais voz no debate político.
Na maioria das vezes, essa atuação é totalmente pacífica, mas, em
alguns casos, pode envolver ações
violentas. É o que diz o cientista
político francês Frédéric Volpi,
34, que leciona na Universidade
de Bristol (Reino Unido).
Para o estudioso, "as mulheres
conseguiram usar formas modernas, ainda que radicais, do islã político, para superar a tradição e
obter um lugar na mesa política".
Volpi é autor do livro "Islam
and Democracy" (islã e democracia), lançado em 2003 e que trata
do conflito político na Argélia.
Leia entrevista concedida à Folha
por telefone.
(HP)
Folha - Como você vê a presença
de mulheres em organizações terroristas islâmicas?
Frédéric Volpi - Parece haver um
aumento da participação das mulheres em atividades radicais islâmicas, mas ainda se trata de um
pequeno número e é difícil afirmar se representa uma tendência.
Mas as mulheres têm tido um
importante papel no renascimento do islã político, envolvendo-se
no mesmo tipo de atividade política, educacional e econômica que
os homens. A maior parte das atividades desses movimentos islâmicos é na realidade social: prestar ajuda aos menos favorecidos,
cuidar de escolas islâmicas etc.
São atividades que objetivam fortalecer os laços comunitários.
Algumas dessas pessoas, homens ou mulheres, se envolvem
com atividades mais políticas, como a organização de partidos ou
associações políticas, escrevem,
debatem e lutam por causas políticas. Fazem isso de maneira legal,
se possível, mas dado o autoritarismo estatal dos países em que
vivem, podem acabar na ilegalidade e até em atos violentos. Mas
essa é uma parte marginal dos
movimentos islâmicos, que ganha visibilidade pelo seu caráter
espetacular.
Folha - As organizações sociais islâmicas têm um papel democratizante como na América Latina?
Volpi - Têm um papel positivo
no sentido de que dão voz às pessoas e as fortalecem politicamente. Mas a maioria dos grupos islâmicos discorda do modelo da democracia liberal ocidental. Lutam
por eleições, mas querem impor
um contrato social islâmico que
mantenha as diferenças entre homens e mulheres, os códigos de
vestimentas, e não permita o álcool, por exemplo. O Irã seria um
exemplo dessa democracia islâmica. No Ocidente, isso não seria
considerado uma democracia.
Agora, se estamos falando de
democracia como algo que dá voz
ao povo, então as pessoas que deveriam estar no comando são as
desses movimentos, pelo fato matemático de que elas são mais numerosas nos movimentos sociais
do que a elite ocidentalizada e os
que apóiam os regimes não-democráticos do mundo islâmico.
É bem provável que a democracia favoreça os movimentos islâmicos moderados na maior parte
dos países islâmicos.
Folha - E como se explica a opção
pela violência de vários movimentos islâmicos?
VolpiO autoritarismo do Estado
acaba dando uma justificativa para a violência dos movimentos islâmicos, mas com uma oposição
violenta esses regimes não podem
se abrir sem correr sérios riscos.
Então, cria-se um impasse.
Folha - Nesse xadrez político, onde as mulheres se encaixam?
Volpi - Tradicionalmente, as
mulheres não tiveram papel importante na política e em movimentos sociais no islã. Através do
islã político, que é uma versão
moderna do islã, que está reinventando o islã para o mundo
moderno, as mulheres conseguiram ter voz no debate político.
Nos últimos 20 anos, as mulheres têm estado cada vez mais ativas no mundo islâmico como atores políticos e sociais. Conseguiram usar formas modernas, ainda
que radicais, do islã político, para
superar a tradição e obter um lugar na mesa política. Pode-se ver a
participação das mulheres em atividades violentas hoje como a
conseqüência lógica de sua nova
condição mais atuante. Nesse ativismo islâmico, as mulheres devem se comportar de acordo com
o islã, mas ganham força política
na medida em que participam
dessa reinvenção do islã.
Folha - E as mulheres que não
aceitam esse islã político?
Volpi - Há mulheres que querem
fazer parte de uma democracia liberal e secular, e aí há um grande
choque. Essas mulheres são alvo
dos movimentos islâmicos, pois
são vistas como um péssimo
exemplo de como uma mulher
deve se comportar, e também dos
governos autoritários. Ela ficam
num fogo cruzado. Mas é preciso
dizer que as mulheres que apóiam
o movimento islâmico são muito
mais numerosas do que a elite
ocidentalizada e liberal, que é apenas isso: uma elite.
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