São Paulo, quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

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Senadores votam repúdio a plano de Bush

Horas depois do discurso do presidente, comissão do Senado aprova moção contrária a aumento de tropas no Iraque

Iniciativa é bipartidária; aumenta o número de republicanos que se opõem à proposta defendida outra vez por Bush na terça-feira

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Nem bem Washington acabava de digerir o discurso tíbio de George W. Bush de terça à noite, em que o presidente norte-americano se isolou ainda mais da opinião pública e de sua base de apoio ao insistir na defesa do aumento do número de tropas no Iraque, o Congresso contra-atacou com resolução que condena o plano do republicano.
No fim da tarde de ontem, a Comissão de Relações Exteriores do Senado aprovou moção de repúdio à proposta de Bush, uma iniciativa incomum em tempos de guerra. Segundo o texto da resolução, que não tem força de lei e ainda passará pelo plenário, mas serve como um termômetro da oposição cada vez maior que o plano enfrenta, a decisão do presidente "não serve aos interesses nacionais".
A proposta foi aprovada por 12 votos a 9, sendo 11 de democratas. "É melhor que estejamos muito seguros, todos nós, antes de mandar mais 22 mil americanos para aquele moedor", disse o senador republicano Chuck Hagel, referindo-se ao Iraque. "Não estamos tentando envergonhar o presidente", fez coro o democrata Joseph Biden, presidente da comissão, "mas evitar que ele cometa um erro significativo".
A resolução chega horas depois de Bush ter pedido no mesmo Congresso, durante o discurso anual "O Estado da União", que os políticos esqueçam as divisões partidárias e "dêem uma chance" ao seu plano. As divisões foram superadas, mas não da maneira que o presidente previa. Embora apenas um republicano do comitê tenha votado a favor da resolução, cresce o número de políticos da situação que começam a expressar dúvidas em relação às intenções de Bush.

Republicanos
"Não estou confiante de que o plano do presidente vai ser bem-sucedido", disse Richard Lugar. Como Hagel, outros oito senadores, do total de 49 do partido governista, expressaram desejo de votar em medidas que restrinjam de alguma maneira a autoridade de Bush na condução da guerra.
A reação dos senadores é a parte mais evidente de um sentimento mais ou menos geral no Capitólio: de crítica às propostas defendidas por Bush na noite de terça, pelo menos no campo da política externa. O presidente tentou desviar as atenções, gastando mais da metade dos 50 minutos de seu discurso com questões domésticas e tocando no tema da guerra apenas na sétima das dez páginas do texto. Foi o suficiente.
O cerne da réplica democrata, exibida logo após o discurso e defendida pelo senador conservador Jim Webb, foi a guerra. Nos nove minutos em que falou às câmeras, o ex-marine foi áspero nas palavras. "Precisamos de uma nova direção" na condução da guerra, disse, depois de chamar o presidente de "imprudente" e dizer que o conflito foi "mal conduzido por quatro anos".
Terminou lembrando Bush de Theodore Roosevelt (1901-1909) e Dwight Eisenhower (1953-1961). "Esses presidentes tomaram as ações corretas em benefício do povo americano e da saúde de nossas relações internacionais", disse Webb. "Nessa noite, exortamos esse presidente a agir de maneira semelhante em ambas as áreas. Se fizer isso, o seguiremos. Se não, mostraremos a ele o caminho."

Casa Branca responde
Ontem, em entrevista gravada que seria exibida à noite pela CNN, o vice-presidente Dick Cheney partiu para a tréplica. Depois de dizer que acreditava que o terrorista saudita Osama bin Laden ainda estava vivo, disse que mesmo assim os Estados Unidos "causaram muito dano" à liderança da Al Qaeda.
O republicano negou que a Guerra do Iraque tenha afastado o foco dos EUA do que realmente importava, manter o Afeganistão livre dos talebans e capturar Bin Laden. "Nós conseguimos fazer mais do que uma coisa ao mesmo tempo."


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