São Paulo, quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

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Líbano deve receber hoje US$ 5 bi

Conferência em Paris procura reforçar a autoridade do premiê Siniora, contestada pelo Hizbollah

Serão 35 países, entre eles o Brasil, que mobilizarão recursos para a reconstrução do país; objetivo é evitar a ingerência do Irã e da Síria

Ousama Ayoub/France Presse
Milhares de libaneses seguem o féretro de Bilal Howaiek, partidário do governo morto durante a greve geral de anteontem, que pedia a renúncia do premiê Siniora

DA REDAÇÃO

O primeiro-ministro libanês, Fuad Siniora, poderá obter, em conferência de doadores a ser aberta hoje em Paris, empréstimos de US$ 5 bilhões para a reconstrução do país e para abater uma parcela da dívida externa que imobiliza seu governo.
A conferência, convocada pelo presidente francês, Jacques Chirac -que prometeu emprestar US$ 650 milhões-, ocorre em meio ao recrudescimento das pressões pela renúncia do premiê, que é muçulmano sunita, e para que os xiitas do grupo radical Hizbollah, apoiado pela Síria e pelo Irã, tenham mais espaço local.
Os confrontos de rua entre partidários e adversários do governo deixaram anteontem em Beirute um saldo de três mortos e 173 feridos, 48 deles por armas de fogo, disse a polícia.
Novos incidentes ocorreram ontem em Trípoli, a segunda maior cidade libanesa, com tiroteios entre grupos rivais, desencadeados durante funerais de uma das vítimas da véspera. Há um ferido.
A Reuters informa que a Arábia Saudita, que apóia os sunitas, e o Irã, que apóia o Hizbollah, estão negociando um acordo para impedir que a atual onda de violência se transforme numa nova guerra civil.
A oposição a Siniora -da qual também participa uma parcela dos cristãos, liderados por Michel Aoun- ganhou fôlego pelos efeitos negativos de um pacote fiscal do governo, que aumentou os impostos indiretos e assim prejudicou os mais pobres, sobretudo xiitas.
É nesse quadro político e econômico que o premiê libanês, acusado pela oposição de pró-americano e condescendente com Israel, procura obter em Paris recursos que evitem a bancarrota de seu país.
A conferência de doadores terá a participação de 35 países ocidentais e árabes do Golfo. Estarão presentes a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, e o presidente da Comissão Européia, José Manuel Barroso.
Depois de ser recebido ontem por Chirac, Siniora afirmou que "o custo da ajuda ao Líbano, mesmo se aparentemente elevado, será bem menor que o custo de não ajudar o Líbano", numa referência indireta à instabilidade em todo o Oriente Médio que sua possível queda provocaria. O país tem uma dívida externa de US$ 40,5 bilhões (enorme, para 3,8 milhões de habitantes), equivalente a quase dois anos do PIB.
Há também o financiamento da reconstrução dos estragos provocados no ano passado pela guerra de 34 dias entre o Hizbollah e forças israelenses.
Conferência anterior de doadores, em agosto último, arrecadou US$ 1 bilhão em Estocolmo, Suécia. Antes disso, países aliados haviam se encontrado em Paris, em 1998, também para doações, em razão das dificuldades de reconstrução da infra-estrutura comprometida pela Guerra Civil (1975-1990).
Além da França, da qual o Líbano já foi um protetorado, comprometeram-se desta vez a União Européia, com US$ 522 milhões, Estados Unidos, com possivelmente US$ 230 milhões, Reino Unido, com US$ 40 milhões, e a Dinamarca, com US$ 3,5 milhões.
O Brasil, que já havia emprestado ao Líbano US$ 500 mil no ano passado, fará um aporte adicional de US$ 1 milhão. A delegação brasileira, a única latino-americana a ser convidada pelo governo francês, é chefiada pelo chanceler Celso Amorim.
Em termos políticos, a conferência preserva Fuad Siniora como interlocutor único de um país excepcionalmente dividido, por questões políticas e confessionais, e no qual o Irã e a Síria também exercem demasiada influência.


Com agências internacionais


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